.. era um tempo mágico
.. as últimas semanas do mês de Novembro eram tempos mágicos!
Da despensa da avó saíam como que por milagre uma série de pequenas cestas de verga. Cestas com um cheio característico. O cheiro do Natal.
E todos os anos, por esta altura, ela esforçava-se por decifrar de onde vinha aquele brilho, aquela neve assim que as cestas eram colocadas no chão da cozinha.
Convenientemente embrulhadas em papel pardo ou de jornal, as pequenas figuras de gesso, pintadas à mão, preparavam-se para tomar os seus lugares no presépio forrado a musgo apanhado no quintal. Um presépio decorado com pinhas, folhas amarelas secas dentro dos livros, uma prata amachucada e depois alisada que fazia de rio, pequenas ovelhas, pastores, meninos e meninas de prendas na mão, os Reis Magos, camelos e vacas e burros e ovelhas e a “casa” do Menino Jesus.
Era com um cuidado ensinado e ensaiado e quase de respiração suspensa que se desembrulhava a pequena manjedoura, o Menino e seus Pais, aquela vaca e aquele burro que tinham honras de, com o seu bafo quente, aquecerem a figura do pequeno bebé envolto num pano branco.
Era um fim-de-semana de alegria antecipada, a decoração da casa levava um dia inteiro, com estrelas brilhantes feitas de papel e fitas de todas as cores a pender das portas. Na entrada principal uma grande coroa feita por ela com a ajuda da avó em pequenas e delicadas folhas verdes, pintalgada de vermelho e branco, dava as Boas-Festas aos visitantes. A vela acendia-se perto do presépio e assim ficava até à noite do dia 24 de Dezembro por altura do nascimento do Menino. Não havia Pai Natal, a expressão era-lhe então desconhecida. As compras eram feitas em conjunto, grandes sacos e papel de embrulho para que em casa, uns dias antes do grande dia, serem todas embrulhadas com etiquetas personalizadas. Os desenhos no papel pardo de sua autoria e a avó comprava grandes rolos de ráfia para fazer laços e prender os embrulhos cuidadosamente. Avolumavam-se junto à árvore de Natal e ela sabia de cor para quem era cada um deles.
Eram tempos diferentes, sem dúvida.
A alegria da surpresa só ultrapassada pelo pequeno-almoço copioso com direito a plum-pudding no dia 25 de Dezembro, quando, ainda meio estremunhada e de camisa de noite às avessas, chegava à sala e via as suas próprias prendas por abrir. Tempos em que tudo tinha o cheiro da castanha assada, das filhós a fritar, das fatias douradas carregadas de açúcar, do bacalhau que até se comia com gosto na consoada, e dos tachos ao lume, carregados de couve e batata, a gotejar perante o “desespero” alegre da avó. … tempo de férias e de celebração.
Tempo da Missa do Galo à meia-noite em ponto, casacos grossos, cachecóis e gorros de lã, e o beijinho no pé do bebé que tinha acabado de nascer para salvar os homens dos homens.Tempo de Natal.
Escrito por Catarina Price Galvão, do blogue Once
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Parabéns pelo texto...consegui ver o presépio e toda a decoração e sentir os cheiros desse Natal como se estivesse lá!!
ResponderEliminarFeliz Natal!!
Outros tempos e outros Natais que sempre se recordam com saudade, verdade?
ResponderEliminarAté nessa altura era seguro beijar o pézinho do menino Jesus. Este ano parece que é proibido, ele pode ter gripe A, lol...
Um Bom Natal e Festas Felizes!
Cristina
Aldina Obrigada :)) Feliz Natal para si também *
ResponderEliminarCristina, como bem diz hoje em dia há tanta coisa proibida em nome da saúde que nem sei como sobrevivemos ;) Festas Felizes *
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Um aparte que se impõe foi o ter-me esquecido de atribuir uma autoria à fotografia que não é minha, e foi "indecentemente" "roubada" na internet ;)
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Um bonito texto, que facilmente nos transporta à magia do Natal da nossa infância, tão diferente do que se vive hoje.
ResponderEliminarjinhos
Lindo texto que me trouxe à lembrança outros Natais que fazem parte da minha infância. Era um tempo em que a tradição suplantava o consumismo...
ResponderEliminarBeijinhos
Obrigada Pascoalita e M. Lourdes :)) acho que está na nossa mão fazer renascer as memórias em que "o mais importante é a familia" *
ResponderEliminarBeijinhos
Catarina
Excelente texto que nos faz recuar no tempo, tempo que recordo com saudade. Depois com uma descrição fantastica em que me parece que nada ficou esquecido em relação ao Natal. Os meus mais sinceros parabéns.
ResponderEliminarUm abraço
Acacio
Acácio, Muito Obrigada :) e Boas Festas *
ResponderEliminarPois é, as memórias de outros tempos aparecem-nos douradas por uma nostalgia e marcados por uma consciência de que são irrepetíveis.
ResponderEliminarAs tradições natalícias que ficaram na nossa lembrança não são muito diferentes. Reconheço na sua descrição alguns dos rituais que se faziam na casa dos meus pais. Uma diferença: a árvore de Natal de que não tenho qualquer memória.
Bom Natal!
Catarina
ResponderEliminarEssas memórias das avós e da afectividade que elas acrescentam nas famílias são reconfortantes pela nossa vida fora.
Algo do seu texto me transportou para a minha infância...
Festas felizes e solidárias
Bjs
Alcinda
Olá Catarina!
ResponderEliminarNão sou muito velha,lol,(29aninhos),mas sempre que leio os teus textos,sinto-me transportada para quando tinha 5-6 anos ou para um ambiente aconchegante,caloroso e com toda a família juntos.É muito bonito.Ah,quem me dera que já fosse dia 23,dia em que chegam meus papás emigrados em França :)
Boas Festas,amiga!
Jocas gordas
Lena
Júlia sem dúvida que as memórias que tenho hoje do que vivi e senti estão devidamente abrilhantadas por essa "sapiência" que a vida nos dá :))
ResponderEliminarBeijinho de Boas Festas *
Alcinda, eu que infelizmente não conheci os meus Avôs, vivi rodeada de duas avós que mais afectivas não poderiam ter sido :)
* Boas Festas *
Querida Lena, tens muitos menos que eu ;)) Obrigada pelas tuas palavras * e desejo-te do fundo do coração um doce reencontro e que tenham tempo para acalmar a saudade :)
ResponderEliminarBeijinho de Boas Festas *
Lembrei-me ds meus Natais de infância, quando em casa dos meus tios, em que parecia ser mais Natal porque havia muita gente, e toda a gente conspirava para haver uma magia no ar que hoje até se chega a duvidar que tenha chegado a existir. Com textos assim, deixa-se de ter dúvidas...
ResponderEliminarBeijinho,
Boas Festas,
Muita Magia
J. my friend :) Obrigada * Pó de magia para todos Vós também, e Festas Muito Boas *
ResponderEliminarPalavras para quê?
ResponderEliminarÉ uma bela descrição dum Natal, vivido e sentido, o que já vai sendo raro nos tempos que correm.
João Celorico
Olá Catarina!
ResponderEliminarPara quem como eu é - também - ainda do tempo em que o Natal estava associado ao Menino Jesus, e não ao Pai Natal, é fácil encontrar o caminho que nos convida a percorrer, fazendo-nos voltar atrás no tempo. O Natal tinha, então, mais a ver com simplicidade, coisas boas e saborosas, feitas com muito amor. O Pai Natal - associado à comercialização da data - ainda cá não tinha chegado; tudo era mais genuino, com menos ostentação ... e menos esbanjamento. Mas, para quem agora é criança,e estas considerações não se pôem, o Natal continuará a ser a mesma festa de sempre, envolta em magia e encanto, que só a inocência é capaz de criar.
Parabéns. boa sorte, e bom Natal
Pois ... era um tempo mágico, sim!
ResponderEliminarMas aqui a CUSCA vivia com o coraçãozinho apertado, com receio que aquele menino com poderes sobrenaturais, deitado nas palhinhas, lhe descobrisse a careca, revelando a todo o mundo os "pecados" que tanto trabalho lhe dava omitir nas visitas ao confessionário do senhor prior ihihih
Bonito texto ... Feliz Natal
dentadinhas (nas filhós e no cabrito ihihihih)
Obrigada João :)) Boas Festas *
ResponderEliminarCaro Vítor, para as crianças de agora é tudo tão diferente que por vezes me sinto (a parte criança em mim ;) a viver em outro planeta *
Cusca Querida .. nem vou por aí ..! um dia conto um dos maiores sustos que apanhei quando quis esconder o que estava à vista de todos (risos)
A mesa está quase posta * Um beijinho de Feliz Natal :)
Gostei do texto. Das suas lembranças de Natal. Quando eu era menina, todos os anos ia com meus irmãos à missa ao Barreiro no dia de Natal. E íamos olhando encantados as montras e depois ficávamos extasiados diante do presépio. Nós nunca tivemos presépio. Nem filhós. Não sei se porque a minha mãe não sabia fazer, ou porque não tinha os ingredientes, ou quem sabe as duas coisas.
ResponderEliminarMinha mãe fazia rabanadas. Fatias de pão demolhadas em vinho branco com açúcar, e envoltas em ovo.
Um abraço
Obrigada Elvira :)) *
ResponderEliminarFestas Felizes
Igualmente Pandora :)
ResponderEliminarCom os votos de Santo e Feliz Natal aqui lhe deixo um poema de Miguel Torga.
ResponderEliminarNinguém o viu nascer.
Mas todos acreditam
Que nasceu.
É um menino e é Deus.
Na Páscoa vai morrer, já homem,
Porque entretanto cresceu
E recebeu
A missão singular
De carregar a cruz da nossa redenção.
Agora, nos cueiros da imaginação,
Sorri apenas
A quem vem,
Enquanto a Mãe,
Também
Imaginada,
Com ele ao colo,
Se enternece
E enternece
Os corações,
Cúmplice do milagre, que acontece
Todos os anos e em todas as nações.
João Celorico
Obrigada João :))
ResponderEliminarFestas Felizes *
levaste-me lá, minha amiga! lindo o teu natal
ResponderEliminarbeijos! :)
Obrigada Minha Amiga * :)
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