domingo, 13 de dezembro de 2009

O NATAL NA MINHA TERRA


A vida tem sempre algumas contradições que são engraçadas. Sempre adorei a quadra festiva do Natal e muitas vezes tive grandes decepções nesta época. Talvez porque sonhe com coisas que não são comuns a todos nós.
É uma quadra que desde criança sempre senti ter uma magia muita grande para mim, sinto-a no ar talvez por criar grandes expectativas embrenhar-me em recordações, talvez porque sinto as coisas de maneira diferente das pessoas que me rodeiam, isto conduz-me a um estado de tristeza e nostalgia. O espírito do Natal deu lugar a um espírito de consumo cinismo e hipocrisia
Famílias inteiras sentam-se à mesa, trocam presentes, sorriem, com aquela alegria falsa e cheia de hipocrisia, como se durante todo o ano, ou toda a vida tivessem mantido entre si o espírito de família.Na minha mesa da consoada as cadeiras têm sido ocupadas por cada vez um número menor de pessoas. Uns já faleceram e deixam uma enorme saudade, outros afastaram-se e deixam um, misto de saudade e alívio, outros há que querem impor a sua presença mas por motivos que sabemos não ser os mais desejados outros serão ou não, mas com um espírito diferente do meu. Talvez por obrigação, ou só por respeito a alguns membros da família. Esse não é o conceito que eu gostaria que fosse o do Natal. Tantas vezes se diz que o Natal é sempre que nós o quisermos. Será? Por onde anda o espírito de família? A partilha do bom e do mau, a cumplicidade, a união, o espírito de entreajuda, o respeito mútuo. Certas quadras não deveriam existir, não por aquilo que representam, mas por aquilo que nos fazem acreditar que são.
Mas têm de existir mesmo, para que possamos reflectir sobre muita coisa. Para que tenhamos a oportunidade de mudar o que nos magoa. Para que deste modo possamos dar mais uns passinhos, por muito pequeninos que sejam, em direcção a um bem muito maior, que é o bem-estar da humanidade. Talvez ao sentirmos o afastamento da família ou o espírito da família nesta quadra de Natal, nos leve a meditar e a alargar os horizontes e a pensar que todos na terra deviam viver unidos por esse espírito. Se existem tantas famílias que não se dão bem como podemos querer a paz no mundo. O melhor será começarmos pela nossa família já que não conseguimos mudar o mundo, peço a Deus que nesta quadra nos ajude a manter o espírito de família, nesta ínfima célula a que está reduzida a minha família e que esse espírito vá passando de geração em geração. No Natal reaprende-se o verdadeiro significado de estar em família, de ouvir aquela voz que já não se ouve há muito ou o receber uma lembrança de alguém improvável.
*
Escrito por Acácio Moreira, do blog Carvalhal do Sapo
***
Se gostou deste texto, vote nele simbolicamente de 28 a 31 de Dezembro.

10 comentários:

  1. Olá Acácio!
    Pois,tem uma certa razão.E é por causa dessa hipocrisia e tudo,que aqui em casa,só somos 3 a passar o Natal e passamos muito bem:eu,pai,mae (+ gata e cadela) e corre tudo bem,alegria,ternura,mimos,comemos alegres,vemos TV,trocamos presentes,vamos a Missa do Galo,bebemos chá,...tudo em paz e harmonia.No dia seguinte,visitamos as pessoas de quem gostamos.

    Jocas gordas
    Lena

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  2. Acácio, muito realista o seu texto. Aqui temos a diferença entre o mito criado (será que alguma vez existiu?) e a realidade.
    Gostei.
    Bom Natal (apesar de tudo...)

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  3. Olá, Acácio :)*

    Não tenho bem a certeza se algum dia gostei da época natalícia e portanto não sei quando deixei de gostar. Só sei que todos os anos, no fim de Novembro, se apodera de mim uma nostalgia, fazendo-me desejar hiberna no início de Dezembro para só acordar em Janeiro. E isso exactamente pelas razões que aponta.

    O seu texto é muito realista! E este período, apesar de todas as contradições, mesmo não sendo aquilo que gostaríamos ou nos convenceram que seria, pelo menos leva-nos a reflectir sobre muita coisa, o que já é bom, dado que nos permite crescermos como seres humanos.

    Um beijo

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  4. Actualmente, Natal é enfeitar a árvore, desembrulhar as figurinhas e montar o presépio, dar uso à melhor toalha e pôr uma mesa bonita para a ceia, usar o serviço e o faqueiro novos, reunir a família incluindo os avós, trocar SMS com os amigos, papar pinhões, passas, filhós, sonhos e azevias, desembrulhar os presentes ...

    mas também é assistir à cerimónia de servir a sopa dos pobres na TV, ouvir um promissor discurso do PM e outro do PR

    Feliz Natal

    dentadinhas

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  5. Olá!

    É por tudo isso que nos conta, e por mais alguma coisa que vou observando, que nesta quadra festiva eu me sinto mais angustiado.
    Ao ver as iluminações das ruas, algumas bastante pindéricas, a lufa lufa das pessoas, a comprar não sabem o quê nem para quê, passando umas pelas outras aos encontrôes, mas sempre desejando Boas Festas, ao mesmo tempo que ao longo das ruas (na Baixa, em Lisboa) se amontoam os pedintes, nacionais e estrangeiros e em quem quase ninguém repara. Junte-se a isto os tais discursos de gente muito importante, pronta a criar empresas de excelência que nunca chegam a funcionar e o que criam é o desemprego e o embrutecimento, ambos de grande excelência. Quem é que pode ter Paz e sossego no Natal?

    Chega de pessimismo e vamos todos acreditar no Menino Jesus e que desta vez é que é!

    Um abraço e Santo Natal!

    João Celorico

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  6. Acácio
    Eis a razão porque não quis participar! Estou cansada do faz de conta...
    Tanto quanto me é possível tento ser solidária mas apesar de tudo tenho gostado de ir conhecendo usos natalícios de todos os participantes.
    Boas festas e muita solidariedade neste Natal
    Um abraço
    Alcinda

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  7. Olá Helena!
    Ora nada mais agradável que isso. Assim pode dizer-se que é realmente um natal em familia. Troca-se uns miminhos, come-se uns petisquinhos, que melhor é que se pode desejar, talvez subestituir o chá por um calice de Vinho do Porto ou uma tacinha de espumante, pois na noite de Natal náo parece mal.ahahah

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  8. Olá Julia!
    Olá Pascoalita!
    Olá João!
    Olá Alcinda
    Obrigado pelos simpáticos comentários
    Talvez tenha sido um pouco nostálgico com a descrição que faço do Natal. Mas é aquilo que eu penso, e se penso logo escrevo, pessoalmente sinto um pouco isso na pele.( assim se diz na minha terra)O Natal tem um grande sentido para as crianças e os mais pequenos, Ainda não compreendem o que são ironias nem hipocrisia.
    O que não me entristece é sentir que náo estou sózinho nesta cruzada, há muita gente que pensa como eu, o que me leva a crer que tenho alguma razão."ironias"
    Bom Natal.
    Abraços
    Acácio


    Cheguei á conclusão

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  9. Olá amigo Acácio!

    Gostei muito da sua versão sobre o Natal, pois fala um pouco do que se tornou o Natal dos dias de hoje em algumas famílias.
    Mas, também senti muita nostalgia. Realmente o natal de hoje não tem nada a ver com o natal dos nossos tempos de juventude, Natal em família, no entanto não deixa de ter o seu encanto.
    Se nós acreditarmos verdadeiramente que Jesus nasceu neste dia, num estábulo sem as mínimas condições e sobreviveu por nós, então cada natal pode ser melhor. De certeza com muitas saudades dos nossos ente queridos que já partiram e tentar estar perto de uma maneira ou de outra com os que ainda estão junto de nós e tentar que ao longo do ano haja mais dias de Natal em família.

    Um abraço
    Eugenia Cruz

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  10. Com os votos de santo e feliz Natal, aqui deixo um poema de João Saraiva.

    Numas palhinhas deitado,
    Abrindo os olhos à luz,
    Loiro, gordinho, rosado,
    Nasce o Menino Jesus.

    Uma vaquinha bafeja
    Seu lindo corpo divino,
    De mansinho, que a não veja
    E não se assuste o Menino !

    Meia-noite. Canta o galo.
    Por essa Judeia além
    Dormem os que hão-de matá-lo
    Quando for homem também...

    E, pensativa, a Mãe Pura
    Ouve, fitando Jesus,
    Os rouxinóis na espessura
    Dum cedro que há-de ser cruz!...

    João Celorico

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