sábado, 28 de novembro de 2009

MAGUSTO


Em 1973 a Direcção da Federação Portuguesa de Campismo, foi convidada pelo clube de Campismo de Penacova, para estar presente num Magusto, que se realizaria naquela localidade, com o patrocínio da Câmara Municipal, também extensiva aos seus familiares.

Confesso, que nunca tinha ido a Penacova, que fiquei interessado em conhecer e acima de tudo conviver e comemorar a festa em honra de S. Martinho.

Em casa dos meus pais (dia de anos do progenitor) a coisa piava fino, era um dia aguardado religiosamente, e na mesa grande, talvez aí de 4 m de comprido de bancos corridos, sentavam-se para jantar na noite de 10 para 11 de Novembro, além dos da casa, mais uns familiares e amigos, ficando a mesa cheia e às vezes ainda tinhamos de apertar os cotovelos, já que, sempre aparecia mais alguém.

O repasto era de primeira qualidade: - Línguas de bacalhau, caras, lagosta salgada, comprada numa das casas da rua do Arsenal, mesmo ali ao Cais do Sodré – pois é .-
como na cantiga do Rodrigo. Atum salgado, vindo expressamente da madeira, acompanhado de couves, batatas, couve flor, Azeite das nossas quintas, água pé de moscatel, e da normal, jarros enormes de vinho tinto da nossa Adega e castanhas muitas castanhas, movendo-se o céu e a terra, porque se fazia questão de serem de Carrazedo de Ansiães. Pela meia noite era lançados uns foguetes, restos das festas liturgicas da nossa Senhora da Soledade.

Foi sempre assim desde que me conheci, mas neste ano resolvi falhar em casa e saltar com os amigos, para estar presente no meu primeiro baptismo de um Magusto fora do meu habitat.

Penacova fica num alto, e no largo da Câmara tem um miradouro, de onde se aprecia uma paisagem impressionante. As gentes do campo, com capazes de verga à cabeça iam chegando e colocavam o que ofereciam para dar de comer aos visitantes. Não contei os presentes, mas posso calcular que seriam para cima de 800, e admitia não ser possível arranjar gratuitamente tanta comida para aquela multidão. Mas o numero de ofertantes conforme as horas se aproximavam, ia aumentando e a dada altura já não havia mesas que chegassem para tanta comida. Desde galos, coelhos, chouriços, presuntos, morcelas, cozido à portuguesa, garrafões e garrafões de vinho, nada faltava, naquelas mesas fartas que as gentes de Penacova desinteressadamente encheram. Com a colaboração do Corpo de Bombeiros, foi feita uma fogueira de tamanho colossal, onde foram colocadas sacas e sacas de castanhas para saciar os nossos desejos.

Pois aquelas mulheres, que trouxeram à cabeça toda aquela comida, algumas dos confins do Concelho, arregaçavam as mangas e deitavam-se ao trabalho de, partir, assar, fatiar presuntos, cortar o pão, preparar copos, separar vinhos, enfim uma organização impecável e digna de ser comentada como exemplo de como se organiza uma festa popular.

Tirei imensas fotografias e ilustro este conto, com uma senhora a assar chouriços de sua oferta, que me chamou a atenção pela tamanho do seu bigode, chamuscado pela labareda do alcool e cujo marido aproveitava a ocasião, já com grão na asa para brincar com o buço da sua cara metade, não se sentindo ela nada ofendida e dando largas à sua satisfação., admito que de veria ter sido a mais fotografada no magusto.


Escrito por Zé do Cão, do blogue Zé do Cão


Este texto não se encontra em concurso. Foi elaborado apenas num espírito de camaradagem.

2 comentários:

  1. Eis um texto a preceito
    pena não ser concorrente
    o Zé do canito tem jeito
    para fazer rir a gente

    Deixava aqui o meu ponto
    sem qualquer hesitação
    mas vou escolher outro conto
    o que dá um trabalhão!

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  2. Pois este texto não está a concurso (mas devia estar) e, como tal, vai levar comentário.

    Tempos em que a vida era dura, e bem dura, mas as pessoas se respeitavam e, parecendo que o trabalho as não cansava, davam sempre mais um bocadinho de si.
    Pena é que a fartura (tempos de vacas gordas) esteja a acabar e as mulheres, que não usavam o Taky nem conheciam a Madame Campos, também já não vai havendo muitas. Já vão à esteticista!
    Com esta, simpática e singular, é até muito possível que lá em casa houvesse alguma cena de “violência doméstica” e o marido pagasse pelo atrevimento!


    Este magusto em Penacova,
    coisa de abrir o apetite,
    era uma experiência nova
    e, além disso, com convite!

    E na memória o que perdura
    deste magusto, anos setenta,
    é, meu Deus, tanta fartura
    e a mulher de “pêlo na venta”!

    João Celorico

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