sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O meu primeiro magusto




Tinha acabado de fazer 6 anitos quando participei no meu primeiro magusto. Foi um dia para esquecer…pelo menos para mim… Nessa altura andava na Escola Primária do Chãos, uma aldeia próxima da Mêda, onde a minha mãe ensinava as primeiras letras aos 16 meninos que lá havia, incluindo a mim.


No dia marcado saímos todos da escola rumando para o pinhal que havia lá perto, ao encontro de outro grupo da Escola de Casteição. Pelo caminho cantámos, alegres com mil e uma canções na ponta da língua.

Assim que chegámos ao local combinado, a euforia aumentou de tom, com as brincadeiras de miúdos. Mas foi sol de pouca dura…alguém disse que era preciso procurar muita caruma e lenha para ascender a fogueira…

Até aqui achei tudo muito engraçado e divertido, incluindo a parte em que se acendeu a fogueira e ficámos em redor a cantar, à espera que as castanhas dessem os primeiros “estalos”.

Mas na hora de retirar as castanhas da caruma, tudo mudou!

Queriam agarrar-me para borrar a minha cara com a caruma…quase parecia uma cena de outro mundo… Só chamava pela minha mãe, pois não queria, nem por nada, ficar toda “suja” com aquelas coisas pretas.

Todos se riam, com a minha aflição… ninguém me levavam a sério. O que é certo é que fiz de tudo para ninguém me borrar, embora fosse apanhada,no meio de tantos maiores que eu… Vezes sem conta perguntava à minha mãe se tinha a cara suja.

Se naquele dia tivesse um espelho à frente não sei se iria chorar mais por estar suja ou por não reconhecer a minha triste figura …

No regresso a casa, jurei que aquele dia seria o meu primeiro e último magusto da minha vida!

A promessa cumpriu-se. Nunca mais voltei a ter um magusto como aquele.

Hoje olho para os meus filhos e penso que não terão a mesma oportunidade participar no magusto tradicional, como aquele que vivi. A nova geração não participa no processo do magusto. A castanha é , simplesmente, assada no forno eléctrico da escola e distribuída aos meninos na sala.

A tradição já não é o que era, não acham?


Escrito por Joana, do blogue Diário de Joana

8 comentários:

  1. Cara Joana!

    Não fique triste por não ter "magusto", há quem também nunca o tenha tido e ainda está vivo!
    São sempre boas as lembranças, ainda que de momentos em nos parecia que o mundo nos caía em cima!

    Para amenizar, aqui vai:

    Diz ser dia para esquecer
    por tudo o que aconteceu
    mas, se o veio aqui trazer
    foi porque o não esqueceu!

    Que é que a Joana espera?
    Que a tradição volte mais?
    Que já não é o que era,
    já o diziam nossos pais!

    Aconteça o que acontecer,
    sou eu mesmo que asseguro,
    os jovens o mesmo vão dizer
    e já, num próximo futuro!

    E o magusto, note bem,
    hoje é bem diferente.
    Até a castanha não tem
    o sabor de antigamente!

    Aquilo que eu não entendo,
    até a língua se me enrola,
    era o mal que iam fazendo
    à filha da mestre-escola!

    No meu tempo, dito e feito,
    não era como hoje em dia,
    quando faltava o respeito
    “Dona Régua” até fervia!

    João Celorico

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  2. Olá Joana!
    Até já a estou a imaginar a fugir para não ser enfarruscada...lol...
    Hoje,os miúdos têm outras diversões,mas têm...é vé-los correr para a lama ou para os charcos de água.

    Bom fim-de-semana
    Jocas gordas
    Lena

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  3. Puxa! Não conhecia, ou já não me lembro (talvez porque nunca fui vítima) desse costume aldeão. Fizeste-me lembrar a "barrela" a que na minha aldeia, também do distrito da Gaurda, sujeitavam as miúdas.

    um grupo de garotos (rapazolas) viravam-nas de cabeça para baixo e enfiavam-se um punhado de areia sobre ou por baixo das cuecas ... bem me lembro que vivia apavorada com receio de um dia calhar a minha vez, sobretudo porque na altura não usava cuecas ahahahah

    Texto interessante

    jinho

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  4. Os magustos da escola ainda hoje fazem as delícias da pequenada, nomeadamente dos mais pequenitos do primeiro ciclo. Normalmente, trazem um punhadito de castanhas para oferecerem aos pais quando chegam a casa. É um momento de ternura. Eles têm a sensação de dar comida aos pais!

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  5. Também eu tive um primeiro magusto assim, Joana!
    Mas foi aos 19 anos e a professora era eu.
    Mas acredita que para mim foi um dia mágico e inesquecível?
    Acho que foram as melhores castanhas da minha, ainda que misturadas com cinza.
    Boa sorte
    Beijinhos
    Alcinda

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  6. Olá amigos! Obrigada por partilharem as vossas experiências comigo! Mas como se diz, o tempo não volta atrás...em compensação, aparecem outras coisas melhores.
    Bjs Joana

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  7. Muito bonito o seu texto. De facto, há experiências tão marcantes que são irrepetíveis.

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  8. Engraçado que eu gostava quase tanto de ficar com a cara enfarruscada como das castanhas. Era a única altura em que podíamos sujar-nos à vontade sem levar uma boa tareia da mãe.
    Um abraço e boa sorte

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