O meu Avô materno era o Senhor Tenente da Guarda Fiscal Braz Antunes. Aos 82 anos usava um bigode retorcido e encerado, tão branco como as suas cãs, e ia ao palio nas procissões. Era de Montalvão e subira a pulso na carreira. Entrara como guarda e, segundo ele, não fora «ajudante de auxiliar de praticante» porque não havia tal posto…
Homem sério, avisado, honesto e ponderado, tinha porém um espírito apurado, uma graça fina como só ele. Sempre que podia aferroava a minha Avó Maria, natural de Aldeia da Ponte. Eram os beirões para aqui, os ratinhos para acolá, um fartote que deixava a mulher muito encrespada.
Um dia contou-nos a estória – naquele tempo ainda era história – de dois irmãos que foram roubar/comer castanhas num ramo da árvore progenitora. A dada altura, dizia o Manuel para o Zé: «Ó Jéi, ê cá comi mais castanhas do ca tu!!!» E o outro, que não, que quem comera mais fora ele. «Ó Jéi ê comi-as ca camicha…» E o Manuel: «Nada, nada, mano. Ê comias co cajaco!!!» Acrescentava o Senhor Tenente que os dois eram nados na Aldeia da Ponte. A Dona Maria imagina-se como ficava.
Lambo-me por castanhas. Foi de minha Mãe que guardei a receita de as cozer, proveniente da Avó. E mãe dela, obviamente. Mas também as adoro assadas, na brasa, a saltar, como canta o Carlos do Carmo. E de pudim das ditas. Só não gosto de apanhar castanha. Faz doer.
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Na minha qualidade de "ofendido" (beirão, ratinho e outros adjectivos que me podem chamar mas eu não ligo) venho aqui defender a "honra" da minha bancada (a das castanhas, entenda-se)!
ResponderEliminarCá vai:
Um guarda de Montalvão
de fé, até comungava,
entrava na procissão
e a mulher arreliava!
Vejam a vida do velhote!
Era ferroada que fervia,
estórias era um fartote,
e coitada da Avó Maria!
Na estória do Manel e do Zé
e dum velhote meio velhaco
castanhas, comem-se em pé,
com camicha e com cajaco!
Os rapazes eram da Beira,
nada há que se lhes aponte,
a menos que o velho queira.
Eram da Aldeia da Ponte!
Castanhas pode lamber
com a receita da avó
mas nisso, pode crer,
decerto não estará só!
Termino, como convém,
pr’á “castanha” acabar.
Mas, será que alguém
gosta de as apanhar?
João Celorico
Olá!
ResponderEliminarBem,nunca comi o casaco da castanha,lol,nem tão pouco a camisa...lol..sou mais do miolo. No entanto,ainda aguardo a oportunidade de comer 1 pudim da dita :)
Os seus avós deviam ser o máximo :)
Bom fim-de-semana
Jocas gordas
Lena
Um texto bem-humorado, muito ao estilo de Antunes Ferreira. Desceu às suas raízes e mostrou-nos o retrato do Senhor Tenente, seu avô, com aquele bigode retorcido, para logo nos brindar com uma narrativa bem pitoresca que dele recolheu. Brincou com as palavras e empregou muito bem o linguajar daqueles catraios. Se bem entendi, a “camicha” e o “cajaco” mais não eram do que a casquinha e a casca da castanhas. Achei muita graça!
ResponderEliminarEstas rivalidades regionais são muito características de um certo tempo (será que agora já não?) Alentejano é alentejano e beirão é beirão, nada de confusões!
ResponderEliminarEsta história só rivaliza com as que ouvia o meu pai contar acerca de caçadas fantásticas...