Antunes Ferreira
Uma confidência: comecei a pisar uvas no lagar da minha tia-avó Etelvina, tinha eu oito anitos. No Vale de Santarém, onde a augusta Senhora era a segunda pessoa mais importante, além de… solteira. Até aos 82, quando faleceu. E dizia-se – eu ainda não entendia de tais coisas, mas ouvia – que era virgem, por razão de um desgosto de amor na sua juventude. Vidas.
O meu pai era do Cartaxo, mas podia ter nascido em Almeirim, na Chamusca, em Santarém, na Póvoa da Isente, ou em Vila Chã de Ourique, já que o meu avô era comerciante de vinhos. O que quer dizer que a inclinação para a boa pinga vem-me acompanhando pela vida fora desde a… mais tenra idade. Alto e pára o baile: não sou um bebedor militante, mas sei apreciar o vinho. Néctar de que gosto, sem chegar à embriaguez. Resumindo linearmente: não me embebedo; dou-me bem com o vinho.
No DN onde fui chefe da Redacção, criei um suplemento semanal intitulado prosaicamente «Jornal dos Vinhos», cuja alma mater foi o meu camarada de trabalho José Estêvão Santos Jorge, que organizava os «Jantares Vinícolas» com imenso sucesso. Eu acolitava-o com imenso prazer, não só pela companhia – de uma forma geral excelentes cidadãos, apreciadores e conhecedores – mas também pela qualidade dos néctares apresentados e… consumidos.
Posso, pois, dizer que os vinhos e as vinhas fizeram parte da minha vida, pois a Dona Etelvina Ferreira era proprietária de ambos. Hoje, sou mais vinhos, as videiras só de passagem, quando circulo nas estradas. A vida é assim: tem-se aquilo que se pode ter. E como a trabalhar não se enriquece – não tenho vides, nem adegas, nem rótulos, nem sequer rolhas. Mas, palavra que gostava de ter. Por puro prazer.
Escrito por Antunes Ferreira, do blogue A minha travessa do Ferreira
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Eu voto no amigo Antunes Ferreira
ResponderEliminarpor ser descendente de Ribatejanos, que é também a minha província. Quanto a vinhos também sou apreciadora, para ser sincera prefiro os alentejanos, mas o do Cartaxo também é muito bom.
Gostei do texto tem humor, ou não fosse um homem
ribatejano, ficar-lhe-ía mal dizer que não gosta da pinguita.
Na minha juventude os homens bebiam uns copitos
para esquecer a pobreza e ás vezes saíam-se um pouco mal, pois quem pagava era a mulher á chegada a casa.
Um
abraço
natalianuno
Este comentário é de almanaque e quase anti-alcoólico!
ResponderEliminarDiz com ele dar-se bem.
E porque não havia de dar?
Uma pinguinha cai bem,
serve para a alma animar.
Mas, agora, vejam bem
o que pode acontecer.
Dizer que nada tem
mas, gostava de ter!
Estão a ver, amiguinhos!
O vinho não faz nada mal!
Basta falar dos vinhos,
só nas páginas do jornal!
Natália, que bom encontrá-la por aqui!Obrigada pela prença e participação!
ResponderEliminarBjs Susana
Caro amigo Antunes: Obrigada pela sua participação e presença aqui na aldeia. Enriqueceu e muito a aldeia!
ResponderEliminarAbraço, Susana