Tinha acabado de fazer 6 anitos quando participei no meu primeiro magusto. Foi um dia para esquecer…pelo menos para mim… Nessa altura andava na Escola Primária do Chãos, uma aldeia próxima da Mêda, onde a minha mãe ensinava as primeiras letras aos 16 meninos que lá havia, incluindo a mim.
No dia marcado saímos todos da escola rumando para o pinhal que havia lá perto, ao encontro de outro grupo da Escola de Casteição. Pelo caminho cantámos, alegres com mil e uma canções na ponta da língua.
Assim que chegámos ao local combinado, a euforia aumentou de tom, com as brincadeiras de miúdos. Mas foi sol de pouca dura…alguém disse que era preciso procurar muita caruma e lenha para ascender a fogueira…
Até aqui achei tudo muito engraçado e divertido, incluindo a parte em que se acendeu a fogueira e ficámos em redor a cantar, à espera que as castanhas dessem os primeiros “estalos”.
Mas na hora de retirar as castanhas da caruma, tudo mudou!
Queriam agarrar-me para borrar a minha cara com a caruma…quase parecia uma cena de outro mundo… Só chamava pela minha mãe, pois não queria, nem por nada, ficar toda “suja” com aquelas coisas pretas.
Todos se riam, com a minha aflição… ninguém me levavam a sério. O que é certo é que fiz de tudo para ninguém me borrar, embora fosse apanhada,no meio de tantos maiores que eu… Vezes sem conta perguntava à minha mãe se tinha a cara suja.
Se naquele dia tivesse um espelho à frente não sei se iria chorar mais por estar suja ou por não reconhecer a minha triste figura …
No regresso a casa, jurei que aquele dia seria o meu primeiro e último magusto da minha vida!
A promessa cumpriu-se. Nunca mais voltei a ter um magusto como aquele.
Hoje olho para os meus filhos e penso que não terão a mesma oportunidade participar no magusto tradicional, como aquele que vivi. A nova geração não participa no processo do magusto. A castanha é , simplesmente, assada no forno eléctrico da escola e distribuída aos meninos na sala.
A tradição já não é o que era, não acham?
Escrito por Joana, do blogue Diário de Joana
Cara Joana!
ResponderEliminarNão fique triste por não ter "magusto", há quem também nunca o tenha tido e ainda está vivo!
São sempre boas as lembranças, ainda que de momentos em nos parecia que o mundo nos caía em cima!
Para amenizar, aqui vai:
Diz ser dia para esquecer
por tudo o que aconteceu
mas, se o veio aqui trazer
foi porque o não esqueceu!
Que é que a Joana espera?
Que a tradição volte mais?
Que já não é o que era,
já o diziam nossos pais!
Aconteça o que acontecer,
sou eu mesmo que asseguro,
os jovens o mesmo vão dizer
e já, num próximo futuro!
E o magusto, note bem,
hoje é bem diferente.
Até a castanha não tem
o sabor de antigamente!
Aquilo que eu não entendo,
até a língua se me enrola,
era o mal que iam fazendo
à filha da mestre-escola!
No meu tempo, dito e feito,
não era como hoje em dia,
quando faltava o respeito
“Dona Régua” até fervia!
João Celorico
Olá Joana!
ResponderEliminarAté já a estou a imaginar a fugir para não ser enfarruscada...lol...
Hoje,os miúdos têm outras diversões,mas têm...é vé-los correr para a lama ou para os charcos de água.
Bom fim-de-semana
Jocas gordas
Lena
Puxa! Não conhecia, ou já não me lembro (talvez porque nunca fui vítima) desse costume aldeão. Fizeste-me lembrar a "barrela" a que na minha aldeia, também do distrito da Gaurda, sujeitavam as miúdas.
ResponderEliminarum grupo de garotos (rapazolas) viravam-nas de cabeça para baixo e enfiavam-se um punhado de areia sobre ou por baixo das cuecas ... bem me lembro que vivia apavorada com receio de um dia calhar a minha vez, sobretudo porque na altura não usava cuecas ahahahah
Texto interessante
jinho
Os magustos da escola ainda hoje fazem as delícias da pequenada, nomeadamente dos mais pequenitos do primeiro ciclo. Normalmente, trazem um punhadito de castanhas para oferecerem aos pais quando chegam a casa. É um momento de ternura. Eles têm a sensação de dar comida aos pais!
ResponderEliminarTambém eu tive um primeiro magusto assim, Joana!
ResponderEliminarMas foi aos 19 anos e a professora era eu.
Mas acredita que para mim foi um dia mágico e inesquecível?
Acho que foram as melhores castanhas da minha, ainda que misturadas com cinza.
Boa sorte
Beijinhos
Alcinda
Olá amigos! Obrigada por partilharem as vossas experiências comigo! Mas como se diz, o tempo não volta atrás...em compensação, aparecem outras coisas melhores.
ResponderEliminarBjs Joana
Muito bonito o seu texto. De facto, há experiências tão marcantes que são irrepetíveis.
ResponderEliminarEngraçado que eu gostava quase tanto de ficar com a cara enfarruscada como das castanhas. Era a única altura em que podíamos sujar-nos à vontade sem levar uma boa tareia da mãe.
ResponderEliminarUm abraço e boa sorte