A época de Natal era, e ainda é, para mim uma das épocas mais bonitas do ano.
Vivi numa aldeia até aos vinte e três anos e recordo com saudade os natais ali passados. Ainda hoje tenho na minha memória os montes cheios de geada (ou neve), o cheiro da terra molhada e, logo pela manhãzinha, cheirava a lenha queimada… que saudades!
Era, e é, um tempo de família.
Não foram tempos fáceis. Havia muita pobreza mas o Natal daquela época era vivido como a época em que nasceu Jesus e não naquilo que se tornou hoje, época de consumismo e de correrias para as lojas. No entanto, seja no passado ou nos tempos actuais o Natal é uma época muito especial.
Bem, lembro-me do natal na minha terra:
A preparação do Natal começava com alguma antecedência. Como não havia dinheiro para comprar as figuras do presépio, tudo era feito por mim e pelos meus irmãos. Ia-mos ao campo apanhar o musgo, a cabana era feita de paus revestidos de palha de centeio. O São José, a Nossa Senhora, o Menino Jesus, a vaquinha e o burrito eram feitos com muito cuidado e normalmente eram representados por bonecos feitos de tecido e pintados com os nossos lápis da escola. As casas eram feitas com pedras pequenas, pintadas de cal branca e decoradas com pedacinhos de paus, as ovelhas com lã que tirava-mos das ovelhas que pastávamos ao longo do ano. Já a igreja era simbolizada por uma cruz feita com paus, o moleiro e os figurantes com boneco de trapos. Os meus irmãos e o meu pai iam cortar um pinheiro para a árvore de natal que era enfeitada com tiras de tecido que eu e a minha mãe cortávamos de trapos velhos, fazíamos um grande novelo e depois andava-mos a volta da árvore a enfeitá-la. Como os panos tinham várias cores ficava muito bonita, pendurávamos imagens de papel feitas por nós.
Na noite de natal, vestia-mos uma roupa melhor (a roupa de domingo) e jantávamos as batatas com couves, ovos e bacalhau (este era só quando havia). Depois, por volta da meia-noite, íamos à missa do galo. Mas como a igreja era na vila de Góis, que ficava a 4 Km, e íamos normalmente a pé, tínhamos de sair de casa uma hora mais cedo para chegar lá à meia noite, regressávamos e junto à lareira deixávamos os nossos sapatos para o menino Jesus vir deixar uma prendinha.
No dia de Natal acordávamos cedo. Apesar de pobres, o nosso menino Jesus deixava o que podia dentro das nossas botas de borracha (imaginem que nós deixávamos as botas de borracha porque tinham um cano mais alto e cabia uma prenda maior). Uma prenda simples como umas meias ou uma camisola davam-nos toda a felicidade do mundo.
Escrito por Eugénia Santa Cruz, do blog Cortecega - Notícias da Minha Terra
A versão completa do texto encontra-se no respectivo blog.
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Gostei deste texto. Um Natal comum a muita gente de outros tempos. Eu nunca fiz um presépio, e ficava de olhos arregalados a ver o presépio na igreja.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
Olá, Eugénia!
ResponderEliminarPois, era assim o Natal! E, depois, chamam-nos nostálgicos.
Mas, vá-se lá dar, a um menino de agora, uma dessas simples prendas!
As consolas, a roupa de marca e tudo o mais que as suas cabeças sonham lá vão sendo dadas aos meninos! Só a alguns, claro, porque continua a haver muitos (cada vez mais) que nem sabem se há Natal!
Tenha um Santo Natal,
João Celorico
Eugénia
ResponderEliminarApesar de ter as minhas raízes numa região próxima da sua, era em Lisboa que passava o Natal. O seu Natal era idêntico ao que a minha mãe contava, só que ela não tinha árvore nem presépio, pois os tecidos eram aproveitados para fazer mantas de fitas.Havia sim um tronco de Natal a arder no adro da capela, em redor do qual, os habitantes da aldeia se juntavam em confraternização.
Tenha um feliz Natal.
Beijinhos
Eugénia esse é o Natal de muitos de nós...
ResponderEliminarÉ até comovente lembrar a forma como o preparávamos...a sociedade de consumo veio ditar as suas regras.
Resta-nos o consolo de que "o Natal é quando um homem quiser"
Boas festas solidárias
Alcinda
Queridos amigos:
ResponderEliminarO resto deste conto de Natal encontra-se no blog mencionado no final deste texto, pois ultrapassava as 35 linhas e teve de terminar. Quem quiser ler o resto é só clicar no blog Cortecega Noticias da minha terra.
E para amiga Lourdes aí poderá recordar a festa feita em Redol do tronco de Natal que se colocava a arder na Noite de Natal e durava até ao dia de Reis.
Um beijo para todos e obrigada pelos comentários.
Bom Natal a Todos
Eugenia Cruz
Felizmente eduquei (e somos nós que educamos ...ou não!) as minhas filhas a dar valor às coisas simples. Para elas umas cuecas, umas luvas ou umas meias fazem festança!
ResponderEliminarEste ano ofereço livros e cachecóis e mais nada.
Brinquedos que em tempos ofereci foram muito simples e nada caros, mesmo nada.
Gostei muito deste texto.
Feliz Natal Eugénia.
Olá!
ResponderEliminarUm texto fantástico.Bom,eu sou da geração Natal consumista,infelizmente.Mas acho que nós próprios fazemos o Natal,e como bem escreve a menina Alcinda,tudo depende como educamos as nossas crianças,tudo depende como lhes explicamos as coisas.Não tenho filhos,mas considero o filho duma grande amiga minha,um grande amigo de 7 anitos :) Este ano,decidi oferecer-lhe um jogo,mas nao um de consola,não.Um educativo onde com sílabas,temos de puxar pela cabeça e encontrar palavras.Ao menos,servirá para a aprendizagem dele.E mesmo que fossem cuecas ou meias,ele ficava contente :) Para mim,até um simples postal me faz feliz :)
Feliz Natal
Jocas
Lena
Feliz Natal, com as recordações do passado e a realidade de agora...
ResponderEliminarOlá Eugénia!
ResponderEliminarLi atentamente o seu texto, achei fantástico, Em primeiro prima pela singeleza,com uma veracidade tal que me fêz recuar no tempo, Recordando o tempo de meninice. Tempos esses que recordo com saudade,sem prendas no sapato, mas em harmonia familiar, cheio de alegria com muito amor e carinho. Com um almoço melhorado em dia de natal, Couve portuguesa da horta cozida com uns belos nacos de carne de porco tirados da salgadeira, de uma matança de porco ainda recente e uns chouriços que muitas vezes ainda eram tirados do fumeiro onde estavam
a receber a cura, e confeccionados pela matriarca da família com receita herdada dos antepassados.Que maravilha, aquelas filhós que eram estendidas sobre um pano branco colocado em cima do joelho, "cuscureis"as rabanadas.Que sabor! hummmm. Hoje já não há.
Todas estas recordações já são do passado.
A minha maior alegria è neste momento estar a escrever este comentário sentado em frente á minha lareira em Góis e a sentir o cheirinho da lenha que arde e minimiza uma temperatura da rua que há pouco tempo era de 1 grau negativo.
parabens amiga escolheu um texto maravilhoso, muito bem contado, com todos os pormenores.
Gostei muito.
Abraço
Acacio
Com os votos de Santo e Feliz Natal, aqui lhe deixo um poema de David Mourão-Ferreira.
ResponderEliminarPRELÚDIO DE NATAL
Tudo principiava
pela cúmplice neblina
que vinha perfumada
de lenha e tangerinas
Só depois se rasgava
a primeira cortina
E dispersa e dourada
no palco das vitrinas
a festa começava
entre odor a resina
e gosto a noz-moscada
e vozes femininas
A cidade ficava
sob a luz vespertina
pelas montras cercada
de paisagens alpinas
João Celorico
Obrigada amigos pelos vossos comentários: é sempre agradável saber que gostaram, mas as criticas também são bem vindas pois elas fazem-nos reflectir.
ResponderEliminarMas realmente este era o meu natal em criança.
Continuem a votar, pois é por uma boa causa.
Feliz Ano Novo.
Eugernia Cruz