terça-feira, 9 de junho de 2009

Pestana, a aldeia da minha vida

Vista parcial da Pestana

A minha aldeia chama-se Pestana. Situa-se no cimo de um cabeço de um monte, com as casinhas dispostas em duas ruas: a rua principal e a rua de baixo. É uma aldeia pequenina, um pequeno lugar, que pertence à freguesia de Longroiva, concelho de Mêda e distrito de Guarda. Com pouco mais de uma dezena de habitantes, nada se compara aos tempos dos anos sessenta, em que a escola estava repleta de crianças.

As pessoas pouco possuíam, mas todos tinham a sua casa e uma pequena horta, onde retiravam o sustento para a família. Todos eram solidários. Partilhavam os primeiros legumes, frutas da época e até o pão. Tinham um forno comunitário, a lenha, onde coziam sempre o pão, de centeio e trigo, e a bola espalmada. Esta como cozia rapidamente, era a primeira a ser retirada do forno para ser repartida, ainda bem quentinha entre os presentes. Muitos eram os que acorriam ao forno, quando pairava no ar o cheiro a pão acabado de fazer, para comerem com satisfação. Era costume fazer um pão para a avó, outro para a velhinha mais pobre da terra e havia sempre pão reservado para a Senhora Professora. Fui criada nesta terra, com mais quatro irmãos e muitas vezes era a encarregada de levar uma cestinha na mão com produtos da horta para uma velhinha, que não tinha família.


Casas tipicamente beirãs em xisto

Na Pestana há uma casa amarela, onde tenho algumas recordações. A casa era diferente das outras. A maioria das casas era de xisto ou caiadas de branco. Aquela era amarela e pertencia ao meu tio mais abastado. Foi em frente dessa casa que tirei a primeira fotografia com a minha avó Maria da Luz. A foto foi tirada por um primo do Porto, que veio aquele dia à terra, com uma máquina fotográfica. Foi a primeira vez que vi uma, tinha eu uns sete anos de idade.
Ainda me lembro das nossas brincadeiras de criança, em que transformávamos grandes lajes de xisto, de uma antiga pedreira, em autênticos escorregas e com eles rasgávamos a roupa e esfolávamos os joelhos…

Era uma terrinha pequenina, sem água canalizada e sem capelinha. Tínhamos que ir à missa a Longroiva a pé, 5 longos quilómetros! O pior foi quando tivemos que ir lá todos os dias, por causa da Comunhão solene, em Setembro, na Festa em Honra de Nossa Senhora do Torrão… estava muito calor, o que custava mais a caminhada…

A minha aldeia, apesar de não ter monumentos, é a minha terra que gosto muito, onde vou sempre que tenho oportunidade.

Sinto uma grande revolta por não constar no meu Bilhete de Identidade, por não ser uma freguesia, como lugar de naturalidade…

A Pestana não está assinalada no mapa, mas fica para sempre o meu coração.


Texto escrito por Zulmira Falhas

Pestana/ Longroiva / Mêda / Guarda

10 comentários:

  1. Zulmira
    Sempre as duas ruas: a de cima e a de baixo.
    Como em tantas aldeias portuguesas.
    Com esta postagem PESTANA ficou para sempre no mapa.
    Parabéns

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  2. Em nome da minha mãe, obrigada Jorge pelas palavras. ( ela não está à vontade para responder , nem tem net disponível.

    Um abraço, Susana

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  3. Permitam-me que aqui deixe o testemunho da beleza da Pestana, assim como de Longroiva com toda a vista panorâmica que se alcança do Castelo. Deixo este comentário na aldeia da Pestana porque esta é mais pequenina e por isso deve ser mais acarinhada.
    Só não voto nesta aldeia porque sou de Brunhoso, no concelho de Mogadouro e já lá votei.
    Parabéns pela iniciativa aos seus autores.

    António Magalhães
    anmagalhaes53@gmail.com

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  4. António:

    Em nome da minha mãe, agradeço as suas palavras ! Tem toda a razão quando diz que a Pestana ( que nem pode ser bem considerada aldeia, mas um pequeno lugar) merece ser ainda mais acarinhada!
    Não precisa de se preocupar, em relação ao voto, pois este texto também não está em votação, pelo facto da autora também inspirar a Olho de Turista, na medida do possível.

    Mais uma vez obrigada pelo comentário e participação nesta blogagem , enquanto apreciador, leitor e eleitor da mesma.

    Um abraço,

    SusanaFalhas

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  5. Em primeiro lugar renovo os PARABÉNS à SUSANA, pois sem a sua ideia não estaria aqui a ler estes testemunhos e a rever ou conhecer melhor o nosso Porgual;
    Cheguei aqui pela mão da Lídia de "Silêncio Culpado" a quem estou grata também e cujo texto de participação é excelente.

    Estão todos de Parabéns

    Sou Beirã, Concelho de Trancoso, casada com um Marialva muito ligado a Longroiva :)*

    Louvo a iniciativa de dar a conhecer os cantinhos do nosso país.

    Incapaz de escolher, que ganhe o melhor ...

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  6. Esse texto me comoveu e acabo de descobrir que não está em votação :) Compreendo.
    Gostei muito desse texto porque a historia da autora mistura-se carinhosamente a historia da aldeia. Esse relato transportou-me para uma época onde a simplicidade e a generosidade eram comuns numa comunidade!

    Meus parabens!

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  7. Susana,
    Fiquei encantada com o texto da sua mãe, ia votar nele sem saber de quem era.

    Sinto muito por voce ter sido mal interpretada e alem de tanto trabalho ter tido aborrecimentos.
    Não entendi bem o x do problema mas também não me interessa, o que sei é que voce e Meneres merecem todo nosso respeito.

    Abraços!

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  8. A nossa aldeia é sem dúvida a mais linda de Portugal! Paisagem excelente e habitantes muito unidos...
    Agora com a novidade Terra Liberta, Associação da Pestana. Para mais informações contactem através do blog.

    Pestana a crescer todos os dias

    Família Esteves

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  9. Para mais informações sobre esta Aldeia visitem terraliberta.blogspot.com

    A Associação

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  10. Olá TODOS!
    Não podia deixar de comentar este Blogue...por vários motivos, sendo o principal deles, o carinho enorme que me une à Pestana, que mais que um lugar e uma pequena Aldeia, é o meu paraíso.É por entre estas pequenas casas de xisto e por estas ruas quase inexistentes que os meus olhos brilham de cada vez que faço uma visita à Família Esteves (a minha família.Era na Pestana que eu passava sempre as minhas férias escolares, na casa dos meus avós (a do fundo da rua), era lá que os meus sonhos e as minhas brincadeiras tinham razão de existir e era e é lá que tenho aqueles que tanto AMO.
    Posso garantir-vos que neste pequeno lugar, não há desconhecidos e que, tal como disse a Sra. Zulmira, "o cheirinho a pão acabado de fazer juntava toda a gente". Que saudades que eu tenho da Bola doce da minha Avó Urtence,dos figos e das noites de verão sentada no balcão a ver as estrelas e a esperar os tios que chegavam de uma longa viagem de França.
    Relembro também, que nessa época, não existiam wc`s e que por esse motivos, íamos muitas vezes aos banhos de Longroiva, que eram então gratuitos e abertos à população local.
    Bem, com tudo isto, quero apenas que realmente a Pestana não seja esquecida e desejo um dia pode partilhar este meu sentimento com os mais pequenos, para que também eles conheçam a alegria de ser LIVRE!!!

    Beijo para todos...

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