As vindimas na Beira eram uma aventura como poucas, grandes cestas de vime que ainda hoje sei entrançar, verdes ou negras do sumo da uva colhida, eram colocadas nos carreiros das videiras para que as mulheres, de lenço negro à cabeça e canto cristalino na voz, cumprissem um trabalho que de pesado se fazia leve. Nós, os garotos da cidade misturados sem diferenças com os garotos da terra, amigos até aos dias de hoje, percorríamos as veredas em equilíbrio tentando ganhar a corrida do cacho mais gordo ou da uva mais doce. Acreditávamos que ajudávamos à lide, sei hoje que atrapalhávamos mais que qualquer outra coisa, ainda escuto as gargalhadas do mulherio trabalhador quando ostentávamos um ar orgulhoso por termos conseguido arrastar um cesto cheio até ao reboque do tractor que subiria até ao lagar. O lagar, com um cheiro adocicado e enjoativo, fazia as delícias da pequenada, aguardávamos na chamada fila indiana que nos deixassem rodar a manivela responsável pela primeira espremidela às uvas que eram atiradas dentro. Manivela responsável por uma ferida feia no nariz quando achei que conseguia, ainda de pouca altura, acompanhar-lhe o impulso. Ao fim do dia homens, mulheres e crianças de calças arregaçadas, abraçados e cantando os cantares da terra, pisavam a uva, sem parar. As unhas vermelhas e as pernas salpicadas de vinho. Gargalhadas noite dentro por cada desistência, nós, os pequenos, os primeiros a desistir, cansados do sono e dos vapores nauseados.Era um outro Setembro. Feito de pão casqueiro e fatia de queijo de cabra com casca, feito de figos e dióspiros em quantidades abissais, da apanha da castanha e da seara dourada e colhida, a aguardar na eira o descasque da espiga. Feito de levantares madrugadores ao relinchar da minha égua, a Estrela, que me acordava cedo na certeza do passeio. Era um Setembro de camisola já vestida por essa altura, calça curta e pé descalço, para apreensão da Mãe que nos inspeccionava no banho à procura da carracita do campo ou de algum lanho feio e a precisar de desinfectante.Era o juntar da lenha que aqueceria o cacau escuro e a água do banho quando regressássemos todos em Dezembro, toros enormes que crepitariam no lar franco e bem estruturado de uma lareira que era o orgulho do Pai. “Nem uma réstia de fumo dentro de casa! Aprendam, meninos, aprendam!”Setembro, que não queríamos acabasse, mesmo desejosos que pudéssemos estar na viagem de regresso à cidade para voltar à escola, aos amigos, ao “que fizeste nas férias?” certos de tanta aventura para contar. De outra tanta para ouvir.
Era o meu Setembro, há anos largos, quando ainda criança, quando ainda adolescente.O meu Setembro em Monsanto, aldeia tão portuguesa, Aldeia mais Portuguesa.
Escrito por Catarina
Monsanto, Idanha-a-Nova / Castelo Branco
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Conheço esta aldeia... quando a visitei a maioria dos caminhos por onde passava era só pedras....diziamos que parecia caminho de cabras :)
ResponderEliminarBonita aldeia. Parabéns.
Beijinho
Eu voto no texto chamado "Monsanto, a aldeia da Catarina"
ResponderEliminarLaura Freire
laura_falcao_14@hotmail.com
Eu voto no texto "Monsanto, a aldeia da Catarina"
ResponderEliminarMónica Ribeiro
eu voto neste texto "Monsanto, a Aldeia da Catarina"
ResponderEliminarLeonor Galvão
nocatti@live.com.pt
Eu voto no texto chamado "Monsanto, a Aldeia da Catarina" da autoria da Catarina.
ResponderEliminarRosário Sepúlveda
sepulveda.rosario@gmail.com
Catarina
ResponderEliminarAdorei o texto. Até me ficaram a doer os pés de tanto pisar as uvas e correr nos campos
Beijos e boa sorte
RS
Voto neste texto "Monsanto, a Aldeia da Catarina". Gosto muito.
ResponderEliminarCatrina: o teu texto está a ser bem concorrido, por aqui!
ResponderEliminarA todos os participantes agradeço o entusiamo e a presença neste blogue.
Quero apenas relembrar,que:
Só vou contabilizar os votos deixados nos respectivos espaços de comentário de cada post, se apresentar a seguinte frase:
Eu voto no texto chamado (...) da autoria de (...). assinado (Identificação do votante: Nome e Blogue(com respectivo link) ou e-mail).
Obrigada pela compreensão.
Continuação de boa blogagem!
Susana
Voto neste texto "Monsanto, a Aldeia da Catarina", sim, até pk fikei c imensa vontade de conhecer a aldeia k nao conheço!
ResponderEliminarOlá adorei o texto aqui vai nosso voto
ResponderEliminarbom fim de semana
bjs naty e carlos
Eu voto no texto chamado "Monsanto,a aldeia da Catarina" da autoria de Catarina.
ResponderEliminarCristina Araujo: aaraujo@mcx.es
eu voto neste texto – Monsanto a Aldeia da Catarina, da autoria da Catarina
ResponderEliminarEu voto no texto chamado "Monsanto, a aldeia da Catarina" da autoria de Catarina.
ResponderEliminarJoana Correia
correia_joana@portugalmail.com
Eu voto no texto chamado "Monsanto - A Aldeia da Catarina da autoria de Catarina
ResponderEliminarnocas verde
http://avidadestelado.blogspot.com
nocasverde@gmail.com
eu voto no texto "monsanto, aldeia da Catarina" da auturia de Catarina!!
ResponderEliminarBonita aldeia
Bjs
Cara Susana :) Acredito que tenhas um procedimento a seguir :))
ResponderEliminarA todos agradeço os votos que por aqui vão deixando. Monsanto, mais que eu, merece *
Beijinhos
Concordo contigo, Catarina, Monsnto é uma aldeia fantástica, onde já tive a oportunidade de visitar e conhecer na altura da Festa da Santa Cruz e em simultaneo, Feira Medieval. Foi um fim de semana inesquecível, onde há muito tempo não me divirtia tanto!
ResponderEliminarObrigada pela tua participação, que é bastante interessante e mais valia para este livro virtual.
bjs Susana Falhas
Eu voto no texto chamado Monsanto, a aldeia da Catarina da autoria de Cataroma. assinado Helder Robalo, blogue Aldeia de Santa Margarida (http://aldeiadesantamargarida.blogs.sapo.pt/).
ResponderEliminarSorry, mas não resisto a comentar aqui ... Excelente "retrato" de vida mundana, fazendo-me reportar à minha infância e pré adolescência igualmente em terras beirãs. óptimo texto, tão merecedor de ganhar como outros que já li :)*
ResponderEliminarPARABÉNS, Cararina
Eu voto no texto chamado "Monsanto, a aldeia da Catarina" da autoria de Catarina.
ResponderEliminarRui Cristelo
ruikristelo@hotmail.com
Claro que com um texto destes sobre um dos sítios mais bonitos do nosso Portugal não tenho dúvidas de que
ResponderEliminarEu voto no texto chamado Monsanto, a aldeia da Catarina da autoria de Catarina. assinado Cristina . cristina.cambezes@flad.pt)
Eu voto no texto chamado Monsanto, a aldeia da Catarina, da autoria da Catarina. Assinado: Madalena Cambezes.
ResponderEliminarEstas e outras memórias "moldam-nos" para a vida.
Para béns. Bjs à autora.
Eu voto no texto "Monsanto,a Aldeia da Catarina" da autoria da Catarina :)
ResponderEliminarAss: Ana Teresa (a eterna vizinha!)
Voto no texto "Monsanto, a aldeia da Catarina".
ResponderEliminarRosarinho
De novo agradeço os comentários e os votos *
ResponderEliminarMadalena minha prima .. se moldam *
Saudades :))
Eu voto no texto chamado "Monsanto, a Aldeia da Catarina" da autoria da Catarina.
ResponderEliminarJorge Lopes
sonho_interior@hotmail.com
Eu voto no texto chamado "Monsanto, a Aldeia da Catarina" da autoria da Catarina.
ResponderEliminarInês Costa
inesmhcosta@hotmail.com
Este foi um dos muitos textos que me cativaram dutante essa blogagem. Fico com ele pelas belissimas imagens (quase fotograficas) evocadas, e pela beleza encantada dessa aldeia.
ResponderEliminarEu voto no texto chamado "Monsanto, a Aldeia da Catarina" de autoria da Catarina.
Mirian Mondon
Blog Café com Poesia
marquesmirian.blogspot.com
eu voto no texto: "Monsanto a aldeia da Catarina", da Catarina
ResponderEliminarR.Neves
rncneves@hotmail.com
Beijo esses rochedos a afago o casario...
ResponderEliminarbeijos para a Cristina