quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Memórias ligadas à vinha


As vindimas de que tenho lembrança remontam aos últimos anos da década de 60 do século passado, quando eu era ainda criança com 10 ou 11 anos de idade e já integrava um grupo de trabalhadores da aldeia, e durante um dia inteiro, colhia os cachos e carregava à cabeça enormes cestos de vime cheios de uvas. Na minha aldeia, no Concelho de Trancoso, na Beira Alta, as vindimas tinham início em Setembro e por vezes prolongavam-se até Outubro.

Lembro-me do Sr Alberto, um respeitável feitor que tinha a seu cargo a tarefa de cuidar das vinhas, cujos donos moravam e exerciam a sua actividade profissional na capital, apenas se deslocando esporadicamente à aldeia onde permaneciam pouco tempo e raramente eram vistos.


O pessoal contratado, na maioria mulheres, juntava-se no adro da igreja, ou junto ao cruzeiro da aldeia e partiam em grupo, umas vezes a pé, outras numa carrinha de caixa aberta quando a vinha era mais distante, levando cada um o seu próprio farnel. A tarefa era desempenhada ao som de alegres canções populares e o tempo passava sem quase nos darmos conta.

Retrocedendo a essa época, acabo por constatar que aquilo que é hoje considerado "exploração infantil", constituía para mim, e disso tinha plena consciência na altura, um dos poucos factores de alegria e realização pessoal. E bem me lembro da sensação de orgulho que sentia quando ao fim do dia me cruzava com meninas da minha idade que, por protecção paternal ou por terem sido preteridas pelo contratante, ficavam a brincar nas ruas da aldeia. E hoje, por mais estranho que possa parecer, sou capaz de afirmar que me sentia privilegiada por trabalhar. O pisar das uvas e a prova do vinho mosto são lembranças que associo à casa de família quando os meus avós maternos ainda eram vivos, mas isso numa época tão longínqua que já quase se confunde com um sonho.

Muito mudou na minha vida desde então, mas as vindimas continuam a atrair gente às aldeias, o processo será menos artesanal, o ritual mais familiar, mas os actos de colher e pisar as uvas ainda são desempenhados em FESTA!


A última "vindima" em que participei foi há mais de 10 anos, quando troquei a cidade pelo campo e adquiri uma moradia com quintal onde moro actualmente. Nesse ano, por graça, o meu "aprendiz de hortelão" aventurou-se na experiência e um dia de "trabalho intenso" de 2 adultos e 2 crianças, rendeu:


- 15 litros de vinho tinto
- 10 litros de vinho branco
- 5 litros de jeropiga

(tudo de excelente qualidade eheheh)

Escrito por Pascoalita
Se acha este texto o melhor, vote nele na caixa de votações presente na barra lateral e aproveite para comentar aqui.

6 comentários:

  1. Hum,Pascoalita.Jeropiga :) Um tio meu produz vinho branco Loureiro,lá em Sta Marta de Portuzelo.Hum...vinho branco...ai k ja tou tonta..lol..talvez seja este ano que vou pisar uvas.Bonito texto,Pascoalita :)

    Jocas
    Lena

    ResponderEliminar
  2. Gostei do seu texto. Como abstémia que sou uma blogagem enaltecendo as qualidades do vinho é coisa que não me entusiasma muito. Daí que embora não tendo lido os textos todos, até agora os que mais gostei foi o seu e o primeiro.
    Boa sorte.

    ResponderEliminar
  3. Agora que já li todos os textos voltei para afirmar que depois de ler todos os textos a concurso, gostei mais do seu e por isso agora vou lá deixar o meu voto.
    Volto a desejar-lhe sorte.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  4. Espero que este comentário, mas sem grande convicção, tal como o vinho, seja de excelente qualidade!

    Ora até que enfim,
    uma opinião entre mil,
    que hoje, isso sim,
    há exploração infantil!

    Cultiva-se a brincadeira
    e a irresponsabilidade!
    Quer se queira ou não queira
    é esta a grande verdade!

    Deixemos falsos pudores
    e vamos todos pensar bem,
    o trabalho, meus senhores,
    nunca fez mal a ninguém!

    Para um mero hortelão
    fazer tamanha colheita,
    foi grande a animação
    e, foi muito bem feita!

    E quando digo tudo isto,
    eu estou bem à vontade.
    Por isso, torno e insisto.
    Tudo, excelente qualidade!

    João Celorico

    ResponderEliminar
  5. Ao ler a sua mensagem sorri pois isso fez me lembrar que o seu quintal deve ser do mesmo tamanho que o meu pelo menos no que respeita a quantidade de uvas. simplesmente fiz uma opção diferente optei por fabricar apenas geropiga e é isso que tenho feito ao longo dos anos. a safra deste ano deu uma produção de 45 litros ah! uma quantidade quase industrial. o que posso garantir e modéstia a parte ser um produto de alta qualidade segundo os provadores de serviço
    cumprimentos Acácio Moreira

    ResponderEliminar
  6. Hum! Parece que temos por aqui pequenos produtores de vinho...

    Pascoalita: Obrigada pela tua participação! Fiquei com vontade de ir experimentar o vinho do teu quintal(embora não aprecie muito...).
    Bjs Susana

    ResponderEliminar