O magusto, para mim, é uma não tradição. Claro que, vivendo na minha infância e juventude próximo da Serra de S. Mamede, única área do Alentejo onde o castanheiro aparece, é natural que, em casa, no Outono, se cozessem e assassem castanhas. Mas isso não correspondia a nenhuma celebração especial.
É verdade que as castanhas assadas eram muito apreciadas. Mas, para mim, nada se comparava às deliciosas bolotas, assadas na cinza da lareira, as quais eram apanhadas em azinheiras seleccionadas, estando assim garantida a sua qualidade e doçura.
Em magustos dignos desse nome, só comecei a participar nos que se faziam na escola onde dei aulas, no concelho de Loures. No dia de S. Martinho, não falhava a castanha assada ou cozida e o alcoólico acompanhamento líquido. Claro que, como era para muita gente, nem sempre a qualidade estava presente. Castanhas frias, às vezes demasiado assadas, não eram propriamente um petisco convidativo.
No entanto, na minha memória ainda persiste uma história relacionada com castanhas. Uma tia paterna vivia no concelho do Montijo, numa altura em que as comunicações eram difíceis e os produtos não viajavam como actualmente. Acontece que a tia gostava muito de castanhas e elas não apareciam à venda naquela região. Então, o irmão, meu pai, encarregava-se de lhe enviar todos os anos uma encomenda de castanhas que ia despachar nas camionetas que asseguravam o transporte de pessoas e produtos entre as várias regiões, demorando, por vezes vários dias.
À laia de compensação, a tia todos os anos nos mandava um caixote de odoríferas maçãs que perfumavam a casa durante o tempo que levavam a ser consumidas. Há muito tempo que não encontro estas maçãs à venda e tenho sobretudo saudades do seu intenso cheiro.
Escrito por Júlia Galego, do Blogue Gambozino
É verdade que as castanhas assadas eram muito apreciadas. Mas, para mim, nada se comparava às deliciosas bolotas, assadas na cinza da lareira, as quais eram apanhadas em azinheiras seleccionadas, estando assim garantida a sua qualidade e doçura.
Em magustos dignos desse nome, só comecei a participar nos que se faziam na escola onde dei aulas, no concelho de Loures. No dia de S. Martinho, não falhava a castanha assada ou cozida e o alcoólico acompanhamento líquido. Claro que, como era para muita gente, nem sempre a qualidade estava presente. Castanhas frias, às vezes demasiado assadas, não eram propriamente um petisco convidativo.
No entanto, na minha memória ainda persiste uma história relacionada com castanhas. Uma tia paterna vivia no concelho do Montijo, numa altura em que as comunicações eram difíceis e os produtos não viajavam como actualmente. Acontece que a tia gostava muito de castanhas e elas não apareciam à venda naquela região. Então, o irmão, meu pai, encarregava-se de lhe enviar todos os anos uma encomenda de castanhas que ia despachar nas camionetas que asseguravam o transporte de pessoas e produtos entre as várias regiões, demorando, por vezes vários dias.
À laia de compensação, a tia todos os anos nos mandava um caixote de odoríferas maçãs que perfumavam a casa durante o tempo que levavam a ser consumidas. Há muito tempo que não encontro estas maçãs à venda e tenho sobretudo saudades do seu intenso cheiro.
Escrito por Júlia Galego, do Blogue Gambozino
Se gostou deste texto, vote nele de 28 a 30 de Novembro. Aproveite para comentar. Quem sabe, será seleccionado para melhor comentário!
Olá Julia!
ResponderEliminarHum,com o seu texto,fiquei a pensar no cheiro dessas maçãs...Adoro.Por exemplo,as Bravo Esmolfe têm um cheiro tão agradável.Acho que nunca comi bolotas.Aguardo por 1 saquinho,ihihih
Jocas gordas
Lena
Olá!
ResponderEliminarÉ bem verdade que a castanha e o magusto não dizem o mesmo a toda a gente. Em Lisboa há quem "perca a cabeça" desde que veja um assador a fumegar em plena rua. Já não podem passar sem comprar a peso de ouro, digo eu, um pequeno pacotinho delas. Para azar, de muitos, algumas são podres. Mas, é a tradição! Também é tradição que o produtor cada vez recebe menos e o consumidor cada vez paga mais. Bem, isto, já é capaz de ser outra coisa...
Aqui vão então duas "castanhas" das minhas. Espero que não sejam podres...
O magusto, também para mim,
é festa que pouco encerra.
Já a “bolêta”, essa sim,
lembra-me a minha terra!
Mas num magusto animado
uma castanha não escuso.
Torna-se até engraçado,
cada terra com seu uso!
João Celorico
Lena, as maçãs bravo esmolfe são excepcionais, mas as da minha tia eram muito mais perfumadas.
ResponderEliminarQuanto às bolotas, o meu pai é que sabia quais as azinheiras que davam boas bolotas. Estas são excelentes assadas, mas também dão para fazer bolos, utilizadas mais ou menos como a amêndoa. No entanto, são tradições que se têm perdido...
Bjs
Júlia
João, estou de acordo consigo sobre a especulação que há à volta da castanha assada. Se calhar, para as pessoas que vivem na região de Lisboa, funciona a saudade de uma ruralidade perdida, o que justifica que dêem um dinheirão por um pacotinho de castanhas.
ResponderEliminarQuanto às "bolêtas" são uma saudade difícil de matar...
Gostei muito do seu comentário e dos versos.
Cumprimentos
Júlia
Olá Júlia sabe que também eu comia umas saborosas bolotas, quando o meu pai ia à caça?
ResponderEliminarNós, as filhas pediamos que não se esquecesse das gordinhas bolotas e depois chamávamos-lhes um figo... assadas e, por vezes ,mesmo cruas.
Lá ficavam os porquinhos com menos paparoca...!!!
As maçãs bravo esmolfe são muito saborosas e cheirosas. São muito portuguesas!
Boa sorte
Beijinhos
Alcinda
ahahah A trocas de castasnhas por maçãs fez-me lembrar o meu vício por azeitonas ao ponto de ter ganho do velho padrinho a alcunha de "tordo" durante a adolescência eheheh
ResponderEliminarQuando era pequena cheguei a trocar chouriço e todo o tipo de fruta por azeitonas ahahah
Amanhã tentarei voltar com mais tempo para comentar o texto
jinhos
Olá Júlia
ResponderEliminarVocê é das minhas. Logo a abrir, confessa que o magusto, para si, é uma não tradição. Sem papas na língua! Esmiuça depois uma série de episódios da sua vida que demonstram conhecer bem o assunto, a começar pela sua experiência como docente na escola de Loures.
Concordo consigo. As maçãs bravo esmolfe exalam o tal perfume. Também gosto. Compro-as, sempre que as encontro à venda. São extremamente tenras e saborosas!
Olhe, fiquei curioso de experimentar as tais "deliciosas bolotas" assadas na cinza da lareira. É novidade para mim.
Gostei muito do seu texto.
Alcinda, sabe que com as bolotas também se contruiam uns porquinhos para brincar? Faziam-se uns furinhos onde se introduziam 4 bocadinhos de pau de fósforo para fazer as pernas; na frente, na parte superior, duas fendas onde se metiam uns bocadinhos de casca com a forma das orelhas. E pronto, estava feito um brinquedo.
ResponderEliminarPois, estamos exactamente no tempo das maçãs bravo esmolfe...
Beijinho
Pascoalita,
ResponderEliminarComo boa alentejana, também gosto muito de azeitonas. Nesta altura comem-se aqui as azeitonas pisadas (ou britadas) que são as primeiras da época e duram pouco tempo. São preparadas com o fruto ainda verde e dá-se-lhes uma pancada com um martelo de madeira. Depois põe-se em água, a qual é mudada frequentemente. Depois é só pôr sal. São muito boas e são também as minhas preferidas.
Beijinho
José Pinto,
ResponderEliminarAgradeço as suas amáveis palavras sobre o meu texto.
As maçãs bravo esmolfe são muito boas mas as maçãs da minha tia eram muito diferentes e mais perfumadas. Ainda encontrei destas maçãs há muito tempo numa pequena loja em Lisboa, mas parece que desapareceram do mercado. Provavelmente as exigências normalizadoras dos produtos agrícolas acabaram com a sua produção.
Olá Julia!
ResponderEliminarNada com a sinceridade, Diz sem exitações não apreciar as castanhas assadas, preferindo as bolotas, provávalmente tem razão, nunca esperimentei mas tenho ouvido comentários muito favoráveis ás bolotas assadas,espero poder vir a degustar essa maravilha.
E confesso que a primeira vez que tive conhecimento de que a bolota (algumas especies) eram muito boas assadas foi pela boca de uma Chinesa, que mal falava português.
Gostei muito do seu texto.
Um abraço
Acacio
Gostei do seu texto. Adoro essa maçãs de Bravo Esmolf que o meu pai comprava para pôr em cima dos barris de vinho. Dizia ele que era para perfumar o vinho.
ResponderEliminarUm abraço e boa sorte.