quinta-feira, 10 de setembro de 2009

AS VINDIMAS NO TEMPO CERTO


Setembro, mês em que a canseira das colheitas maior azáfama traz aos agricultores. Época de colher os frutos do trabalho de mais um ano agrícola.
O ponto alto das colheitas é sempre o das vindimas nas regiões vinhateiras.

Uva, aquele fruto que o Sol fez brutar da cepa na Primavera, com o seu calor o fez florir e crescer durante o Verão, sempre sob a vigilância e dos cuidados do agricultor, que tem que tratar os míldios, os oídios e outras pragas de insectos, e que o Astro Rei agora doirou, convida à colheita para extracção da maravilhosa bebida que regularmente nos acompanha às refeições.

Chegou a hora da sua colheita que impõe que exércitos, de tesoura em punho, se desloquem para as vinhas e, de carreira em carreira, recolham aqueles frutos maravilhosos.

Longe vão os tempos em que a mão humana manipulava tudo, desde o corte da uva, o transporte às costas ou à cabeça, para as tinas ou dornas levadas em carros de bois, para vazar nos lagares. Aí, quando o lagar estivesse cheio, um compasso de espera dois ou três dias para fermentar, grupos de homens saltavam para dentro, durante quatro horas, percorriam inúmeras vezes aquele enorme tanque, de canteiro (*) a canteiro, cantando e rindo com as anedotas que iam saindo de cada boca, para atenuar o cansaço, calcavam os cachos a pés. "Calcar o vinho". Agora, aproveitando as novas tecnologias, que vieram auxiliar o homem em muitas tarefas, ele deixa que as máquinas, depois de se colherem as uvas para as tinas, façam o resto sob a sua orientação e devido acompanhamento, esmagando as uvas e mergulhando o vinho com o engaço, durante alguns dias, para afinar a cor ruiva.
Daqui por algum tempo, depois de exigentes análises laboratoriais quase permanentes, vão franquear - nos a prova desse nectar delicioso produzido em cada época, que irá ser consumido através dos tempos, durante muitos anos, por todo o Mundo.

É assim que, cada ano, depois das podas e do preparação dos vinhedos, se obtem o produto final que vem animar quem o produz e levar a alegria e satisfação a quem o consome.

A Terra o deu, o homem se regala.


* «Canteiro» - Nome que, em certas regiões, se dá ao bordo em pedra dos lagares do vinho.



Beijós, Região Vinicola da Dão, 08 de Setembro de 2009
Por > Zacarias Pais do Amaral

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16 comentários:

  1. Somente quem nasceu e viveu, como tu, caro amigo, naquela Aldeia que o Sol contorna desde que nasce até se pôr, consegue passar a escrito a sua paixão. As vindimas que outrora te ocuparam e que todos os anos estavas quase em todos os lagares a calcar o vinho, para animares as equipas com as tuas cantigas, te terão marcado profundamente.
    É notoria a tua experiência neste campo, aliás, em tudo o que é trabalho agrícola. A forma de descrever as vindimas é fruto da tua experiência.
    Gostei!
    Os meus sinceros parabéns!

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  2. Com tantos detalhes vou me tornar uma especialista no assunto e sinto-me frustada de nunca ter precensiado as vidimas.Seu texto está maravilhoso!

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  3. Parabéns pelos detalhes.

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  4. O QUE DESLUMBRA

    Nesta foto que vos deixo,
    De um misto de Olival,
    E vinhedo sem desleixo,
    Encosta da Carregueira,
    No lugar do Terroal,
    Com caminho mesmo à beira,
    Mas que uvas sem igual,
    Convidando à colheita,
    Para encher o Bornal,
    A cobiça espreita,
    A quem passa caminhando,
    A subir p'ró Vale do Escuro,
    Suberba mesa encantando,
    Neste lugar tão seguro.

    By Willoughby

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  5. E eu sou testemunha de que as uvas da zona dão uma excelente bebida. Antes de haver as vias rápidas, Carregal do Sal era o nosso ponto de paragem para almoçar, quando nos deslocávamos à aldeia. Já não recordo o nome do restaurante, mas servia que era um primor.

    Um bom TEXTO.

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  6. Gostei do seu texto, porque ele é sentido!
    O que está escrito foi vivido e amado, adivinha-se nas suas palavras.
    Eu fui sempre uma espectadora distante dessa azafama da vindima, mas pressentia-a assim como a descreve.Eu vejo-a principalmente na estrada, quando passo de carro...
    Parabéns pelo seu texto!
    Cumprimentos
    Alcinda

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  7. Um comentário "terra a terra" para quem trabalha e sofre com o que a terra lhe dá!

    “A Terra o deu”, a muito custo,
    mas é dele que os homens comem.
    Depois de trabalho e muito susto
    quem se regala é o “outro Homem”!

    Não, aquele que o trabalhou
    e lhe deu o suor do rosto.
    Sim, aquele que o comprou
    e, dele, só sabe o gosto!

    Aquele que o trabalhou
    com desvelo e carinho,
    só parou, e descansou,
    se o chamou “seu vinho”!

    E por aqui se poderá ver
    como é outra a história.
    Só quando o “seu” beber,
    alcança a “sua” vitória!

    João Celorico

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  8. Olá Alcinda!
    Obrigado pelas suas palavras!
    Foi mesmo assim como disse.
    Fui criado no campo a tratar do vinho com as minhas mãos.
    Sabia que voltas tinha que dar para preparar os vinhedos, os tratamentos para o mildio e para o pó nas uvas (oídeos). Depois as colheitas,colher as uvas nas videiras e transportar as dornas (tinas em aduelas de madeira, com a altura de um homem) no carro de bois. Vazar no lagar, calcar e aloijar (colocar nos tunéis de madeira de castanho...na adega da casa de família) e deixar que ele estabilizasse para depois vender a um armazenista (UCB - Oliveirinha/Carregal do Sal, ou Ramos - Aguieira/Nelas. A minha orfandade de pai aos 15 anos impôs que eu me tivesse didicado ao campo de alma e coração, até aos 21 anos... altura em que saí da aldeia, já lá vão 43...
    Por isso é que eu digo... "aprender... praticando".
    Apesar dos sacrifícios, a escola da vida é aquela que mais nos marca e nos dá os ensinamentos mais sólidos.
    Gostei do seu comentário, porque revela uma capacidade muito firme de analisar as coisas.
    Bem-Haja!

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  9. "Anónimo disse...
    Um comentário "terra a terra" para quem trabalha e sofre com o que a terra lhe dá!

    “A Terra o deu”, a muito custo,
    mas é dele que os homens comem.
    Depois de trabalho e muito susto
    quem se regala é o “outro Homem”!

    Não, aquele que o trabalhou
    e lhe deu o suor do rosto.
    Sim, aquele que o comprou
    e, dele, só sabe o gosto!

    Aquele que o trabalhou
    com desvelo e carinho,
    só parou, e descansou,
    se o chamou “seu vinho”!

    E por aqui se poderá ver
    como é outra a história.
    Só quando o “seu” beber,
    alcança a “sua” vitória!

    João Celorico
    (...)"

    Olá Anónimo!
    Parabéns por este poema com que nos brindou...
    Muitas realidades estão contidas nos seus versos.
    Gostei!
    Bem-Haja!

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  10. Caro amigo Zacarias do Amaral,

    Permita-me que o trate assim, como amigo, neste universo dos Blogues somos todos amigos, pelo menos eu gosto de acreditar que sim.

    Em primeiro lugar, gostaria de o felicitar pelo seu belíssimo trabalho. Fantástico.
    Estamos ambos com textos a concurso, mas confesso que se perder para si é uma honra.

    O seu texto aborda com clareza a beleza da vindima. Não entrou em muitos detalhes, com certeza para não exceder o número de palavras exigidas, erro que eu cometi (julgo eu), mas está claríssimo que sabe do que fala.

    Uma vez que eu posso escrever um comentário sem essa preocupação, gostaria muito de lhe dizer que apesar de ter trabalhado nas caves do Vinho do Porto, de ter ido muitas vezes às vindimas ao Douro, embora não vindimasse lá nunca, conheço , desde criança, muito de perto o trabalho da vinha e do vinho, mas numa outra região vinhateira.
    O meu pai era Minhoto, de Vila Nova de Cerveira.
    A Quinta dos Santo Amaro, em Reborêda, colhia imensas pipas de vinho e fazia muita aguardente.

    Claro que não está na zona demarcada do Alvarinho, Monção e também mais recentemente Melgaço, mas sempre estive presente nas vindimas, sei o que o sabor do melaço que escorre das uvas quando cortadas com as tesouras de poda, e o cheirinho do vinho que fermenta nos tonéis.
    Depois o cheiro do mosto bem guardado para não oxidar antes de fazer a aguardente.
    Quase sempre se fazia água-pé, que se bebia com as castanhas logo a seguir, ainda fresca, e o vinho doce que vinha logo para a mesa e que nos era permitido beber (pouqinho), era toda uma festa.

    Os meus tios continuam a fazer vinho verde, menos, muito menos, mas ainda muito bom, usando basicamente os mesmos métodos de antigamente. Nós continuamos a comer as uvas do morangueiro e a fazer a vindima de toda a família que começa na casa de um tio e termina já na dos primos.
    Comem-se desde belas bolas de sardinha feitas no forno de lenha com pão de milho, rojões, ou deliciosas cabidelas nesses dias.

    No ano passado estive com um grupo de Ingleses a visitar a Provin- Barbeita - Monção, onde o amigo Engº. Domingues nos proporcionou uma visita à quinta onde testam novas castas, novas formas de plantio, tudo...passamos depois pela adega e depois as provas.
    Aprendi ais uma novidades, como por exemplo que estão a testar a casta Aragonês nesta zona, que as uvas são desengaçadas em muitas zonas já por máquinas, senão esse trabalho é feito à chagada à adega, que já se faz um espumante maravilhoso de Alvarinho, e até uma aguardente Velha.

    No geral todo o resto é muito idêntico; as técnicas de fermentação, bica aberta, meia curtimeta, ou curtimenta completa, para a obtenção de vinhos mais brancos ou mais doirados, isto nos brancos, e no tintos sempre curtimenta para que a cor intensifique.
    Achei graça ao seu termo usado "para afinar a cor ruiva", este, eu desconhecia por completo.

    A vinificação agora sendo feita nas cooperativas, faz-se em cubas de aço inoxidável onde é permitido controlar as temperaturas durante o período fermentativo, e assim se conseguem obter melhores resultados.

    Enfim, este é um assunto inesgotável, mas não o vou maçar mais, sabe certamente tudo isto e muito mais, eventualmente quem ler estes comentários poderá ter ficado pelo menos mais curioso e até vir a fazer algumas visitas a Empresas e Produtores, que o permitem facilmente.
    Garanto-vos que é muitíssimo interessante.

    Para si, desejo-lhe muito boa sorte, e se quiser visitar-me estou no Sempre Jovens e não só.

    Renovo os meus parabéns pelo seu belíssimo texto.

    Abraço
    Fernanda Ferreira

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  11. Olá!
    Amiga Fernanda Ferreira,

    Gostei do seu comentário!
    Conclui que, ainda que não tenha trabalhado na vinha ou produzido vinho directamente, ganhou experiência por o ter visto manusear.
    Terá tido um trabalho aliciante, talvez não menos do que o daqueles que o produzem e enviam as uvas depois para as cooperativas. Muitos destes nem saberão que voltas é que o vinho dará depois.
    O seu comentário é muito interessante.
    Os meus parabéns!

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  12. Gostei imenso do seu texto.
    Ele, ainda que suscintamente, consegue falar do circulo do vinho, desde a vinha até chegar à mesa do consumidor.
    No seu texto não usou qualquer estratagema. Chegou só, sem bengala ou muletas de ninguém.
    É isento. Fala da vindima e do vinho, mas não deixa de referir as vinhas e os trabalhos que elas exigem.
    Deixo-lhe os meus parabéns!

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  13. Olá Maria

    Obrigado pelo seu comentário.
    Quando me propuz participar,contei somente com as minhas capacidades, muito embora contasse sempre com os votos dos amigos e com o carinho que pudessem manifestar-me nos comentários que aqui deixassem.
    É muito bom participar nestas coisas com sentido de lealdade, desportivo e colaborante, fazendo o melhor de que se é capaz.
    Estas coisas servem para alargar os nossos horizontes em todos os domínios.
    Conseguimos estar no meio de encontros de culturas. Há heranças sociais dos Nossos Povos a nível regional, que nos marcam profundamente. A sabedoria de muitas pessoas que vimos aqui encontrar também nos deixa muitas e enriquecedoras experiências.
    Vim ao encontro não só das Gentes da Nossa Terra, mas também e principalmente das Regiões de Portugal.
    Idanha-a-Nova entrou no meu roteiro turistico Nacional, onde irei estar a partir de Sexta-feira, dia 02 de Outubro de 2009.
    Irei ter o grato prazer de pisar o solo Idanhense, colher imagens de tudo o que tem de belo e, principalmente, saborear a sua gastronomia.
    Por isso, a minha participação trouxe-me muita coisa de gratificante.
    Pelo que vem referido neste Blogue, espero passar um fim de semana de sonho, no seio de populações acolhedoras como são as da Beira Baixa.
    Obrigado pelo ânimo que conseguiu trazer-me com o seu comentário.

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  14. Congratulo-me com o apoio que recebi de todos os meus amigos espalhados pelos Quatro cantos do Mundo.
    Muitos deles brindaram-me com o seu voto. Por isso lhes estou muito grato, por terem apostado no meu texto.
    Outros também me deram muito alento registando a sua passagem, deixando o seu comentário.

    A todos envio um Grande Abraço, pelo carinho que me dispensaram.
    O meu sincero Obrigado.

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  15. Caro Willoughby:

    Foi com muito entusiasmo e satisfação que li todos este comentários a si dirigidos. De facto está de parabéns pelo facto de ter conseguido reunir e acompanhado os seus amigos aqui . É esse o espíritoda partilha, como fruto de encontros de várias pessoas, com saberes e experiências bastante interessantes.

    Não vou revelar aqui os resultados, mas quero felicitá-lo pela sua participação e presença, bem interessante na Aldeia da minha Vida. Fiquei muito feliz por saber que sempre vai este fim de semana até terras de Idanha. Espero que seja tão bem bem recebido, como nós fomos durante a feira raiana e que volte com muitas boas histórias para partilhar connosco!

    Abraço, Susana

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  16. Amigo Willoughby:

    Parabéns pelo artigo, o Senhor foi enxertado num bravo de qualidade,(Aramão,SO4 ou Ripário) daí a boa cêpa!
    E por falar em bom vinho, o Armando " da Quinta" tem lá uma rica pinga para provar numa proxima oportunidade !
    Um abraço, Tobias

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