terça-feira, 9 de junho de 2009

Aldeia da minha vida: Longroiva

Nasci na cidade da Guarda, pois era para lá que enviavam as mães parturientes para terem os seus filhos. Quase toda a minha vida vivi na actual cidade de Mêda, onde cresci , até que parti para estudar e depois para trabalhar.

Vista Parcial de Longroiva

Mas é da aldeia de Longroiva onde encontro mais afinidades, pela sua História, pela qual me apaixonei . Em cada dia que passa, não pára de me surpreender, com as descobertas feitas na região, cuja passagem humana remonta desde os tempos da Idade do Ferro, passando pelos tempos romanos, seguidos dos tempos da emergência da nacionalidade portuguesa. Foi com os Templários que esta terra teve o seu papel fulcral na defesa portuguesa, contra mouros e castelhanos. No entanto, pouco resta daquilo que foi outrora, senão a torre de menagem e a Igreja Matriz que continuam intactos, ao longo de 8 séculos de História. Esta parece ter ficado cada vez mais esquecida e desvalorizada, a cada geração que passa.

Da aldeia tenho algumas pequenas histórias para contar, pois foi o elo de ligação entre a família dos meus avós paternos e maternos. Longroiva é uma freguesia, onde fazem parte pequenas quintas e lugares como a Pestana, terra da minha mãe, e a Quinta dos Falhas, terra do meu pai. Foi em Longroiva que os meus avós e os meus pais se casaram e nós (eu e a minha irmã) fomos baptizadas pelo Padre António, que já faleceu há alguns anos.


Foi na Escola Primária de Longroiva onde os meus tios aprenderam as primeiras letras e números, assim como eu estive, desde a segunda à quarta-classe, enquanto a minha mãe leccionava, noutra sala ao lado. Os primeiros companheiros tive-os nessa escola, como a Raquel ou o Jean Louis, a Luísa, a Sónia, que na maioria deles perdi o contacto. Já foi uma escola cheia de miúdos, com as duas salas e um Jardim de Infância. Hoje está fechada, por falta deles…
A minha Escola Primária



Momentos festivos, como o Natal, o Ano Novo, a Páscoa ou a Festa da Nossa Senhora do Torrão em Setembro (anual: 7, 8 e 9 de Setembro) eram vividos intensamente pela família, que aproveitava esses dias para se encontrarem. Dessas festas, vêm à memória momentos das tradições: não me esquece a forma como as senhoras cantavam os cânticos na Igreja, que não deixava ninguém indiferente...pois entravam e ficavam bem impregnadas no ouvido…mesmo que não quiséssemos… como aquela em que o pastor coloca um rebanho de ovelhas a correrem em volta da capela vezes sem conta; aquelas bandas da fanfarra que passavam pelas ruas a tocar e os foguetes a arrebentar, logo de manhã, para acordar o povo ou aquele meu tio Eurico que, com aquela voz capaz de ser audível bem longe dali, aproveitava para ajudar os mordomos da festa na arrematação das prendas, enquanto bebia o seu sagrado vinho tinto.
Termas de Longroiva: instalações a inaugurar brevemente

Longroiva é uma região importante pelo facto de ter as Termas de Longroiva, especialista em tratamentos para os ossos e de pertencer à Região Demarcada do Douro.
Vale da Veiga
É no Vale da Veiga que começa a região do famoso Vinho do Porto, onde os meus avós foram produtores e os meus pais continuam a actividade. Infelizmente o Vale da Veiga parece ter os seus dias contados…o governo pretende destruir o que de melhor existe nesta região para aí construir a famosa IP2. Quando isso acontecer, grande parte da produção vinícola de Longroiva ficará irremediavelmente perdida.
É triste sabermos que, neste momento, não é só o património construído, o único ameaçado de esquecimento e de desvalorização, o património paisagístico que compõe a região pela sua beleza ímpar protagonizada pelas Videiras, Oliveiras e Amendoeiras, enfrenta também este problema. É um problema que irá contribuir para que a desertificação tenha um impacto ainda maior e mais negativo para esta região.
Esperemos que até lá ainda haja tempo para voltar atrás para repensar nas estratégias que possam beneficiar as populações, e não prejudicá-las. Para que os jovens que escolheram ficar a viver e apostar na sua terra não se sintam traídos.
Esses jovens, como eu escolheram ficar, com muita coragem.
Com muita coragem eu resolvi sair.
De lá levo recordações, mas espero um dia voltar, para fazer aí a minha vida com a minha família, que entretanto formei.

Até lá ficam apenas a intenção e as recordações.

Escrito por Susana Falhas*
Longroiva/ Mêda/ Guarda
______
*Sócia da Olho de Turista Lda
Não se preocupem , que eu não vou concorrer ao prémio!
Não podia deixar de participar e dar a conhecer a todos a minha aldeia.

14 comentários:

  1. Susana
    Antes de mais aqui vão os meus parabéns pela iniciativa a todos os títulos louvável.
    Tenho dito várias vezes e em vários locais que Portugal merece, sem sombra de dúvida, ser divulgado, quer no seu património, quer na sua cultura.
    Esta sua iniciativa é uma forma excelente de o fazer.
    Espero que seja realmente um êxito, sobretudo por ser uma realização ao nível de qualquer outra comemoração do 10 de Junho: o DIA DE PORTUGAL.
    Abraço
    Jorge

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  2. Jorge,

    Mais uma vez obrigada pelas palavras, pela participação e por acreditares neste projecto. Nós também pensamos assim. Portugal não é feito de grandes cidades, tem grandes tesouros que devem ser olhados de outra forma,a começar pelas nossas aldeias!

    Um abraço, Susana

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  3. "Não se preocupem que eu não vou concorrer ao prémio"... lol...
    Depois de ter lido a sua bonita descrição, não pude deixar de esboçar um sorriso, quando li esta parte.
    Eu vou concorrer, não é pelo prémio, mas sim porque é uma forma de divulgar a minha aldeia (que até é vila),
    e que se identifica com a sua em alguns aspectos.
    Gostei da descrição.
    Haja gente para divulgar o que de bonito temos, e que não deixe cair no esquecimento, o quão gloriosos fomos outrora.
    Um beijo e tudo de bom!
    Cristina

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  4. Querida Susana,

    Obrigada pelo comentário!!! "Roubei" a aldeia ao meu marido mas ele gostou imenso. Ao fim de tantos anos, as coisas de um passam a ser do outro também...
    Estou a descobrir aldeias lindas... Obrigada pela iniciativa.
    Quanto à sua, fala dela com o amor próprio de quem ama as suas raízes e tem excelentes recordações. Lindo texto. Parabéns.
    Como já tinha dito, vou para fora e só começarei a votar no domingo ou na 2ª!
    Não fiz menção no meu blogue que a votação se fazia aqui mas não importa. O maior prémio é mesmo participar e conhecer mais sítios maravilhosos...
    Beijo grande.

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  5. Susana,
    a sua aldeia também é bonita. Há verde muito verde :)

    como já deve ter lido eu não tenho 'terra' em Portugal, mas herdei-a dos pais :)
    e para o JF (meu irmão) participar eu iria repetir-me, então deixei o caminho aberto para ele visto que sempre gostou muito de História nos tempos de escola :)
    Mais uma vez, a sua iniciativa foi explêndida, independentemente do prémio. Só por si, poder conhecer um pouco de Portugal desta forma, já é um grandioso fim de semana! :)

    Beijinho até Longroiva (que eu não conhecia também) e parabéns pela sua iniciativa desta BC.

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  6. Olá Susana
    Gostei de ler o teu texto sobre Longroiva, cuja igreja já visitei nas circunstâncias que te descrevi no Encontro de Blogguers. O vale que antecede a subida para a povoação é idílico. Quando chegamos lá acima, ficamos atónitos com a grandiosodade daquele património arquitectónico. A tua iniciativa da "Aldeia da Minha Vida" mostra a tu raça. Grande maratona, ontem!
    Que tudo corra bem.

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  7. Obrigada a todos pelas palavras!

    Postei sobre Longroiva pelo gosto que em dar a conhecer para quem não conhece.

    Vale apena um dia visitarem, como o amigo Pinto confirma.

    Espero que esta blogagem corra bem!

    Abraço a todos!

    Susana

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  8. Uau! Então depois disto tudo, a Susana prega-me uma partida destas? Puxa! Que alívio não ser candidata eheheh é que chegando aqui os textos e a emoção estão de tal modo misturados que me seria difícil manter a decisão de não votar.

    Cara Susana, foi exactamente o padre António que me casou na igreja de Marialva no dia 20 de Setembro de 1975!!! Conheço mal Longroiva, mas tenho certeza que temos mais coisas em comum.

    Como o mundo pode ser tão pequeno!!! PARABÉNS pelo texto, Obrigada pela partilha e pela promoção de recantos remotos do nosso país

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  9. Olá Pascoalita!

    Depois do seu comentário que deixou, a propósito da inha aldeia(Longroiva) , não podia deixar de passar a qui para agradecer o seu belíssimo comentário, que por sinal deixou-me muito curiosa, pois é minha conterrânea, por afinidade. (Será que os conheço pessoalmente?)

    Um grande abraço! Vou passar a seguir o teu blogue, de perto.

    Um abraço, Susana Falhas

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  10. Conhecer-nos creio que não, pois há quase 40 anos que deixámos as terras beirãs, onde apenas vamos de passagem uma ou 2 vezes no ano. Mas temos certamente amigos e/ou até familiares em comum.

    Vou seguir o seu Blogue, como aliás alguns que me levou a conhecer hoje. Obrigada mais uma vez

    Mizé

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  11. Olá,
    Parabéns pelo seu artigo. Como longroivense, apesar de ter nascido na Guarda, não poderia ficar indiferente a um texto tão agradável e simpático.
    Continue que a VILA de Longroiva merece.
    Sérgio Lopes.

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  12. Olá Sérgio!
    Muito obrigada pela sua visita e comentário.
    Pode estar certo que haverá outras oportunidades para escrever mais sobre esta linda aldeia, da qual sou natural ( apesar de ter nascido na Guarda) e tenho um especial carinho por ela.

    Um abraço, Susana

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  13. Longroiva é sem dúvida uma localidade muito bonita. E que a partir de agora terá uma nova fase com a inauguração do novo complexo termal.
    E também já faz parte do...Portugal Notável.
    O post é assim dedicado a Susana.

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