(imagem tirada da Internet)
O Natal é quando, em puro gesto de oferenda se diz: "Ó cachopa, vai lá ao meu quintal e leva uns baldes. Há por lá tanto tomate e pimento que não consumo aquilo tudo. Apanha para comer e congelar. Vai também às couves!"; ou quando se vai às "coirelas"e se apanham os melhores frutos e legumes para deixar na casa de uma amigo ou conhecido, pois a fartura é muita e deseja-se partilhar; ou quando se faz um bom queijo de leite de ovelha e cabra e se o oferece a alguém que não teria outra oportunidade de provar aquela iguaria caseira e natural; também quando nos lembramos de gente escarninha que nada nos merece, e desejamos que tenha plácidos dias; ou quando há festejos e levamos um pratinho com todos os doces à vizinha que nos acarinha; ou ainda quando oferecemos o melhor sorriso e bom dia a quem quer que seja; ou quando nos desdobramos para fazer o melhor em qualquer causa, vestindo essa camisola, como se não houvesse outra. É Natal sobretudo quando seguro e encho o colo com os meus filhos que não possuo...
Bom Natal para todos!
Escrito por Luciana Serra, do blog De pedra e cal
A versão completa do texto encontra-se no respectivo blog.
Se gostou deste texto, vote nele simbolicamente de 28 a 31 de Dezembro.
A proximidade do Natal, na minha terra, cheira a "cachiço" que desde a vindima fermenta para agora, misturado com o cheiro da madeira mais dura, arder no alambique que o transforma na cáustica aguardente; é o seu cheiro acre que inunda quem passa pelas ruas de xisto e que se mistura com o cheiro das hortas cuja terra a chuva molhou. É Natal quando as árvores despidas ou amarelecidas da aldeia lhe dão um tom invernal que apela a fumos de lareiras e algum aconchego. É Natal quando nas casas de famílias numerosas se ouve o chocalhar alegre das vozes reunidas que comungam dos comeres e doces típicos da quadra. É um Natal mais terno o das famílias pequenas que já viram partir os crescidos, os velhos, chorados interiormente, por entre sorrisos de festividade. É Natal na minha terra quando as fragas já escorregam de tanta chuva receberem, de regatos e ribeiros que lhe passam por cima e onde o musgo, à volta, verdinho, pede para ser recolhido e adornar o presépio sagrado. O Natal na minha terra cheira a pinheiros ardidos nas lareiras e a molhos de alecrim e oliveira bentos no domingo de ramos anterior. Cheiraria a rosmaninho e a fogueirão se o Deus Menino se tivesse lembrado de cá nascer, no nosso Verão, ou a castanhas assadas ou mosto, se o fora no Outono. Aproveitaria ainda as chuvas após grande calor, que deixa a terra a terra e a floresta espirrarem o seu aroma molhado, como não há igual.
O Natal é quando, em puro gesto de oferenda se diz: "Ó cachopa, vai lá ao meu quintal e leva uns baldes. Há por lá tanto tomate e pimento que não consumo aquilo tudo. Apanha para comer e congelar. Vai também às couves!"; ou quando se vai às "coirelas"e se apanham os melhores frutos e legumes para deixar na casa de uma amigo ou conhecido, pois a fartura é muita e deseja-se partilhar; ou quando se faz um bom queijo de leite de ovelha e cabra e se o oferece a alguém que não teria outra oportunidade de provar aquela iguaria caseira e natural; também quando nos lembramos de gente escarninha que nada nos merece, e desejamos que tenha plácidos dias; ou quando há festejos e levamos um pratinho com todos os doces à vizinha que nos acarinha; ou ainda quando oferecemos o melhor sorriso e bom dia a quem quer que seja; ou quando nos desdobramos para fazer o melhor em qualquer causa, vestindo essa camisola, como se não houvesse outra. É Natal sobretudo quando seguro e encho o colo com os meus filhos que não possuo...
Bom Natal para todos!
Escrito por Luciana Serra, do blog De pedra e cal
A versão completa do texto encontra-se no respectivo blog.
Se gostou deste texto, vote nele simbolicamente de 28 a 31 de Dezembro.
Luciana
ResponderEliminarAdorei o seu texto e, por momentos, imaginei um Natal na serra do Açor. Muitos termos, muitos costumes são-me familiares e não resisti a ir atrás do final do texto. Muito bom.
Feliz Natal em qualquer dia do ano.
Beijinhos
Amiga Luciana,
ResponderEliminarDesculpa mas eu trato toda a gente assim, se não é ainda amiga, será:)))
O seu texto cheira todo ele a Natal, está precioso.
Parabéns.
Beijinhos
Ná
Olá!
ResponderEliminarIsto, é Natal!
PARABÉNS!!!
João Celorico
Luciana gostei muito do seu texto que denota um grande amor pela sua terra e também um sentimento forte pelo Natal.
ResponderEliminarEnfim vejo fortes laços, raízes profundas...
Bom Natal
Bjo
Alcinda
Eh pá adorei este texto!
ResponderEliminarMuitos parabéns.
Olá!
ResponderEliminarÉ um texto puro e muito verdadeiro.Sentimos toda a emoção, a realidade do Natal e do que deveria ser.
Gostei mesmo muito.
Jocas gordas para a Luciana
Lena
Olá Luciana!
ResponderEliminarQue texto maravilhoso! Não posso deixar de o comentar e dar-lhe os parabéns. Enquanto o estava a ler estive sempre com a minha memória a recordar a aldeia onde nasci, Cortecega.
Fiquei por momentos parada nos meus tempos de criança e juventude. Fez-me lembrar a dádiva do povo que ainda hoje reparte com o vizinho as coisas da sua horta ou um bocadinho de queijo de cabra com broa. Enfim, por momentos recuei a estes tempos remotos com muita saudade.
Feliz Natal.
Eugenia Santa Cruz
Olá Luciana!
ResponderEliminarO seu texto fez-me recuar no tempo e transportar-me até à minha aldeia nos meus tempos de menino onde as pessoas repartiam entre si os poucos bens que produziam nas suas hortas.
Bom texto, gostei
Um abraço
Acacio
Bela descrição! Consegue-se visualizar os ambientes que descreve.
ResponderEliminarBom Natal!
Feliz Natal
ResponderEliminar(pela Isabela)
Beijos
Com os votos de Santo e Feliz Natal, aqui deixo um poema de José Régio.
ResponderEliminarLITANIA DO NATAL
A noite fora longa, escura, fria.
Ai noites de Natal que dáveis luz,
Que sombra dessa luz nos alumia?
Vim a mim dum mau sono, e disse: «Meu Jesus…»
Sem bem saber, sequer, porque o dizia.
E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
Na cama em que jazia,
De joelhos me pus
E as mãos erguia.
Comigo repetia: «Meu Jesus…»
Que então me recordei do santo dia.
E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
Ai dias de Natal a transbordar de luz,
Onde a vossa alegria?
Todo o dia eu gemia: «Meu Jesus…»
E a tarde descaiu, lenta e sombria.
E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
De novo a noite, longa, escura, fria,
Sobre a terra caiu, como um capuz
Que a engolia.
Deitando-me de novo, eu disse: «Meu Jesus…»
E assim, mais uma vez, Jesus nascia.
João Celorico