domingo, 22 de novembro de 2009

O MEU PRIMEIRO MAGUSTO



A primeira vez que eu participei num Magusto foi no início dos anos setenta quando cheguei aqui ao Oeste.
No Alentejo, pelo menos na minha zona, não havia essa tradição. Comiam-se frutos secos, vindos do Algarve: as galinhas e os galos de pasta de figo, as amêndoas, as nozes… até há a feira de Castro Verde, cantada pela Mariza, onde se compram os frutos secos, em finais de Outubro.
Aqui chegada, logo os meus alunos começaram a falar de magusto, perguntando com alguma ansiedade, se este ano não havia.
Ficaram atónitos com o meu desconhecimento, mas esclareceram-me e o magusto foi aprazado para o dia de S. Martinho, tendo eles tomado a responsabilidade da organização do mesmo.
No dia de S. Martinho, a azáfama no pátio da escola era muita e a vozearia da garotada ensurdecedora!
Os meninos fizeram a fogueira com a lenha que eles próprios apanharam e lá dentro deitaram as castanhas depois de devidamente cortadas.
A partir daí foi o delírio total… os miúdos tiravam as castanhas assadas da fogueira, comiam-nas, voltavam a deitar mais castanhas na fogueira e, sobretudo enfarruscavam-se todos uns aos outros, no meio de grandes corridas, gritarias e brincadeiras.
A alegria reinava naquele pátio de recreio….cantavam-se cantigas alusivas ao S. Martinho...
Eu, nos meus verdes anos e perante o desconhecido estava também encantada, desconfio mesmo que também enfarrusquei algumas carinhas…comi muitas castanhas e diverti-me imenso.
Nem me lembro de mais alguma vez comer castanhas assadas como aquelas do meu primeiro magusto!
Eram mesmo “quentes e boas, quentinhas, a estalarem cinzentas na brasa”
Com o decorrer dos anos, os magustos nas escolas foram perdendo as suas características, por razões práticas e de segurança. Mantém-se o convívio, comem-se castanhas mas aquela fogueira no chão, as castanhas a assar lá dentro e os miúdos a retirarem-nas com um pauzinho pertence ao passado.

Escrito por Alcinda Leal, do blogue Soma dos Dias

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17 comentários:

  1. A Alcinda deixou reflectida neste belo texto a sua vivência profissional entre regiões. Descreveu, depois, o seu primeiro magusto na escola. Sobre o impacto que ele teve sobre os miúdos, diz a certa altura: "A partir daí foi o delírio total..."

    Finalmente, apontou razões práticas e de segurança para o abandono crescente da assadura das castanhas nas escolas portuguesas. Um pormenor interessante!
    Gostei muito do seu trabalho.
    Um abraço.

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  2. Olá Alcinda!
    Será de aceitar como diz a Lcinda desconhecer o que era um magusto até chegar à zona do Oeste. É bem natural porque no Alentejo ou em grande parte dele não há castanhas, logo a tradição do magusto não fazer parte dos hábitos locais.
    Enquanto mais para norte há o bom hábito de levar para os magustos, os queijos e os enchidos,
    Talvez no Alentejo ficasse bem levar umas castanhas para acompanhar com os deliciosos queijos e enchidos com o tradicional pão alentejano que tão bem sabem em especial quando degustados á volta da chaminé.
    Parabéns Alcinda gostei muito do texto e a imagem criou-me um bom apetite, pois parece-me ser a melhor imagem de castanhas assadas até agora apresentada
    Um abraço
    Acácio

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  3. Pois era tal e qual assim nos magustos da minha aldeia, Beira Alta ... as castanhas eram assadas directamente na fogueira e se alguma era esquecida ou deliberadamente deixada inteira, sem ser cortada, ouvia-se um "bufar" e a seguir um estoiro tal que, se não fugíssemos a sete pés, ficávamos cheios de cinza eheheheh

    Não me lembro de haver o hábito de nos enfarruscarmos. Hábitos que a pouco e pouco foram desaparecendo e dando lugar a outras brincadeiras, à medida que foram surgindo novas e cativantes tecnologias.

    Um bonito texto. Parabéns!

    Um beijo

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  4. Amiga Alcinda!

    São as pequenas coisas, os pequenos gestos, os mais simples, que nos engrandecem e fazem gostar da vida! São esses os que nos marcam e que não esquecemos!


    E à jovem professora
    perguntou a criançada,
    :- Mas, então, ó setôra,
    não há magusto nem nada?

    E perante esta questão,
    tão fora de ser esperada,
    a jovem deitou a mão,
    pediu para ser ensinada!

    Quem estivesse a observar
    nunca em tal podia crer,
    eram as crianças a ensinar
    e a professora a aprender!

    Ensinando, pela vida fora,
    muito mais ela aprendeu.
    Este magusto, di-lo agora,
    nunca mais ela o esqueceu!

    João Celorico

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  5. Pois é José, hoje em dia era impensável pôr crianças de 6 a 10 anos a fazer fogueiras e a debruçar-se sobre elas para deitar e tirar castanhas...naquele tempo as crianças traziam esses saberes de casa,onde ajudavam os pais.
    Hoje perderam-se as caracteristicas especificas dos grupos... estar na cidade ou no campo é indiferente, as vivências massificaram-se e os saberes deste tipo diminuiram... por isso é que o seu trabalho junto da comunidade é tão importante.
    Muito obrigada pelo comentário.
    Um abraço
    Alcinda

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  6. No Alentejo,Acácio, quanto muito comíamos umas bolotas... mas também nunca esqueço a feira de Castro Verde onde comprávamos os frutos secos!
    E do Algarve vinham uns cestinhos com galinhas e galos de pasta de figo e cristas de amêndoa.
    Eram saborosos e bonitos.
    E fazíamos sandes de figo com amêndoas ou nozes.
    Eram as diferenças regionais que a globalização atenuou!
    Obrigada pelo seu comentário
    Um abraço
    Alcinda

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  7. Pascoalita
    Pois é as enfarruscadelas eram um pretexto para os rapazes fazerem umas festinhas às raparigas...
    Explicou-me hoje uma amiga beirã, que naqueles tempos de grande rigidez de costumes, os jovens viam nessa brincadeira um certo jogo amoroso.
    O interdito pode gerar essas reacções...
    Pelo menos achei curiosa a ideia!
    Obrigada pelo comentário.
    Um beijinho
    Alcinda

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  8. Meu amigo João Celorico, o senhor estraga-nos com o seu miminho poético!
    Não tenho palavras para lhe agradecer esses seus simpáticos versos.
    Mas é bem verdade que muito aprendi também com os alunos ao longo da minha carreira, mas aquele era mesmo o meu primeiro ano de trabalho e eu tinha acabado de fazer 19 anos...e muitos objectivos para cumprir...
    Muito obrigada pelo seu simpático comentário.
    Um abraço
    Alcinda

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  9. Olá Alcinda!
    Imagino-a jovem professora,deve ter sentido apreensão,mas ao mesmo tempo,uma alegria enorme.E esse tipo de convívio aproxima muito os alunos do professor :) Parabéns.

    Jocas gordas
    Lena

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  10. Saudações desde Paredes de Coura, Teritório com Alma.

    Abraço

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  11. Ora aqui está uma das vantagens do "turismo profissional" dos professores e, duma maneira geral, das migrações no nosso país. De facto, para nós, alentejanos, o magusto não faz parte da tradição. Tem sido muito interessante ler os relatos dos participantes do interior norte. Por aqui se vê a diversidade de tradições que existe neste pequeno rectângulo onde vivemos.
    Bj

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  12. Viva Helena!
    Quando se tem 19 anos há sempre o gosto da descoberta.
    Depois era o inicio de uma carreira...
    Foram tempos muito agradáveis.
    E estes também são, fazem-se outras descobertas, só que já passou a idade da inocência.
    Obrigada Lena pelo comentário.
    Beijinhos para todas
    Alcinda

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  13. Boa noite Eduardo
    Fiz uma visitinha ao seu blogue e gostei muito de ver a alma desse território ou seja o empenho que põe em divulgar os eventos da sua terra.
    Parabéns!
    Obrigada pela atenção ao meu texto.
    Saudações bloguistas
    Alcinda

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  14. É verdade Júlia eu também tenho achado muito interessante este tema porque ficou muito claro que o magusto era uma tradição do centro e norte do país. Há dias uma amiga beirã detalhou-me o magusto, tal qual nós aqui lemos.
    Mas a globalização tende a tornar tudo igual, pelo menos nas festividades.
    Nós actualmente até temos a noite das bruxas...
    Obrigada pelo seu comentário.
    Beijinhos
    Alcinda

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  15. Gostei do seu texto. Agora há medo dos incêndios, de os gaiatos saírem queimados eu sei lá mais do quê. Estamos a criar uma geração medrosa e inconsciente, de tal modo os queremos livrar de todos os perigos.
    Um abraço e boa sorte.

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  16. Olá Elvira
    Gosto sempre muito das suas visitas e de visitá-la.
    Consigo todos aprendemos.
    É verdade estamos a criar uma geração superprotegida, mas que só é medrosa para o que lhe convem...os últimos anos de trabalho com crianças tornaram-se menos agradáveis por esse tipo de razões.
    Contudo sou optimista e acredito que as gerações
    hão-de saber dar passos certos!
    Obrigada pelo seu comentário.
    Um beijinho grande
    Alcinda

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  17. Olá Alcinda

    Adorei o seu relato...revi a minha infância
    lá bem para trás da sua.Já era assim nesse meu
    tempo.Pena a criançada de hoje, não poder ter
    esse convívio que tanta vida nos dava.
    Parabéns,.
    Beijo

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