quarta-feira, 10 de junho de 2009

Água Formosa




Não existe uma aldeia da minha vida como lugar das minhas raízes e das minhas recordações. Tão pouco encontro nos lugares que descubro como viajante, uma aldeia com que me identifique e onde deseje repousar da minha turbulência urbana. Nasci e devo morrer cidatina embora a Aldeia seja a minha vida enquanto cultura e lugar solidário.
É essa atracção pelo porto de abrigo em que somos reconhecidos pelo nome, notados pela ausência e partilhados no silêncio dos afectos que me atrai e identifica.

E quando assim penso encontro um oásis nas minhas recordações. Encontro a Aldeia da Minha Vida nesta travessia nómada dos passos em que os rostos se me cruzam e confundem e me obrigam cansando de tanta expectativa normativa. E foi nesta fuga, em procura espaço e de contemplação, que fui ter a Água Formosa.

Era um dia de Inverno com muito sol, algures no Inverno passado, em que testava os olhos e o novo carro pelo concelho de Vila de Rei.

Atraída pela placa turística fui dar a um lugar único no mundo. Uma aldeia de xisto, incrustada na encosta dos montes, em que o marulhar das águas nos transporta para lugares incomuns nas nossas viagens pela sedução da paz e da combinação do Homem com uma natureza que existe de forma tranquila e hospitaleira.
Aproximei-me mais sem reparar que não havia retorno. Quando dei por mim tinha o carro atravessado numa pequena ponte donde seria quase impossível retirá-lo e nem vivalma se via. E, ainda que alguém viesse, que poderia uma pessoa simples e de muitos anos fazer contra a imprudência de uma louca cidatina?

Saio do carro e vejo que a manobra que fiz para o retirar acaba por comprometer decisivamente a sua saída. Do marulhar das águas e saltitando de pedra em pedra, surge um velho habitante com umas tábuas. Não sabia conduzir mas talvez as tábuas ajudassem…

Da outra casa vem uma senhora de lenço e avental trazendo na mão um caderno com o número do telefone dos bombeiros. E, neste calor da manhã fria, uma divinal ajuda se acrescenta. Um homem novo e ágil propõe-me retirar o carro se eu corresse o risco de alguma amolgadela.

Acedi e após muitas manobras o carro foi recuperado. O meu salvador era policia e trabalhava, tal como sua mulher, em Torres Novas tendo escolhido para viver aquele espaço de forte identidade. Naquele dia tinha ficado em casa por ter o filho doente. Ao vir à janela apercebeu-se que um visitante incauto precisava de ajuda. E não hesitou embora a tarefa não fosse fácil. A cultura de Aldeia faz milagres. Une as pessoas onde a pressão humana as separa.

Água Formosa, a 10 Km do Centro Geodésico de Portugal, tornou-se assim a Aldeia da Minha Vida. Não só pela beleza do lugar mas pelo reencontro com uma cultura que nos aproxima da vida onde a paz e a meditação ditam novas dimensões ao tempo e aos olhares longe do bulício e das competitividades doentias, em que as pessoas se digladiam em palcos de consumo, sem tempo para o amor ou simplesmente para olhar as estrelas que, nestes lugares, brilham tão próximas dos nossos pensamentos.



Escrito por Lídia
Água Formosa/ Torres Novas/ Santarém
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16 comentários:

  1. Eu voto no texto Agua Formosa escrito por
    Lídia



    É vizinha á minha só pode ser bela!
    Adoreo a prosa, parabéns.
    Natalia Nuno do
    Blog Orquideanegra

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  2. Eu voto no texto Agua Formosa escrito por
    Lídia


    Blogue Cegueira Lusa

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  3. Atenção!
    Só vou contabilizar os votos deixados nos respectivos espaços de comentário de cada post, se apresentar a seguinte frase:

    Eu voto no texto chamado (...) da autoria de (...). assinado (Identificação do votante: Nome e Blogue(com respectivo link) ou e-mail).

    Obrigada pela compreensão.

    Susana

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  4. Lídia , voto com praser neste texto, escrito de forma primorosa. Como sempre fazes -nos viajar , nos intriga e nos comove com tua escrita. Este texto foi assim. Ainda existe pessoas e lugares como este? Voce nos responde.Lindo.
    Lídia porque nao escreves um livro.
    Tua escrita é tão cheia de vida, até sobre Filipe , tu ias escrever muito lindo. Desvenda-nos e nos escreve de uma maneira que sinto que é algo que todos precisam saber,
    Voto uma , voto duas , voto mil em ti mulher escritora e bondosa e cheia de filling para escrever.
    Voto no texto Água Formosa com muito praser!!!!
    Parabéns Lídia

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  5. e tb votono texto deste silêncio culpado de beleza.


    piano. de IMF.

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  6. Eu voto no texto chamado Água Formosa da autoria de Lídia.
    Milu

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  7. Voto não no silêncio culpado, mas na voz que oiço e sinto e em que a culpa é dos que calam perante o que a Lidia mostra.
    Mais palavras para quê se o testemunho gravado em seus escritos faz pensar aqueles que têm a opção da escolha entre gritar e calar.
    Somem mais um voto na Lidia

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  8. Eu voto no texto chamado Água Formosa da autoria de Lídia.

    Maria João
    Pequenos Detalhes
    http://www.mariaescrevinha.blogspot.com/

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  9. Belo texto. Tem meu voto! Eu voto no texto chamado Água Formosa, de autoria de Lídia.

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  10. Eu voto no texto chamado Água Formosa, da autoria da Lídia.

    Peter

    http://conversasdexaxa4.blogspot.com

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  11. Lindo texto!
    Eu voto no texto chamado Aldeia da Minha Vida, Água Formosa, de autoria de Lídia, do Blog O Silêncio Culpado.
    Assinado: Sonia A. Mascaro, blog Leaves of Grass, link: http://leavesgrass.blogspot.com
    E-mail: samascaro@uol.com.br

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  12. Eu voto no texto chamado Aldeia da minha vida - Água Formosa da autoria de Silêncio Culpado. assinado: Å®t Øf £övë (http://www.blogger.com/profile/11948341456318237070)

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  13. Eu voto no texto "Água Formosa" da Lídia, por acompanhar há muito a sua escrita decorada com imensas valências para quem, como eu, vem à internet para ler e levar algo de um aprendizado constante. A Lídia merece e este texto é um dos exemplos.
    Parabéns Lídia e já sabes...nunca deixes de escrever:)

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  14. Eu cá estou a votar também.

    Claro que é na "Agua Formosa" da Lidia.

    Do Silêncio Culpado.

    Assino e confirmo o meu voto Sideny:))
    abraço

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  15. Não sei se se pode votar duas vezes. Se for possível, eu voto no texto chamado Água Formosa, de autoria de Lídia.

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  16. Eu voto no texto de Lídia, chamado Aldeia Formosa do blogue O Silêncio Culpado.
    Compadre Alentejano
    www.papaacordas.blogspot.com

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