quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Eu e os vinhos


Confesso que não percebo nada de vinhos. E faço já esta declaração, para que me seja perdoado algum disparate ou imprecisão que eu possa cometer. Porque isto dos vinhos é uma ciência exacta, ou pelo menos muito complexa, só para iniciados. Basta ver a expressão e os trejeitos de quem vai a um restaurante, se senta a uma mesa e escolhe um vinho, de uma lista às vezes maior do que o próprio menu. Chega o criado com a garrafa, verte um pouco de vinho no copo e, nesse momento, todo o simples mortal se transforma num verdadeiro enólogo: agita um pouco o copo, cheira, observa o líquido contra a luz, prova um pouco, até dizer finalmente, com ar de entendido, ao pobre criado que espera pacientemente “Pode servir!”

O próprio vocabulário ligado ao vinho é hermético. Há vinhos de grande afinação, ou de personalidade vincada, seja lá isso o que for. Pode dizer-se de um vinho que é agressivo, ou que as arestas foram polidas, ou que tem boa prestação na boca. Pode-se verificar que os taninos ainda estão espigados, ou que a madeira está bem integrada. Fala-se da complexidade aromática e das notas licoradas. E de muitas outras coisas incompreensíveis para um leigo.
Por isso, vou apenas destacar um vinho da região onde habito e de que gosto particularmente: o Moscatel de Setúbal. Não sabia se podia incluí-lo nos vinhos, mas descobri que se integra nos vinhos generosos. Escolhi uma garrafa que tinha em casa e fiz uma busca no Guia de Vinhos do meu marido, porque não quero fazer má figura. Apresentam-no como “carregado na cor, com um aroma muito rico e de grande impacte inicial, trazendo abundantes notas de laranja em farripa e mel, alperce e algum fruto seco. Na boca, ao contrário do que o peso aromático poderia fazer supor, tem uma boa frescura, um corpo de veludo e um final macio e muito longo.”
Não sei avaliar se tem corpo de veludo nem distinguir as notas de laranja em farripa. Mas sei que me sabe muito bem, num copo alto com gelo, servido como aperitivo ou bebido com amigos, na esplanada, numa noite de Verão.
(Referências retiradas de “Vinhos de Portugal” de João Paulo Martins, Ed. Dom Quixote)
Escrito por Teresa, do Blogue Óculos do mundo
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2 comentários:

  1. Olá Teresa!

    Quero agradecer o teu enorme esforço em ecrever algo sobre os vinhos. Podes não estar muito à vontade par falar deles, mas não é vergonha nenhuma. Pois digo-te mais: sou filha de viticultores, mas não percebo nada de vinhos...talves por causa de meobrigarem a lidar com as vindimas desde pequena, tenha criado defesas para nada querer saber desse assunto. Só agora, é que estoua aprender a gostar,sem qualquer imposição. Estou a descubrir um mundo espantoso, onde é possível fazer mil e uma coisa com os vinhos.

    Bjs .
    Susana

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  2. Para o seu texto (com cábula, mas vê-se que estudou) vai a minha avaliação. Continue e não tenha medo de dizer a verdade. Eu também não sei nada e olhe para isto, pareço um "expert"!


    Até que enfim, apareceu
    quem não percebe de vinhos.
    Está mesmo, tal como eu.
    Agora, não estou sozinho!

    Mas fala de vinho, bastante,
    e, sem que ninguém o note,
    foi direitinha à estante,
    a um livro da Don Quixote!

    “Vinhos de Portugal”,
    só pode falar de vinho!
    Ao acabar, não fará mal,
    beber, só um copinho!

    João Celorico

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