quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sapiãos, uma aldeia da Boticas


Nasci no sopé de uma serra que,segundo rezam as crónicas, por ter muitos leirões,(ratos grandes), se chama Serra do Leiranco, com 1134 metros de altitude.
SAPIÃOS, concelho de Boticas, distrito de Vila Real, não foi um nome imutável ao longo dos séculos e, o que a tornou célebre pelas belezas naturais, economia agrária, água em abundância e situação estratégica, entre Bracara Augusta e Aquae Flaviae, foi “SIPIÕES” por ser a partir dali que nasceu o apelido “Barroso” de um fidalgo, senhor das Terras do Barroso que ali tinha uma Torre. Foi ele D.EGAS GOMES GUEDEÃO, no século XIII, que preferiu substituir Guedeão por Barroso. (Consultar Armorial Lusitano).
Na aldeia da minha vida, cresci a ouvir cantar os rouxinóis, o cuco, os galos,ao som do tilintar das campainhas das vacas, do chocalhar de cabras e ovelhas, de passear nos tradicionais carros dos bois e a cavalo dos dóceis burros e imponentes cavalos.
À medida que fui crescendo, ia-me deliciando a ouvir histórias de mouras encantadas que teriam vivido no Castro do Muro e que distribuíam amor aos homens valentes que ali habitaram, a que umas vezes chamavam “Mouros”, outras vezes “Romanos”, e só mais tarde admiti que também tivessem sido “Celtas”, “Calaicos”,
“Ibéricos” e não sei que mais…


Quando comecei a ir ao cemitério, disseram-me que dentro da elegante capela românica, em volta da qual foram aumentando o número de campas dos mortos, inicialmente, eram enterradas as pessoas mais importantes do “Povoado”. E mostraram--me essas sepulturas separadas por pedaços de rochas graníticas, cobertas de madeira e que sobre elas se ajoelhavam, ou estavam de pé, os fiéis que participavam nas cerimónias religiosas. Fiquei impressionado com o que estava a ver e a ouvir e tive a sensação de medo. Mais tarde, já homem feito e estudado, em conversa com populares, disseram-me que no lugar dos Pássaros havia umas pedras parecidas com as pias dos porcos e também parecidas com uma fotografia que tinha no manual de História de Portugal. Pedi ao José da Silva para mas mostrar e lá fui eu encontrar as “ Sepulturas Antropomórficas”, ainda maiores do que a do livro. Eram uma espécie de mausoléus da era moderna feitos directamente nas rochas, bastante perto do “castro do muro”. Agora, passei eu a ser o professor das sepulturas antropomórficas para a população local e não só. Descrevi-as no jornal “A VOZ DE CHAVES”; convidei a Dr.ª Isabel Viçoso, amante de antiguidades, a visitá-las, e pouco tempo depois, por iniciativa da Câmara Municipal de Boticas, foram resguardadas e passaram a ser um cartaz turístico da minha aldeia, já com o nome de SAPIÃOS.
Mas a minha aldeia é, sem fantasias, a que possui o Património Histórico mais valioso do concelho. Tem uma capela românica do século XIII onde se celebraram os actos de culto até ao século XVIII, século em que graças ao dinheiro vindo dos emigrantes do Brasil, se construíram duas elegantes capelas particulares e a actual Igreja Paroquial, com bela e artística talha dourada, estilo Barroco. Até ao século XX, consumíamos a água das fontes de mergulho e comíamos os frutos da terra, terra, no sentido próprio.
Tratavam-se as doenças com plantas do campo, sopas de burro cansado,(malgas de vinho com pão e açúcar), bagaço e mel.
A morte foi roubando os mais fracos; e os que resistiram aos inimigos da saúde, nesses tempos não distantes, alguns, chegam a viver quase cem anos.
Hoje, no dia 9 de Junho do ano 2009, a minha aldeia é de longe, a mais bonita e progressiva do Concelho de Boticas. Utiliza as tecnologias confortáveis das grandes urbes e enfeita-se com belos jardins das casas dos emigrantes no centro do grande jardim colectivo formado pelos campos, montes e vales que se vão ajustando aos nove meses de Inverno e três de Inferno, no dizer de alguns que só estão habituados a viver num espaço mal cheiroso, de meia dúzia de metros quadrados, com ar condicionado. Na minha aldeia faz-se História e vive-se a História dos antepassados com amor e alegria.



A música popular foi recolhida, em Sapiãos, pelo musicólogo Dr. José Alberto Sardinha e sua irmã, Drª. Olinda, Técnica Superior do Museu de Arqueologia de Lisboa (Mosteiro dos Jerónimos) no dia 01-09-1991.
Foi editada em disco pelo Jornal de Notícias do Porto. O Romance foi representado por jovens artistas "prata da casa" e as vestes que envergam foram emprestadas pela Direcção do Teatro Nacional de São Carlos. Este facto, por imprevisto e inédito, criou uma mais-valia importante na população local, nos emigrantes em férias, vendo nós um deles, licenciado em Direito, no Brasil, a manifestar toda a sua surpresa por ter deixado, aos teze anos de idade, os seus conterrâneos apenas educados com a quarta classe, (actual 4º ano), e agora assistir, na companhia do Presidente da Câmara Municipal e outros emigrantes brasileiros, directores do Clube de futebol Vasco da Gama e da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro do Rio de Janeiro, a um espectáculo de cariz histórico, cantado, fazendo o o poema parte do Romanceiro de Almeida Garrett. Aquilo foi um luxo no interior serrano pobre e abandonado pelo Portugal banhado pelo Atlântico.
Na Aldeia da Minha Vida interiorizou-se o princípio de que nem só de pão vive o homem. A Associação Cultural Serra do Leiranco justifica a sua existência. Preserva as tradições, as danças e cantares regionais.
Mas no forno comunitário continua a cozer-se o pão centeio ou de mistura, folares de carne ou sem ela, a assar cabritos, frangos, pimentos e outros petiscos que nos fazem crescer água na boca.
A minha aldeia, que é A Aldeia da Minha Vida, está de braços abertos para Vos acolher. Oferece-vos o perfume das flores campestres, o delicioso paladar das iguarias e o abraço da amizade transmontana, consagrada na célebre expressão: «Entre quem é …»
Consulte http://flickr.com/photos/arturcouto
onde poderá ver mais documentos fotográficos da Aldeia da Minha Vida.
Escrito por: Artur Monteiro do Couto
Sapiãos, Boticas, Vila Real
Para comentar, vá ao blogue de origem: http://roinesxxi.blogs.sapo.pt/87992.html
Para votar este post, deixe aqui o seu voto na caixa de comentários

3 comentários:

  1. Sapiãos? lol nunca tinha ouvido falar ehehe....mas é assim que enriquecemos a nossa própria cultura :)
    Parabéns.

    Beijinho

    ResponderEliminar
  2. Ellen: Há imensas aldeias espalhadas pelo país que não fazemos ideia da sua exitência!

    Parabéns ao Artur pela sua postagem! Aprenedmos mais um pouc sobre o nosso país , consigo!

    Abraço, Susana

    ResponderEliminar
  3. Excelente,aprendi muito sobre Sapiãos,terra de meu avô Manoel Gonçalves Ferreira que veio muito jovem para o Brasil.Acredito que eu tenha alguns parentes em Sapiãos,conheço muitos lugares de Portugal e vou colocar Sapiãos no meu roteiro.
    Jorge Ferreira

    ResponderEliminar