quarta-feira, 10 de junho de 2009

Monsanto, a aldeia da Catarina

Foto cedida por Pedro Pais

As vindimas na Beira eram uma aventura como poucas, grandes cestas de vime que ainda hoje sei entrançar, verdes ou negras do sumo da uva colhida, eram colocadas nos carreiros das videiras para que as mulheres, de lenço negro à cabeça e canto cristalino na voz, cumprissem um trabalho que de pesado se fazia leve. Nós, os garotos da cidade misturados sem diferenças com os garotos da terra, amigos até aos dias de hoje, percorríamos as veredas em equilíbrio tentando ganhar a corrida do cacho mais gordo ou da uva mais doce. Acreditávamos que ajudávamos à lide, sei hoje que atrapalhávamos mais que qualquer outra coisa, ainda escuto as gargalhadas do mulherio trabalhador quando ostentávamos um ar orgulhoso por termos conseguido arrastar um cesto cheio até ao reboque do tractor que subiria até ao lagar. O lagar, com um cheiro adocicado e enjoativo, fazia as delícias da pequenada, aguardávamos na chamada fila indiana que nos deixassem rodar a manivela responsável pela primeira espremidela às uvas que eram atiradas dentro. Manivela responsável por uma ferida feia no nariz quando achei que conseguia, ainda de pouca altura, acompanhar-lhe o impulso. Ao fim do dia homens, mulheres e crianças de calças arregaçadas, abraçados e cantando os cantares da terra, pisavam a uva, sem parar. As unhas vermelhas e as pernas salpicadas de vinho. Gargalhadas noite dentro por cada desistência, nós, os pequenos, os primeiros a desistir, cansados do sono e dos vapores nauseados.Era um outro Setembro. Feito de pão casqueiro e fatia de queijo de cabra com casca, feito de figos e dióspiros em quantidades abissais, da apanha da castanha e da seara dourada e colhida, a aguardar na eira o descasque da espiga. Feito de levantares madrugadores ao relinchar da minha égua, a Estrela, que me acordava cedo na certeza do passeio. Era um Setembro de camisola já vestida por essa altura, calça curta e pé descalço, para apreensão da Mãe que nos inspeccionava no banho à procura da carracita do campo ou de algum lanho feio e a precisar de desinfectante.Era o juntar da lenha que aqueceria o cacau escuro e a água do banho quando regressássemos todos em Dezembro, toros enormes que crepitariam no lar franco e bem estruturado de uma lareira que era o orgulho do Pai. “Nem uma réstia de fumo dentro de casa! Aprendam, meninos, aprendam!”Setembro, que não queríamos acabasse, mesmo desejosos que pudéssemos estar na viagem de regresso à cidade para voltar à escola, aos amigos, ao “que fizeste nas férias?” certos de tanta aventura para contar. De outra tanta para ouvir.
Era o meu Setembro, há anos largos, quando ainda criança, quando ainda adolescente.O meu Setembro em Monsanto, aldeia tão portuguesa, Aldeia mais Portuguesa.
Escrito por Catarina
Monsanto, Idanha-a-Nova / Castelo Branco
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30 comentários:

  1. Conheço esta aldeia... quando a visitei a maioria dos caminhos por onde passava era só pedras....diziamos que parecia caminho de cabras :)

    Bonita aldeia. Parabéns.
    Beijinho

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  2. Laura Costa Pereira Falcão Freire10 de junho de 2009 às 15:17

    Eu voto no texto chamado "Monsanto, a aldeia da Catarina"
    Laura Freire
    laura_falcao_14@hotmail.com

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  3. Eu voto no texto "Monsanto, a aldeia da Catarina"

    Mónica Ribeiro

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  4. eu voto neste texto "Monsanto, a Aldeia da Catarina"
    Leonor Galvão
    nocatti@live.com.pt

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  5. Eu voto no texto chamado "Monsanto, a Aldeia da Catarina" da autoria da Catarina.
    Rosário Sepúlveda
    sepulveda.rosario@gmail.com

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  6. Catarina
    Adorei o texto. Até me ficaram a doer os pés de tanto pisar as uvas e correr nos campos
    Beijos e boa sorte
    RS

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  7. Voto neste texto "Monsanto, a Aldeia da Catarina". Gosto muito.

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  8. Catrina: o teu texto está a ser bem concorrido, por aqui!

    A todos os participantes agradeço o entusiamo e a presença neste blogue.

    Quero apenas relembrar,que:
    Só vou contabilizar os votos deixados nos respectivos espaços de comentário de cada post, se apresentar a seguinte frase:

    Eu voto no texto chamado (...) da autoria de (...). assinado (Identificação do votante: Nome e Blogue(com respectivo link) ou e-mail).

    Obrigada pela compreensão.

    Continuação de boa blogagem!

    Susana

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  9. Voto neste texto "Monsanto, a Aldeia da Catarina", sim, até pk fikei c imensa vontade de conhecer a aldeia k nao conheço!

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  10. Olá adorei o texto aqui vai nosso voto
    bom fim de semana
    bjs naty e carlos

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  11. Eu voto no texto chamado "Monsanto,a aldeia da Catarina" da autoria de Catarina.

    Cristina Araujo: aaraujo@mcx.es

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  12. eu voto neste texto – Monsanto a Aldeia da Catarina, da autoria da Catarina

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  13. Eu voto no texto chamado "Monsanto, a aldeia da Catarina" da autoria de Catarina.
    Joana Correia
    correia_joana@portugalmail.com

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  14. Eu voto no texto chamado "Monsanto - A Aldeia da Catarina da autoria de Catarina
    nocas verde
    http://avidadestelado.blogspot.com
    nocasverde@gmail.com

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  15. eu voto no texto "monsanto, aldeia da Catarina" da auturia de Catarina!!

    Bonita aldeia

    Bjs

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  16. Cara Susana :) Acredito que tenhas um procedimento a seguir :))

    A todos agradeço os votos que por aqui vão deixando. Monsanto, mais que eu, merece *

    Beijinhos

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  17. Concordo contigo, Catarina, Monsnto é uma aldeia fantástica, onde já tive a oportunidade de visitar e conhecer na altura da Festa da Santa Cruz e em simultaneo, Feira Medieval. Foi um fim de semana inesquecível, onde há muito tempo não me divirtia tanto!

    Obrigada pela tua participação, que é bastante interessante e mais valia para este livro virtual.

    bjs Susana Falhas

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  18. Eu voto no texto chamado Monsanto, a aldeia da Catarina da autoria de Cataroma. assinado Helder Robalo, blogue Aldeia de Santa Margarida (http://aldeiadesantamargarida.blogs.sapo.pt/).

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  19. Sorry, mas não resisto a comentar aqui ... Excelente "retrato" de vida mundana, fazendo-me reportar à minha infância e pré adolescência igualmente em terras beirãs. óptimo texto, tão merecedor de ganhar como outros que já li :)*

    PARABÉNS, Cararina

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  20. Eu voto no texto chamado "Monsanto, a aldeia da Catarina" da autoria de Catarina.
    Rui Cristelo
    ruikristelo@hotmail.com

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  21. Claro que com um texto destes sobre um dos sítios mais bonitos do nosso Portugal não tenho dúvidas de que

    Eu voto no texto chamado Monsanto, a aldeia da Catarina da autoria de Catarina. assinado Cristina . cristina.cambezes@flad.pt)

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  22. Eu voto no texto chamado Monsanto, a aldeia da Catarina, da autoria da Catarina. Assinado: Madalena Cambezes.


    Estas e outras memórias "moldam-nos" para a vida.
    Para béns. Bjs à autora.

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  23. Eu voto no texto "Monsanto,a Aldeia da Catarina" da autoria da Catarina :)
    Ass: Ana Teresa (a eterna vizinha!)

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  24. Voto no texto "Monsanto, a aldeia da Catarina".
    Rosarinho

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  25. De novo agradeço os comentários e os votos *

    Madalena minha prima .. se moldam *
    Saudades :))

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  26. Eu voto no texto chamado "Monsanto, a Aldeia da Catarina" da autoria da Catarina.

    Jorge Lopes
    sonho_interior@hotmail.com

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  27. Eu voto no texto chamado "Monsanto, a Aldeia da Catarina" da autoria da Catarina.

    Inês Costa
    inesmhcosta@hotmail.com

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  28. Este foi um dos muitos textos que me cativaram dutante essa blogagem. Fico com ele pelas belissimas imagens (quase fotograficas) evocadas, e pela beleza encantada dessa aldeia.


    Eu voto no texto chamado "Monsanto, a Aldeia da Catarina" de autoria da Catarina.

    Mirian Mondon
    Blog Café com Poesia
    marquesmirian.blogspot.com

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  29. eu voto no texto: "Monsanto a aldeia da Catarina", da Catarina

    R.Neves
    rncneves@hotmail.com

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  30. Beijo esses rochedos a afago o casario...
    beijos para a Cristina

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