A primeira vez que eu participei num Magusto foi no início dos anos setenta quando cheguei aqui ao Oeste.
No Alentejo, pelo menos na minha zona, não havia essa tradição. Comiam-se frutos secos, vindos do Algarve: as galinhas e os galos de pasta de figo, as amêndoas, as nozes… até há a feira de Castro Verde, cantada pela Mariza, onde se compram os frutos secos, em finais de Outubro.
Aqui chegada, logo os meus alunos começaram a falar de magusto, perguntando com alguma ansiedade, se este ano não havia.
Ficaram atónitos com o meu desconhecimento, mas esclareceram-me e o magusto foi aprazado para o dia de S. Martinho, tendo eles tomado a responsabilidade da organização do mesmo.
No dia de S. Martinho, a azáfama no pátio da escola era muita e a vozearia da garotada ensurdecedora!
Os meninos fizeram a fogueira com a lenha que eles próprios apanharam e lá dentro deitaram as castanhas depois de devidamente cortadas.
A partir daí foi o delírio total… os miúdos tiravam as castanhas assadas da fogueira, comiam-nas, voltavam a deitar mais castanhas na fogueira e, sobretudo enfarruscavam-se todos uns aos outros, no meio de grandes corridas, gritarias e brincadeiras.
A alegria reinava naquele pátio de recreio….cantavam-se cantigas alusivas ao S. Martinho...
Eu, nos meus verdes anos e perante o desconhecido estava também encantada, desconfio mesmo que também enfarrusquei algumas carinhas…comi muitas castanhas e diverti-me imenso.
Nem me lembro de mais alguma vez comer castanhas assadas como aquelas do meu primeiro magusto!
Eram mesmo “quentes e boas, quentinhas, a estalarem cinzentas na brasa”
Com o decorrer dos anos, os magustos nas escolas foram perdendo as suas características, por razões práticas e de segurança. Mantém-se o convívio, comem-se castanhas mas aquela fogueira no chão, as castanhas a assar lá dentro e os miúdos a retirarem-nas com um pauzinho pertence ao passado.
Escrito por Alcinda Leal, do blogue Soma dos Dias
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A Alcinda deixou reflectida neste belo texto a sua vivência profissional entre regiões. Descreveu, depois, o seu primeiro magusto na escola. Sobre o impacto que ele teve sobre os miúdos, diz a certa altura: "A partir daí foi o delírio total..."
ResponderEliminarFinalmente, apontou razões práticas e de segurança para o abandono crescente da assadura das castanhas nas escolas portuguesas. Um pormenor interessante!
Gostei muito do seu trabalho.
Um abraço.
Olá Alcinda!
ResponderEliminarSerá de aceitar como diz a Lcinda desconhecer o que era um magusto até chegar à zona do Oeste. É bem natural porque no Alentejo ou em grande parte dele não há castanhas, logo a tradição do magusto não fazer parte dos hábitos locais.
Enquanto mais para norte há o bom hábito de levar para os magustos, os queijos e os enchidos,
Talvez no Alentejo ficasse bem levar umas castanhas para acompanhar com os deliciosos queijos e enchidos com o tradicional pão alentejano que tão bem sabem em especial quando degustados á volta da chaminé.
Parabéns Alcinda gostei muito do texto e a imagem criou-me um bom apetite, pois parece-me ser a melhor imagem de castanhas assadas até agora apresentada
Um abraço
Acácio
Pois era tal e qual assim nos magustos da minha aldeia, Beira Alta ... as castanhas eram assadas directamente na fogueira e se alguma era esquecida ou deliberadamente deixada inteira, sem ser cortada, ouvia-se um "bufar" e a seguir um estoiro tal que, se não fugíssemos a sete pés, ficávamos cheios de cinza eheheheh
ResponderEliminarNão me lembro de haver o hábito de nos enfarruscarmos. Hábitos que a pouco e pouco foram desaparecendo e dando lugar a outras brincadeiras, à medida que foram surgindo novas e cativantes tecnologias.
Um bonito texto. Parabéns!
Um beijo
Amiga Alcinda!
ResponderEliminarSão as pequenas coisas, os pequenos gestos, os mais simples, que nos engrandecem e fazem gostar da vida! São esses os que nos marcam e que não esquecemos!
E à jovem professora
perguntou a criançada,
:- Mas, então, ó setôra,
não há magusto nem nada?
E perante esta questão,
tão fora de ser esperada,
a jovem deitou a mão,
pediu para ser ensinada!
Quem estivesse a observar
nunca em tal podia crer,
eram as crianças a ensinar
e a professora a aprender!
Ensinando, pela vida fora,
muito mais ela aprendeu.
Este magusto, di-lo agora,
nunca mais ela o esqueceu!
João Celorico
Pois é José, hoje em dia era impensável pôr crianças de 6 a 10 anos a fazer fogueiras e a debruçar-se sobre elas para deitar e tirar castanhas...naquele tempo as crianças traziam esses saberes de casa,onde ajudavam os pais.
ResponderEliminarHoje perderam-se as caracteristicas especificas dos grupos... estar na cidade ou no campo é indiferente, as vivências massificaram-se e os saberes deste tipo diminuiram... por isso é que o seu trabalho junto da comunidade é tão importante.
Muito obrigada pelo comentário.
Um abraço
Alcinda
No Alentejo,Acácio, quanto muito comíamos umas bolotas... mas também nunca esqueço a feira de Castro Verde onde comprávamos os frutos secos!
ResponderEliminarE do Algarve vinham uns cestinhos com galinhas e galos de pasta de figo e cristas de amêndoa.
Eram saborosos e bonitos.
E fazíamos sandes de figo com amêndoas ou nozes.
Eram as diferenças regionais que a globalização atenuou!
Obrigada pelo seu comentário
Um abraço
Alcinda
Pascoalita
ResponderEliminarPois é as enfarruscadelas eram um pretexto para os rapazes fazerem umas festinhas às raparigas...
Explicou-me hoje uma amiga beirã, que naqueles tempos de grande rigidez de costumes, os jovens viam nessa brincadeira um certo jogo amoroso.
O interdito pode gerar essas reacções...
Pelo menos achei curiosa a ideia!
Obrigada pelo comentário.
Um beijinho
Alcinda
Meu amigo João Celorico, o senhor estraga-nos com o seu miminho poético!
ResponderEliminarNão tenho palavras para lhe agradecer esses seus simpáticos versos.
Mas é bem verdade que muito aprendi também com os alunos ao longo da minha carreira, mas aquele era mesmo o meu primeiro ano de trabalho e eu tinha acabado de fazer 19 anos...e muitos objectivos para cumprir...
Muito obrigada pelo seu simpático comentário.
Um abraço
Alcinda
Olá Alcinda!
ResponderEliminarImagino-a jovem professora,deve ter sentido apreensão,mas ao mesmo tempo,uma alegria enorme.E esse tipo de convívio aproxima muito os alunos do professor :) Parabéns.
Jocas gordas
Lena
Saudações desde Paredes de Coura, Teritório com Alma.
ResponderEliminarAbraço
Ora aqui está uma das vantagens do "turismo profissional" dos professores e, duma maneira geral, das migrações no nosso país. De facto, para nós, alentejanos, o magusto não faz parte da tradição. Tem sido muito interessante ler os relatos dos participantes do interior norte. Por aqui se vê a diversidade de tradições que existe neste pequeno rectângulo onde vivemos.
ResponderEliminarBj
Viva Helena!
ResponderEliminarQuando se tem 19 anos há sempre o gosto da descoberta.
Depois era o inicio de uma carreira...
Foram tempos muito agradáveis.
E estes também são, fazem-se outras descobertas, só que já passou a idade da inocência.
Obrigada Lena pelo comentário.
Beijinhos para todas
Alcinda
Boa noite Eduardo
ResponderEliminarFiz uma visitinha ao seu blogue e gostei muito de ver a alma desse território ou seja o empenho que põe em divulgar os eventos da sua terra.
Parabéns!
Obrigada pela atenção ao meu texto.
Saudações bloguistas
Alcinda
É verdade Júlia eu também tenho achado muito interessante este tema porque ficou muito claro que o magusto era uma tradição do centro e norte do país. Há dias uma amiga beirã detalhou-me o magusto, tal qual nós aqui lemos.
ResponderEliminarMas a globalização tende a tornar tudo igual, pelo menos nas festividades.
Nós actualmente até temos a noite das bruxas...
Obrigada pelo seu comentário.
Beijinhos
Alcinda
Gostei do seu texto. Agora há medo dos incêndios, de os gaiatos saírem queimados eu sei lá mais do quê. Estamos a criar uma geração medrosa e inconsciente, de tal modo os queremos livrar de todos os perigos.
ResponderEliminarUm abraço e boa sorte.
Olá Elvira
ResponderEliminarGosto sempre muito das suas visitas e de visitá-la.
Consigo todos aprendemos.
É verdade estamos a criar uma geração superprotegida, mas que só é medrosa para o que lhe convem...os últimos anos de trabalho com crianças tornaram-se menos agradáveis por esse tipo de razões.
Contudo sou optimista e acredito que as gerações
hão-de saber dar passos certos!
Obrigada pelo seu comentário.
Um beijinho grande
Alcinda
Olá Alcinda
ResponderEliminarAdorei o seu relato...revi a minha infância
lá bem para trás da sua.Já era assim nesse meu
tempo.Pena a criançada de hoje, não poder ter
esse convívio que tanta vida nos dava.
Parabéns,.
Beijo