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Não tenho uma especial apetência pela comemoração do Natal tal qual ele hoje é entendido. Todos falam de solidariedade, de bondade, amizade e outras palavras sonantes terminadas em ade, ou não. Mas, parece-me, a verdade é que falta vontade, nesta sociedade, em ver a realidade com honestidade e praticar a caridade, não a caridadezinha!
Na idade de todos os sonhos, o meu Natal era a época em que nos reuníamos, em Lisboa, a minha avó materna, os meus tios, o meu irmão e os meus pais. Havia Menino Jesus, a missa do Galo e não faltavam as filhós. Digo em Lisboa porque da minha terra, donde saí com pouco mais de 3 anos, nada recordo. Tudo aquilo que sei é de ouvir contar.
As filhós eram o motivo de toda a azáfama. Da minha mãe e da minha avó, claro! Nós, só as comíamos. Era vê-las, à noite (não havia tempo durante o dia) a amassar, a pôr a fintar e depois a tender, não sem que lhe tivessem adicionado o azeite q.b. e um calicezinho de aguardente. Espero que estes passos estejam correctos, pelo que deixo o favor da correcção aos entendidos, antecipando as minhas desculpas.
Na idade de todos os sonhos, o meu Natal era a época em que nos reuníamos, em Lisboa, a minha avó materna, os meus tios, o meu irmão e os meus pais. Havia Menino Jesus, a missa do Galo e não faltavam as filhós. Digo em Lisboa porque da minha terra, donde saí com pouco mais de 3 anos, nada recordo. Tudo aquilo que sei é de ouvir contar.
As filhós eram o motivo de toda a azáfama. Da minha mãe e da minha avó, claro! Nós, só as comíamos. Era vê-las, à noite (não havia tempo durante o dia) a amassar, a pôr a fintar e depois a tender, não sem que lhe tivessem adicionado o azeite q.b. e um calicezinho de aguardente. Espero que estes passos estejam correctos, pelo que deixo o favor da correcção aos entendidos, antecipando as minhas desculpas.
O próximo passo era estender a massa sobre a mesa (suponho que uma tábua, devidamente untada), passavam-lhe o rolo de madeira e depois de bem fininha, com a recartilha, cortavam pedaços rectangulares, nos quais davam ainda dois pequenos cortes no sentido longitudinal. A sertã, com o azeite, estava ao lume e começava a fritura. Era ver, então, aqueles rectângulos de massa a inchar e a ficarem como que umas almofadinhas. Depois de fritas e retiradas eram colocadas numa travessa e, por cima, deitava-se-lhes açúcar. Isso, eu já ajudava, esfarelando o açúcar entre os dedos.
Tudo pronto, colocavam-se as filhós dentro dum alguidar e tapavam-se com um pano, deixando-as arrefecer até ao dia seguinte.
Este trabalho entrava pela noite dentro mas, no dia seguinte, a Consoada estaria completa e as filhós, finas e estaladiças (como eu gosto), faziam as honras da mesa.
Havia também o hábito de ofertar, com elas, vizinhos e familiares, principalmente os que estivessem de luto, porque decerto não as fariam, e assim não se privassem delas em época de FRATERNIDADE.
Escrito por João Celorico, do blog Salvaterra e eu
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ResponderEliminarAfinal, quando começamos a desenrolar o novelo das recordações, todos temos um bocadinho de saudosismo eheheh
ResponderEliminarEngraçado, como durante mais de 20 anos em Lisboa sempre comprei as filhós feitas, associava a ideia dessa tarefa à aldeia.
Muito eu me ri um ano quando uma minha colega, natural do Sabugal, se lamentou por ter partido o tampo de mármore da mesa da cozinha, enquanto amassava as filhós eheheheh
Mas desde que resolvi morar no campo, tenho-me aventurado em algumas experiências e as filhós e sonhos são apenas 2 exemplos (um dia ainda aprendo a cozer o pão eheheh)
João, muito bonita, a sua prosa. Gostei de ler
jinhos
Olá João!
ResponderEliminarPronto,é oficial.Façam lá as filhoses e eu como.Já tou com fome das tradicionais filhoses,caseirinhas...Isso nunca fiz.Já fiz rabanadas e sonhos.E nem me sai muito mal :)
Este ano,vou de novo fazer o meu bolo de chocolate também e um pudim de ovos.No ano novo,bolo de ananas,pêras bêbadas...ah,sem esquecer as farófias da minha mãe :)
Jocas gordas
Lena
Olá João!
ResponderEliminarLi atentamente o seu texto, Um texto que fala de um natal real, não de um natal de fantasia, mostrando por fora aquilo que nada de real tem por dentro. Mas com umas filhós feitas com a receita da avó, bem estaladiças polvilhadas com açucar e canela oh que maravilha, então sim estamos no natal.
Gostei muito do seu texto,muito elucidativo.
Bom natal
Um abraço
Acácio
João
ResponderEliminarGostei do seu texto. Mais um Natal que cheira a filhós acabadinhas de fazer.
Hum...Como eu gosto de filhós e não as consigo fazer. Fico com água na boca.
Faço votos para que passe um Natal o melhor possível.
Beijinhos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCom tão doce descrição
ResponderEliminarNum Natal assim fraterno
Sentimos tanta emoção
Que nos aquece o Inverno!
Ai se em vez de endiabrada
Eu fosse um simples mosquito
Passaria esta consoada
com o nino João Celorico
E em vez de dentadinhas
Na orelha ou no dedão
Papava umas filhozinhas
servidas na sua mão
Feliz Natal
dentadinhas
Dizia eu, antes desta %$&#&$%$ me ter comido não a filhó mas o comentário, que na minha aldeia também se fazem as broinhas. E como era bom tirá-las do forno a lenha, ainda a fumegarem.
ResponderEliminarGrande abraço!
A receita das filhós varia de região para região. Os rituais associados ao Natal são muito semelhantes, com algumas diferenças no que respeita às iguarias tradicionais da quadra.
ResponderEliminarGostei do seu texto em que mistura lembranças longínquas com uma visão realista do que é o Natal de hoje.
Apesar de tudo, desejo-lhe um Bom Natal!
Uma história que espelha em muito quem abandona a sua terra Natal. Parabéns pela escrita e, com ou sem filhoses, Bom Natal
ResponderEliminarPinto Infante
Pois João Celorico, o seu Natal está descrito com todo o pormenor. Quase deu mesmo para sentir o cheirinho das filhós já fritas. Mas, já agora, permita que eu diga que o nome correcto do tal instrumento com que se cortavam os rectângulos da massa é, sim, uma «carretilha». Um bom Natal para todos vós.
ResponderEliminar"Não tenho especial apetência pelo Natal tal qual ele hoje é entendido".
ResponderEliminarAssim começa o seu texto e eu estou inteiramente de acordo!
Claro que a descrição dos preparativos do Natal de outrora desperta em nós uma certa nostalgia...até porque nessa época, para nós, havia magia...
João gostei do seu texto porque é simultâneamente realista e nostálgico.
Boas festas solidárias
Um abraço
Alcinda
Olá, Pascoalita!
ResponderEliminarEu, também avisei que morava na "Rua da Saudade"! Não faz mal a ninguém. O hoje, amanhã já é passado, portanto...
Alguns "acidentes" acontecem quando tentamos trazer, para a cidade, os usos e costumes da nossa aldeia. Porém, há que ir tentando!
Ainda bem que gostou da prosa.
Bem haja, por isso,
João Celorico
Olá, Helena!
ResponderEliminarNão a convido para as filhós porque, por razões óbvias, não as vou ter!
Aproveito, porém, para fazer um pedido. Será possível, a Lena interceder junto da Junta de Freguesia dessa Aldeia para que indague o porquê do porteiro da Quinta do Sobral ainda não ter deixado sair a garrafita? É que o Barão de Nelas está muito aborrecido pois que já chegou há que tempos e ainda não tem companhia. Talvez venha com o Pai Natal!
Já pus o sapatinho!
Se ele não puder vir, também não há crise. O Barão que se aguente!
Jocas, um bocadinho menos gordas
João Celorico
Olá, Acácio!
ResponderEliminarSão realmente estas lembranças o que nos vai mantendo vivos. Já que não conseguimos mudar o mundo, tentemos que ele não se entorte ainda mais e nos entorte também a nós.
Bem haja pelas palavras e votos de um Santo Natal.
Abraço,
João Celorico
Olá, Lourdes!
ResponderEliminarEste anos não terei filhós e tentarei passar esta quadra o melhor possível.
Bem haja, pelo comentário, e tenha um Santo Natal.
Abraço,
João Celorico
Olá, amiga Cusca!
ResponderEliminarInfelizmente, desta vez, não vou responder à letra, mas muito me apraz que esteja disposta a substituir-me ( ou melhor, aos meus devaneios poéticos).
A infelicidade ainda é maior, porque como já disse, algures, nesta Consoada "não há filhós p'ra ninguém"! Vai ter que se contentar com uma, ou outra, dentadinha!
Santo Natal, para si também!
Bem haja,
João Celorico
Olá João!
ResponderEliminarAi o malandro do porteiro da Quinta do Sobral.Ele tinha-nos informado que tinha deixado sair tudo...hum...vou indagar isso,vou investigar...O Barão não pode ficar sozinho!
Um Santo Natal
Jocas gordas
Lena
Amigo, Rafeiro Perfumado!
ResponderEliminarFilhós, broínhas ou outras iguarias já não são muito fáceis de apanhar. Mas quando as apanhamos, é uma maravilha!
Abraço,
João Celorico
Amiga, Júlia!
ResponderEliminarA minha "receita" até pode ser que não seja exactamente de nenhuma região, mas deve aproximar-se! Essa, era a ideia!
Bem haja pelas suas palavras e votos de Santo Natal,
João Celorico
Amigo, Pinto Infante!
ResponderEliminarEu saí da minha terra, não a abandonei, nem ela a mim. É exactamente por isso que tenho participado nestas blogagens.
Fico feliz porque gostou do texto.
Bem haja e tenha um Santo Natal,
João Celorico
Olá, M.A.!
ResponderEliminarA descrição não está tão completa como eu desejava porque, infelizmente, quem me ajudava nestas lembranças já cá não está.
Até era possível que pudesse deslindar o "delicado" problema da "carretilha". Eu, talvez por deficiência profissional ocorreu-me o nome técnico que é, realmente, "recartilha". O povo, no entanto, encarrega-se de, através da comunicação oral, ir adulterando, ou não, a palavra original e saiu a "carretilha". Ora, seja. O povo é quem mais ordena, dizem por aí!
Bem haja pela correcção e tenha um Santo Natal,
João Celorico
Olá, amiga Alcinda!
ResponderEliminarAinda bem que me fiz perceber, quanto ao que eu sinto acerca do Natal.
Se falar do passado soa a nostalgia, eu serei nostálgico. Porém, como do futuro não consigo falar, falo daquilo que ainda sei alguma coisa, enquanto tiver memória. Se não nos agarrar-mos muito a essas memórias, isso também nos ajuda a enfrentar o futuro próximo.
Bem haja e um Santo Natal,
João Celorico
Natal, tempo de reunião familiar, tempo de matar saudades de quem se está longe quase o ano inteiro, tempo de maior alegria, bondade e solidariedade entre todos. Natal só tem um senão; a falta deste espírito durante o resto do ano. Talvez seja por isso mesmo que o Natal é tão especial.
ResponderEliminarE a azáfama das filhozes, também minha avó as fazia assim. E hoje por mais que minha mãe use a mesma receita, não têm o mesmo sabor e cheiro, nem duram tantos dias tão estaladiças.
Resta-nos as boas recordações e a união familiar dos que ainda se encontram entre nós…
Desfrute desta época, amigo, pois não há no ano outra igual.
Desejo-lhe a si, a todos os seus e a todos os que visitam ou participam nesta blogagem, uma quadra festiva muito feliz, e se possível que esta se prolongue o resto do ano.
Era bom que assim fosse, pois talvez só assim fosse Natal todos os dias. E que bonito seria!
Cristina
Feliz Natal
ResponderEliminar(pela Isabela)
Beijos
Olá, Cristina!
ResponderEliminarO Natal é tudo isso que diz e talvez mais!
Realmente, diz-se que é quando o Homem quiser (e, já agora, também quando a Mulher quiser) mas parece que ou não querem ou se esquecem disso. E é, também por isso, que agora esta quadra, normalmente, me angustia. Perante o que observo durante todo o ano, não me é fácil entender toda esta azáfama.
Agradeço-lhe, do coração, os seus votos e a sua passagem pelo meu blogue.
Tenha um Santo Natal e até sempre,
Bem Haja,
João Celorico
Olá, Pandora!
ResponderEliminarSanto Natal, também para si!
(Pela Isabela e por todos nós!!!)
Bem Haja,
João Celorico