quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O S. MARTINHO EM SERRELEIS



A azáfama começava muito antes do dia de S Martinho.
Cada um de nós tinha a responsabilidade de levar castanhas e caruma. A garvalha como se diz na nossa terra, era apanhada pela miudagem no monte.
Nunca eu queria tanto ir ao monte como nos dias que antecediam o S Martinho. Eu andava num verdadeiro frenesim a juntar caruma. Tanta que muitas vezes nem podia com ela….

Lá em casa não havia castanheiro. Havia muitos na vizinhança.
A caminho da escola, lá íamos com um saquinho na mão, a apanhar todas as que tinham caído dos ouriços durante a noite. À hora de almoço e à tardinha a preocupação era a mesma…não ficava uma única castanha no chão…
Chegado o grande dia, o magusto decorria no mesmo sítio de todas as outras festas. No largo da Igreja! É aqui que tudo continua a acontecer nas pequenas aldeias. Serreleis não fugia à regra!
A canalha sentava-se em círculo no coreto. No meio era colocada a garvalha amealhada por todos, uma camada de castanhas e por cima outra de garvalha. Os adultos pegavam fogo e a festa começava!
Enquanto as castanhas estalavam, as cantorias iam-se sucedendo, os adultos presentes, tratavam da assadura, de juntar a garvalha, de virar as castanhas...
Todos saboreávamos as castanhas, com cantorias à mistura…E a festa durava a tarde inteira!
O dia terminava com a limpeza do coreto. Iria provavelmente ser utilizado por uma banda por altura do Natal, ou pelas festas de S Silvestre, no fim do ano…
Tempos em que dar felicidade às crianças era apenas e só proporcionar um encontro com objectivos e participação activa. Ainda haverá destes magustos?

Escrito por Fátima Camilo, do blogue Simecq.Cultura
 
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8 comentários:

  1. Olá Fátima!
    Penso que se houver,deve ser mesmo em pequenos lugares e muito poucos...pois pelo que tenho lido nos textos,agora é dentro da escola, em fornos eléctricos.É pena...Eu desconhecia a tradição de enfarruscar tudo e todos e acharia muito giro experimentar :) Mas não faz mal,já me contento com castanhas assadas no forno antigo da minha tia :)

    Jocas gordas
    Lena

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  2. Magustos, desses, ainda vai havendo mas, parece ser uma espécie em vias de extinção.
    Agora há o Dia das Bruxas e outros "bruxedos"! É a globalização e não só!

    Pois é, minha boa gente,
    as voltas que o mundo dá,
    magustos como antigamente
    desses, assim, já não há!

    Pelos caminhos, todos à uma,
    toda a miudagem, a “canalha”,
    apanhavam castanha e caruma
    ou, como se diz, a garvalha!

    Ainda antes do S. Martinho,
    por onde a canalha passava,
    ao longo de todo o caminho
    nenhuma castanha escapava!

    Para que todo mundo veja,
    Serreleis não é diferente,
    pois é no largo da igreja
    que se junta toda a gente!

    Depois de muita cantoria,
    para terminar em beleza
    e já bem no fim do dia,
    todos ao coreto! À limpeza!

    João Celorico

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  3. Enquanto viver na aldeia alguém que tenha uma tão boa memória do Magusto como a Fátima, de certeza que vai haver.
    Um abraço e boa sorte.

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  4. Fátima esta blogagem encantou-me pela possibilidade que nos deu de "esmiuçar"uma tradição popular.
    Ficámos a saber muito mais detalhes desta festa!
    A própria terminologia varia de região para região...eu nem conhecia o termo garvalha.
    Também o local, o largo da igreja, espaço de convivência social por excelência das gentes a norte do Tejo? ou do Mondego?... não sei bem...
    Boa sorte
    Um beijinho
    Alcinda

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  5. Pois, todas estas festas populares vividas durante a infância ficam na memória e renascem depois em textos como este. Parabéns e um beijo, Fátima.

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  6. Infelizmente, hoje, vai deixando de haver o Magusto, o Natal, a Páscoa e tantas outras tradições populares tão típicas e tão envolventes do imaginário das crianças. Cabe-nos a nós, adultos, fazer com que, isso, não aconteça. Posso dizer que, pela minha parte, o fui tentando, em certa medida, com os meus. Mas, reconheço que, nas cidades e om a vida que, hoje, se leva, isso se vai tornando cada vez mais difícil... Só que, aí, está o desafio!... E, relatos como estes, deixam-nos ficar com água na boca.

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  7. Fátima

    Como é bom recordar outros tempos. Serreleis é uma aldeia maravilhosa e ainda este ano lá estive com a minha mulher.
    Isto não se faz aos amigos. Trazer aqui recordações tão ... tão... tão!
    Beijinhos

    António Inglês

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  8. Fátima, podiam ser pobres, esfarrapados, viver nos confins da civilização, mas o que é certo é que estes sabores são aqueles que nos dão as raízes e nos fazem sermos tudo; termos o sentimento de pertença.

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