quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Dou-me bem com ele

Antunes Ferreira

Uma confidência: comecei a pisar uvas no lagar da minha tia-avó Etelvina, tinha eu oito anitos. No Vale de Santarém, onde a augusta Senhora era a segunda pessoa mais importante, além de… solteira. Até aos 82, quando faleceu. E dizia-se – eu ainda não entendia de tais coisas, mas ouvia – que era virgem, por razão de um desgosto de amor na sua juventude. Vidas.

O meu pai era do Cartaxo, mas podia ter nascido em Almeirim, na Chamusca, em Santarém, na Póvoa da Isente, ou em Vila Chã de Ourique, já que o meu avô era comerciante de vinhos. O que quer dizer que a inclinação para a boa pinga vem-me acompanhando pela vida fora desde a… mais tenra idade. Alto e pára o baile: não sou um bebedor militante, mas sei apreciar o vinho. Néctar de que gosto, sem chegar à embriaguez. Resumindo linearmente: não me embebedo; dou-me bem com o vinho.

No DN onde fui chefe da Redacção, criei um suplemento semanal intitulado prosaicamente «Jornal dos Vinhos», cuja alma mater foi o meu camarada de trabalho José Estêvão Santos Jorge, que organizava os «Jantares Vinícolas» com imenso sucesso. Eu acolitava-o com imenso prazer, não só pela companhia – de uma forma geral excelentes cidadãos, apreciadores e conhecedores – mas também pela qualidade dos néctares apresentados e… consumidos.

Posso, pois, dizer que os vinhos e as vinhas fizeram parte da minha vida, pois a Dona Etelvina Ferreira era proprietária de ambos. Hoje, sou mais vinhos, as videiras só de passagem, quando circulo nas estradas. A vida é assim: tem-se aquilo que se pode ter. E como a trabalhar não se enriquece – não tenho vides, nem adegas, nem rótulos, nem sequer rolhas. Mas, palavra que gostava de ter. Por puro prazer.

Escrito por Antunes Ferreira, do blogue A minha travessa do Ferreira
Se acha que este texto é o melhor, vote nele na caixa de votações e aproveite para comentar aqui.

4 comentários:

  1. Eu voto no amigo Antunes Ferreira
    por ser descendente de Ribatejanos, que é também a minha província. Quanto a vinhos também sou apreciadora, para ser sincera prefiro os alentejanos, mas o do Cartaxo também é muito bom.

    Gostei do texto tem humor, ou não fosse um homem
    ribatejano, ficar-lhe-ía mal dizer que não gosta da pinguita.
    Na minha juventude os homens bebiam uns copitos
    para esquecer a pobreza e ás vezes saíam-se um pouco mal, pois quem pagava era a mulher á chegada a casa.
    Um
    abraço
    natalianuno

    ResponderEliminar
  2. Este comentário é de almanaque e quase anti-alcoólico!

    Diz com ele dar-se bem.
    E porque não havia de dar?
    Uma pinguinha cai bem,
    serve para a alma animar.

    Mas, agora, vejam bem
    o que pode acontecer.
    Dizer que nada tem
    mas, gostava de ter!

    Estão a ver, amiguinhos!
    O vinho não faz nada mal!
    Basta falar dos vinhos,
    só nas páginas do jornal!

    ResponderEliminar
  3. Natália, que bom encontrá-la por aqui!Obrigada pela prença e participação!

    Bjs Susana

    ResponderEliminar
  4. Caro amigo Antunes: Obrigada pela sua participação e presença aqui na aldeia. Enriqueceu e muito a aldeia!

    Abraço, Susana

    ResponderEliminar