Respondendo ao pedido das meninas da Aldeia mais popular da Blogosfera, partilho com todos um magusto que recordo.
(Imagem retirada da Internet)
A Cusca Endiabrada cresceu no seio de uma família rural, retendo hoje apenas vagas lembranças dos rituais inerentes a cada época do ano, como a apanha da castanha, o magusto ao ar livre com a obrigatória prova do vinho novo no dia de S. Martinho que o Senhor José Gago, seu avô materno, se orgulhava de produzir e nesse dia servia aos vizinhos com tanta generosidade quanto o empenho com que restringia a bebida ao genro, mantendo uma cuidadosa vigilância ao tonel, devido à evidente incompatibilidade entre este e o precioso néctar.
A mãe lamentava-se que o pai nem o vinho devia cheirar, levando-a a supor que sofria de alergia ao natural corante tinto, só depois se apercebendo que a cor era irrelevante e que o branco exercia nele o mesmo efeito, mas o pai teimava em afirmar que o vinho lhe conferia inteligência, o que parecia ser verdade, dado que mal empinava um copito logo surgiam sinais de genialidade e começava o espectáculo que variava em número e duração conforme a dose ingerida, começando por ser ocasionais e por fim a ter lugar "dia sim, dia sim".
Num dia de S. Martinho, cujo ano já não recordo, o pai chegou a casa animado, prometendo aos filhos um fantástico Magusto! A mãe murmurava baixinho que ele já vinha com a "cadela" levando-os a olhar na sua direcção na esperança de verem surgir um “cachorro”. Acende-se a fogueira, castanhas no alguidar, as crianças ansiosas vêem o pai fazer malabarismos à volta do lume ensaiando um novo número que diz ser infalível que faz questão de exibir ainda antes de assar as castanhas! A mãe prevendo que dali nada de bom resultará, tenta distraí-lo, demove-lo da ideia, ralha, chora e lastima a sua vida, mas em vão. Do bolso do pai sai um maço de notas que enfia no borralho cobrindo-o com cinza, enquanto afirma:
A mãe lamentava-se que o pai nem o vinho devia cheirar, levando-a a supor que sofria de alergia ao natural corante tinto, só depois se apercebendo que a cor era irrelevante e que o branco exercia nele o mesmo efeito, mas o pai teimava em afirmar que o vinho lhe conferia inteligência, o que parecia ser verdade, dado que mal empinava um copito logo surgiam sinais de genialidade e começava o espectáculo que variava em número e duração conforme a dose ingerida, começando por ser ocasionais e por fim a ter lugar "dia sim, dia sim".
Num dia de S. Martinho, cujo ano já não recordo, o pai chegou a casa animado, prometendo aos filhos um fantástico Magusto! A mãe murmurava baixinho que ele já vinha com a "cadela" levando-os a olhar na sua direcção na esperança de verem surgir um “cachorro”. Acende-se a fogueira, castanhas no alguidar, as crianças ansiosas vêem o pai fazer malabarismos à volta do lume ensaiando um novo número que diz ser infalível que faz questão de exibir ainda antes de assar as castanhas! A mãe prevendo que dali nada de bom resultará, tenta distraí-lo, demove-lo da ideia, ralha, chora e lastima a sua vida, mas em vão. Do bolso do pai sai um maço de notas que enfia no borralho cobrindo-o com cinza, enquanto afirma:
- Não arde! Querem uma aposta como não arde? Garanto-vos que não arde! E a seguir assamos as castanhas e vão ver como hoje ficam mais gostosas que nunca!
Não que não ardeu! À excepção de 2 notas de 20$ chamuscadas que a mãe conseguiu salvar, o fruto de uma semana de trabalho ficou reduzido a cinzas.
E foi assim, especial e inesquecível, o Magusto desse ano. Em vez de castanhas e água-pé, engoliram-se lágrimas e a família foi dormir sem ceia, dando graças a Deus por nessa noite o espectáculo não ter incluído umas “cinturadas”.
E foi assim, especial e inesquecível, o Magusto desse ano. Em vez de castanhas e água-pé, engoliram-se lágrimas e a família foi dormir sem ceia, dando graças a Deus por nessa noite o espectáculo não ter incluído umas “cinturadas”.
Escrito por Cusca Endiabrada.
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Olá Cusquita!
ResponderEliminarAi ai as notinhas a arder...um balde rápido,um baldeeeeeeee! História tristota,mas bem real. Há muitas pessoas que sofrem desse vício e depois o dinheiro acaba ardendo na bebida,na lareira,no jogo,na violência doméstica... Ai maldito liquído!
Bom fim-de-semana
Jocas gordas
Lena
Cusquinha: Que exagerada! Nós as meninas mais populares da blogosfera? Não vamos a tanto!
ResponderEliminarA tua história deve ter marcado mesmo... a noite que prometia mágica acabou um pouco negra...pobre da tua mãe e de vocês que ficarm sem comer... outros tempos, bem tristes!
Bjs Susana
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"A amizade é fundamental em nossas vidas.
Por isso agradeço a Deus
por pessoas que ocupam
um lugar especial em meu coração...
você é uma delas!
Beijos e um bom fim de semana!
Ninas Susanita e Lena ...
ResponderEliminarAprendi que a adversidade e o que não nos mata, torna-nos mais fortes.
Oh pra mim, escorpiona endiabrada e rija que não há mal que me derrube ihihihih
dentadinhas
Escorpiona também sou e tenho,também, umas reminiscências remotas de umas quantas bebedeiras paternas!
ResponderEliminarFelizmente o meu pai acordou a tempo e parou...
Ainda assim concordo consigo,Cusca Endiabrada, é na adversidade que nasce a força!
E a Cusca conseguiu escrever este texto realçando a parte mais lúdica do que terá sido aquela noite de S.Martinho.
Parabéns!
Alcinda
A Cusca trouxe aqui uma história curiosa. É um magusto atribulado que descamba em tragédia, à custa dos malabarismos de um borrachão.
ResponderEliminarVendo a coisa pelo lado positivo, ele até conseguiu fazer umas comédias, a família resgatou duas notas de 20 paus e não houve cinturadas para ninguém!
Nada mau. Pelos vistos, podia ser pior!
Um belo texto.
Parabéns.
Olá Cusca,
ResponderEliminarCom um magusto assim, bem diferente de todos quantos assisti,com uma história curiosa triste mas bem real. Realidades que acontecem, e que por vezes deixam marcas. Tendo em conta que não houve castanhas assadas, mas que também não deu castanhadas já é positivo.Um magusto para esquecer, mas que com certeza recordaremos para sempre.
Um bom texto, com uma hitória emotiva, mas com um excelente conteúdo, gostei imenso de tal ordem que reli o seu texto, uma história que me fez lembrar um caso de uma familia que em criança conheci.
beijo
Acacio
Com o São Martinho a acabar, cá venho eu botar faladura!
ResponderEliminarNão sou abstémio, gosto principalmente de vinho do Dão e dalgum alentejano mas não sou o que se possa chamar um conhecedor e bebo o quanto baste. Nunca consigo ficar muito alegre pois devo ter algum dispositivo interno que dispara quando estou a atingir o ponto de saturação, todo o vinho me começa a saber mal e eu isso não gosto, claro!
Gostei da narrativa e como todos nós conhecemos casos semelhantes e sabemos o quão difícil é lidar com essas pessoas quer lhes dê para a alegria ou até para a tristeza, venho dar a minha contribuição.
Ideia certa mas segura,
para quem o não sabia,
pode-se fazer má figura
quando se mostra alegria!
Foi alegria mas, tudo acabou!
Foi muito triste tal desenlace
e, de todo o dinheiro, só ficou,
cinza e duas “folhas de alface”!
Apesar do que aconteceu,
sempre vai lembrar seu pai,
pois o meu, esse, já morreu
e do coração ele não me sai!
Dum primo, me contaram,
ele era um “meia-lecas”,
que os ”amigos” o roubaram
e chegou a casa em cuecas!
Histórias tristes, engraçadas,
apenas por serem singelas
mas que são bem desgraçadas
a quem se vê metido nelas.
Sei de casos, podem crer,
porque até custa acreditar,
há quem mesmo sem beber
lhe basta o vinho cheirar!
Com ascendência tão animada
o que é que a gente espera?
Saiu uma Cusca Endiabrada,
quem sai aos seus…
Mas, numa festa tamanha,
há alguém que isto conceba?
:- Olhe, se vai comer castanha,
por favor, o senhor não beba!
Eis uma dúvida minha!
Qual é a vossa opinião?
Será pior uma dentadinha
ou picada de escorpião?
Em Portugal o escorpião
tem entendimento vário,
pois cá, na terra do João,
é um “bicho alacrário”!
Cuidado com as dentadinhas...
João Celorico
Um Magusto bem original eheheh
ResponderEliminarÉ uma história bem triste...
ResponderEliminarBem se podia adaptar o slogan: "Se beber não faça nada"!
No entanto, é uma história bem contada.
Emocionei-me com o seu texto. Conheci muitos casos assim. Alguns até na família. Não são boas recordações para ninguém, muito menos para as crianças. Talvez por isso as suas recordações não são muitas. Há uma defesa natural que nos leva a esquecer o que nos magoa.
ResponderEliminarBoa sorte.
Um abraço
Olá!
ResponderEliminarA Cusca escolheu olhar para a celebração do Magusto de outro ângulo, e eu acho que o fêz lindamente, ilustrando muito bem uma realidade menos agradável, que neste caso nada teve de celebração, e muito menos de festa.
Parabéns, e boa sorte!
Um abraço.
Vitor Chuva
este é o segundo texto de que mais gostei...
ResponderEliminarparabéns CB
Csd