quinta-feira, 22 de outubro de 2009

NA MINHA TERRA, COME-SE...


Preparando o almoço do Bodo da Festa de Nossa Senhora da Consolação
(Com a devida vénia, foto retirada de http://seraiana.blogs.sapo.pt/)

Claro que podia aqui falar de “Laburdo”, “Miolos com rins”, “Ensopado de borrego”, “Jantar da Matança”, “Chanfana” e outras iguarias.

Na minha terra come-se bem? Eu diria que nem bem, nem mal! Come-se!
Mas, posso dizer como se comia antigamente. Comia-se o que a terra dava, que era bem pouco. À base de pão, principalmente de trigo. Pão entrava (entra) em tudo! Nas “migas” de alho, de batata, de pão tostado ou no “gaspacho”. Os legumes, grão e feijão; poucos vegetais, couves e feijão “carrapato”; batatas e algum arroz.
Carne, só de ovino, caprino e porco. Umas “pitas”, quase só para ovos. Bovino, pouco, era só para trabalhar ou para dar leitinho. Cabrinhas, ovelhas e uns “bácoros” quase todos tinham.
Do Erges, bogas, bordalos e pouco mais, pequenos e fartos de espinhas.
Pão com, queijo, azeitonas, chouriço ou toucinho. Pratos cozinhados, à base de grão, feijão, batatas e cabrito, borrego ou porco.

Gulodices, para os “lambinos”, só em dias de festa. Nos outros dias, uma fatia de pão, molhada e barrada com açúcar, ou quente e pingada de azeite. Crianças, de peito, tinham chupetas feitas dum trapinho enrolado, molhado, e embebido em açúcar, para sossegar as rabugices.
Nas festas, “arroz doce”, artisticamente polvilhado com canela, fazendo cruzes ou desenhando as iniciais do artista e a “aletria”.
Alegrias da pequenada, eram o “coalho” e a espuma do leite, acabado de ordenhar, sujando só os “beiços” e fazendo-lhes uns “bigodes”!

Fruta, quase só melancia, melão, figos, laranjas, uvas, pêssegos (“malacatões”) e “marguedas” (romãs). Extras, “bolêtas”, cruas ou assadas e “figos tchumbos”, apanhados com tenaz, metidos em água, para amolecer os picos, cortados e pelados, com muitas grainhas, provocavam grandes dores de barriga e prisão de ventre a quem deles abusava.
E era com esta frugal alimentação que viviam as mulheres e homens que trabalhavam de sol a sol, abençoando a terra e causando a admiração de quem, hoje, tem mesa farta e variada! Bom apetite!!!

Escrito por João Celorico, do blogue Salvaterra no Coração (onde pode ver a versão completa do texto)

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10 comentários:

  1. A dieta mediterrânea era a alimentação na sua terra e em muitas outras do nosso país,João!
    E , ao que parece, muito mais saudável do que a actual.
    Já agora o que é o laburdo?
    Um abraço
    Alcinda

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  2. Olá João!Anda escondido,eu bem o estou a ver ali atrás daquele pinheiro manso.Está a preparar alguma,está está...Olhe,pode ser um arroz doce ou aletria,falou nisso e deu-me fome.Ou então,junto-me a Alcinda e pergunto-lhe o que é laburdo?

    Jocas gordas
    Lena

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  3. Tudo aquilo de que fala torna a sua terra um sítio onde se come bem, mesmo o peixe do rio, cheio de espinhas como só ele, bem fritinho é um petisco a não recusar.
    Acredito que em anos que já lá vão a abundãncia não era muita mas talvez por isso, tal como acontece no Alentejo, estas pessoas aprenderam a aproveitar tudo o que a terra dava e descobriram sabores que de outra meneira não conheceriam.

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  4. Ora que explosão de costumes e de gostos e sabores coloca aqui no seu pequeno texto mas que soube dizer quase tudo sobre a região.
    Adorei o seu texto.
    Parabéns e também me lembro da chupeta feita de pano e açúcar, e de outras coisas que aqui diz.
    Abraço
    Manuela

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  5. Cara amiga Alcinda,
    claro que só alguém ligado ao Alentejo, pode perceber, com clareza, aquilo que eu escrevi. Se a Beira Baixa é um prolongamento do Alentejo, posso dizer que a minha terra, em particular, é mesmo um enclave alentejano. Terra de latifúndio, azinheiras e alguns sobreiros, oliveiras, ovelhas, cabras e bácoros (do preto, sim senhor!), plantações de sequeiro e ceifas (antigamente) comparadas quase a campos de morte e depois das quais muitas vidas ceifava, principalmente de crianças. Terra duma grande secura onde o rio fica a mais de 1 km, sendo que para lá chegar é a descer e de cântara vazia. Para cima é que são elas! Acresce um calor tórrido, no Verão, e um Inverno gélido mas onde, apesar da proximidade da Serra da Estrela, por um lado e da Serra da Gata pelo outro, raramente neva. Porém, o “caramelo” é normal, nos charcos. A um minhoto, terra de minifúndio, talvez seja difícil imaginar este cenário, creio eu!
    Quanto ao “Laburdo”, é uma sopa que se come em dias de matança, como será fácil de perceber! Aqui vai,(retirado da net), para quem estiver interessado:

    Ingredientes:
    Para 6 pessoas

    * 1 litro de sangue de porco (líquido)
    * vinagre
    * 50 g de banha em rama (unto por derreter)
    * 1 cebola média
    * 6 dentes de alho
    * 1 folha de louro
    * 1 colher de chá de colorau
    * 2 colheres de café de cominhos em pó
    * 500 g de pão caseiro, de véspera

    Recolhe-se o sangue num recipiente, onde previamente se deitou um pouco de vinagre e de água, e mexe-se até arrefecer.
    A quantidade de sangue para esta sopa não é rigorosa, devendo ser a suficiente para que a sopa fique bem escura.
    Corta-se a banha em bocadinhos e leva-se a derreter em lume brando numa frigideira.
    Quando a banha começar a fundir, junta-se a cebola picada e deixa-se alourar.
    Entretanto já se pôs ao lume uma panela com 3 litros de água.
    Quando esta água levantar fervura, junta-se o conteúdo da frigideira, os alhos pisados com sal, o louro, o colorau, os cominhos e sal e deixa-se ferver tudo um bocadinho.
    Em seguida reduz-se o calor e adiciona-se o sangue passado por um passador de rede e mexe-se energicamente o caldo a fim de impedir que o sangue talhe.
    O sangue deverá apenas cozer 1 ou 2 minutos, em fervura suave e mexendo sempre.
    Mergulha-se então uma fatia de pão no caldo e prova-se a sopa.
    Se estiver muito clara, junta-se mais um pouco de sangue.
    Também deve saber bem a cominhos.
    Tem-se o pão cortado em fatias finas numa terrina, rega-se com o líquido e abafa-se durante alguns minutos.
    Come-se bem quente.

    Bem haja
    João Celorico

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  6. Amiga Lena,
    Começo a sentir-me preocupado com a sua atitude!
    Não sei o que vê em mim, para me tratar dessa maneira.
    Umas vezes diz que eu ando a tramar alguma, outras diz que me vê escondido atrás dum pinheiro. Mas que imaginação tão fértil! Será que eu sou assim, a modos que algum malfeitor? Aconselho-a a tratar-se, quanto antes.
    Ora esta! Envia-me jocas gordas, quer-me comer a aletria e está sempre a desconfiar de mim mas, também quer saber o que é o laburdo!
    Só pensa em comer! Santo Deus! Depois, tem que dar caminhadas com a “labrador”. Ó amiga, contenha-se! Essas caminhadas, só dão para a pobre da cadela ficar uma “magricela”!
    Para esclarecer o “mistério” acerca do que eu terei andado a fazer, aconselho-a ler, mais abaixo, o meu comentário geral. Está bem?

    Bem haja

    João Celorico

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  7. Cara amiga, Dina
    Agradeço que aceite, também como sua, a minha resposta ao comentário da amiga Alcinda.

    Bem haja,

    João Celorico

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  8. Cara amiga Manuela,
    Claro que, como diz, o meu texto tem quase tudo. O original, no meu blogue “Salvaterra no coração” tem mais alguma coisa mas, mesmo assim, também não tem tudo. Terá o essencial e já não é pouco. Devido à actuação da “comissão de censura” aqui da Aldeia tive que fazer uns cortes. Resta-me a esperança de que tenha ficado perceptível. Pelos vistos ficou e isso me deixa satisfeito.

    Bem haja

    João Celorico

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  9. Para a mui digna Organização da Blogagem Colectiva deste mui considerado Blogue!!!!

    Como tinha informado de que me iriam “ouvir” calado durante uns tempos, aqui estou de novo.
    Entretanto, aqui há alguns dias, interrompi o silêncio apenas para tentar amainar certas trocas de “mimos” que por aqui houve. Parece que em má hora, pois alguém supôs que eu me estaria a sentir comprometido com a organização e que não teria necessidade disso. Tentei esclarecer e voltei ao silêncio. Espero que tenha sido entendido!
    Agora, blogagem terminada, noto com grande satisfação que alguns amigos ainda se lembram de mim, que a blogagem está muito mais animada e que ninguém é insubstituível. Vejam só o número de comentários! Se eu concorri, nalguma coisa, para isso, é esse o meu prémio!
    Verifico que, mais uma vez, me sinto algo deslocado pois que culinária não é, também, o meu forte. Limito-me a comer, sem requintes de “malvadez”, coisas bem simples. Aliás, como é apanágio da Beira interior e da minha terra em particular, onde a escassez de alimentos, água incluída, era uma realidade. Não sou, de facto, apreciador de pratos muito trabalhados. A Beira interior ainda é um pouco o prolongamento do Alentejo, por isso algumas semelhanças na alimentação. Pobre, mas gostosa!


    Relativamente a esta blogagem, onde já votei, o pouco que consigo dizer, e apenas pelo respeito que me merecem todos os participantes e os meus seguidores, em particular, vai neste meu comentário, somente com o intuito de pôr um “Ponto de Ordem à Mesa”:

    Eh, pá! Há, aqui, cada manjar!
    Alguns, é de “enfarta brutos”!
    Mas, cá estou, para os ajudar.
    Tomem lá, meus sais de frutos!

    Num Mundo tão esfomeado
    e tanta gente a morrer,
    na blogagem, engraçado,
    é tudo a falar de comer!

    Por isso, cá bem no fundo,
    eu gostava mesmo de saber,
    será que a fome no Mundo
    é coisa para se esquecer?

    E esta! Eu não consigo,
    nem posso, ficar calado!
    Ó António, caro amigo,
    a gula já não é pecado?

    Se, por acaso, ainda for,
    não fique tão assustado!
    Peça perdão ao Senhor!
    Por mim, está perdoado!

    Pr’ó que me havia de dar,
    nesta blogagem da Aldeia,
    eu vir para aqui comentar
    mas, de barriga bem cheia.

    Mas, afinal, quem sou eu?
    Qual é, então, o meu nome?
    -:Sou alguém que já comeu
    e agora já não tem fome!



    Posto isto, espero não ter ofendido susceptibilidades e venho convidá-los para a inauguração do meu blogue “Salvaterra e eu”, onde eu colocarei algo de mais pessoal. Não será uma festa, nem terá banda de música, por motivos óbvios mas, a vossa visita será um orgulho para mim e seria para mais alguém! Eu, que não tinha blogue, já tenho dois (blogues, entenda-se!). Não há fome que não dê em fartura!
    Bem hajam

    João Celorico

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  10. E o nino João Celorico
    está sempre de bom humor
    mesmo eu sendo um mafarrico
    proponho-lhe aqui um louvor

    Eu sou Cusca Endibrada
    e nunca vi tanto panelo
    mas já ia um prato de cabra
    ou um ensopado de borrego

    Animada vai a Aldeia!!!

    dentadinhas

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