Boas lembranças tenho das vindimas. Todos os anos, ia contente com a minha prima, companheira de muitas brincadeiras à volta das uvas. Lembro-me das vezes em que jogávamos para ver quem conseguia encher o balde mais depressa! Mas é claro que entrava mais na barriguinha, do que propriamente no balde...
A parte pior era quando o calor apertava... as abelhas e as vespas insistiam voar à nossa volta sempre que iamos atrás do tractor, com as suas enormes tinas alaranjadas, prontinhas a serem levadas para a adega, assim que estivessem cheias de uva. Ainda tenho na memória a música de fundo que elas faziam, enquanto o tractor se movimentava.
A parte que achava mais piada era quando chegávamos ao fim do dia, todas pintadas com o tinto e iamos para o lagar do meu tio ver os homens a pisar as uvas, enquanto cantarolavam. Com muita pena minha foram muitas as tentativas fracassadas para nos juntarmos ao grupo. " Isto é para homens" diziam eles... coisas de machismo, foi o que sempre achei, assim como nessa altura, as mulheres, que acabavam por fazer a parte mais dura, a de colher as uvas ganhavam menos do que os homens, na hora de receber. Penso que ainda hoje funciona assim... a igualdade salarial ainda não chegou ao campo...
Agora não me esqueço o dia em que estávamos cansadas e resolvemos esconder-nos lá no meio de uma vinha. O pessoal colheu as uvas, continuou pela vinha fora e não deu pela nossa falta. Passaram uma, duas, três horas e deixámos de os ouvir e ali continuámos deitadas debaixo da sombra da parra. Sempre pensámos que alguém iria chamar-nos, à nossa procura, mas tal não aconteceu... até que apareceu um lacrau a passear à nossa beira. Quando vimos o bicho ficámos de tal maneira histéricas, que assustámos o bicho... mas de nada adiantou... acabou a dar uma picadela à minha prima. Ela gritou tanto de dor que os que estavam na outra ponta da vinha ouviram e foram acudir a minha prima. A brincadeira acabou no Hospital, a soro e com um grande sermão dos nossos pais...
Ai do bicho que se meta na minha frente, outra vez!
Escrito por Joana, do Blogue Diario de Joana
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Engraçado como um tema nos pode trazer à memória outras lembranças.
ResponderEliminarCreio que não foi por altura das vindimas, a Terezinha, uma primita minha, muito pequenina talvez com 3 anos, foi sentada numa manta, sendo vigiada pelos pais que trabalhavam no campo. A mãe tinha-a avisado:
- Não mexas nas pedras que pode haver algum lacrau que morde as meninas!
Passado algum tempo, a Terezinha gritava:
- Mãezinha, anda cá ver um "licauzinho"!
A mãe veio a correr ... e não é que era mesmo? eheheheh
Bem, teve mais sorte que a tua prima, não chegou a ser mordida
Gostei do texto
Um jinho
Engraçado o seu texto. Traquinices de criança que às vezes acabam mal.
ResponderEliminarBoa sorte
Um abraço
Cá vai o meu sedativo para a picada do lacrau!
ResponderEliminarA Joana conta a história
de uma hora de aflição
pois lhe ficou na memória
a imagem do escorpião!
Mordeu na prima o escorpião
eu faço ideia o que lhe doía
e, se foi grande a agitação
maior terá sido a gritaria!
Foi no hospital que acabou
esta tão difícil provação,
depois, depois, tudo passou.
Será que só ficou, o sermão?
E quantas saudades, decerto,
ainda terão daquelas lides
dormirão, disso estou certo,
mas não debaixo das vides!
Porque não fugiu o lacrau?
Com tão grande gritaria,
coitadinho do bicho mau!
Eu, garanto que fugiria!
Iam trabalhar e contentes!
Não tinham outro remédio.
Sem vindima, aquelas gentes,
morriam de fome, ou de tédio!
Nisto de vinho, para beber,
há sempre causa e efeito.
Aqui, ficámos sem saber
se o vinho era de jeito!
E o texto, podem crer,
acaba muito depressa.
A Joana não quer saber.
Só o bicho lhe interessa!
João Celorico
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ResponderEliminarJoão Celorico:
ResponderEliminarQue bela poesia que me dedica! Sem palavras fiquei para um simples texto como o meu...Na verdade tem razão, quando diz que dou maior importância ao lacrau do que propriamente ao vinho...tudo porque não gosto de falar muito disso...
Abraço, Joana
Pascoalita e Elvira: Obrigada pela vossa presença aqui!
ResponderEliminarBjs Joana