A azáfama começava muito antes do dia de S Martinho.
Cada um de nós tinha a responsabilidade de levar castanhas e caruma. A garvalha como se diz na nossa terra, era apanhada pela miudagem no monte.
Nunca eu queria tanto ir ao monte como nos dias que antecediam o S Martinho. Eu andava num verdadeiro frenesim a juntar caruma. Tanta que muitas vezes nem podia com ela….
Lá em casa não havia castanheiro. Havia muitos na vizinhança.
A caminho da escola, lá íamos com um saquinho na mão, a apanhar todas as que tinham caído dos ouriços durante a noite. À hora de almoço e à tardinha a preocupação era a mesma…não ficava uma única castanha no chão…
Chegado o grande dia, o magusto decorria no mesmo sítio de todas as outras festas. No largo da Igreja! É aqui que tudo continua a acontecer nas pequenas aldeias. Serreleis não fugia à regra!
A canalha sentava-se em círculo no coreto. No meio era colocada a garvalha amealhada por todos, uma camada de castanhas e por cima outra de garvalha. Os adultos pegavam fogo e a festa começava!
Enquanto as castanhas estalavam, as cantorias iam-se sucedendo, os adultos presentes, tratavam da assadura, de juntar a garvalha, de virar as castanhas...
Todos saboreávamos as castanhas, com cantorias à mistura…E a festa durava a tarde inteira!
O dia terminava com a limpeza do coreto. Iria provavelmente ser utilizado por uma banda por altura do Natal, ou pelas festas de S Silvestre, no fim do ano…
Tempos em que dar felicidade às crianças era apenas e só proporcionar um encontro com objectivos e participação activa. Ainda haverá destes magustos?
Escrito por Fátima Camilo, do blogue Simecq.Cultura
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Olá Fátima!
ResponderEliminarPenso que se houver,deve ser mesmo em pequenos lugares e muito poucos...pois pelo que tenho lido nos textos,agora é dentro da escola, em fornos eléctricos.É pena...Eu desconhecia a tradição de enfarruscar tudo e todos e acharia muito giro experimentar :) Mas não faz mal,já me contento com castanhas assadas no forno antigo da minha tia :)
Jocas gordas
Lena
Magustos, desses, ainda vai havendo mas, parece ser uma espécie em vias de extinção.
ResponderEliminarAgora há o Dia das Bruxas e outros "bruxedos"! É a globalização e não só!
Pois é, minha boa gente,
as voltas que o mundo dá,
magustos como antigamente
desses, assim, já não há!
Pelos caminhos, todos à uma,
toda a miudagem, a “canalha”,
apanhavam castanha e caruma
ou, como se diz, a garvalha!
Ainda antes do S. Martinho,
por onde a canalha passava,
ao longo de todo o caminho
nenhuma castanha escapava!
Para que todo mundo veja,
Serreleis não é diferente,
pois é no largo da igreja
que se junta toda a gente!
Depois de muita cantoria,
para terminar em beleza
e já bem no fim do dia,
todos ao coreto! À limpeza!
João Celorico
Enquanto viver na aldeia alguém que tenha uma tão boa memória do Magusto como a Fátima, de certeza que vai haver.
ResponderEliminarUm abraço e boa sorte.
Fátima esta blogagem encantou-me pela possibilidade que nos deu de "esmiuçar"uma tradição popular.
ResponderEliminarFicámos a saber muito mais detalhes desta festa!
A própria terminologia varia de região para região...eu nem conhecia o termo garvalha.
Também o local, o largo da igreja, espaço de convivência social por excelência das gentes a norte do Tejo? ou do Mondego?... não sei bem...
Boa sorte
Um beijinho
Alcinda
Pois, todas estas festas populares vividas durante a infância ficam na memória e renascem depois em textos como este. Parabéns e um beijo, Fátima.
ResponderEliminarInfelizmente, hoje, vai deixando de haver o Magusto, o Natal, a Páscoa e tantas outras tradições populares tão típicas e tão envolventes do imaginário das crianças. Cabe-nos a nós, adultos, fazer com que, isso, não aconteça. Posso dizer que, pela minha parte, o fui tentando, em certa medida, com os meus. Mas, reconheço que, nas cidades e om a vida que, hoje, se leva, isso se vai tornando cada vez mais difícil... Só que, aí, está o desafio!... E, relatos como estes, deixam-nos ficar com água na boca.
ResponderEliminarFátima
ResponderEliminarComo é bom recordar outros tempos. Serreleis é uma aldeia maravilhosa e ainda este ano lá estive com a minha mulher.
Isto não se faz aos amigos. Trazer aqui recordações tão ... tão... tão!
Beijinhos
António Inglês
Fátima, podiam ser pobres, esfarrapados, viver nos confins da civilização, mas o que é certo é que estes sabores são aqueles que nos dão as raízes e nos fazem sermos tudo; termos o sentimento de pertença.
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