E, aldeia engalanada, sai a procissão para a rua, que se faz tarde. Veste-se o melhor fato, passa-se a escova pelos sapatos, camisa nova, vestido a estrear, cabelo arranjado e ala que está na hora. O dia é de festa, a aldeia vê chegar os seus filhos "estrangeiros" e, por momentos, parece que naquelas ruas se voltou ao antigamente. Não fora a quantidade imensa de carros, de matrículas portuguesas, francesas, luxemburguesas e até alemãs, e parecia ter-se voltado 50 anos atrás. Bandos de crianças correm pelas ruas, a alegria dos petizes ecoam pela calçada... Que alegria. As velhotas com suas doces rugas bem vincadas no rosto e um sorriso de orelha a orelha... "'lher lá, aquele ali é mê neto mai novo". E o petiz, célere, corre para o regaço da avó, escondendo-se tímido, enquanto espreita, olho matreiro, por detrás da mãozinha pequenina, para aquela senhora vestida de negro que conversa com a avozinha.
Ao fundo já se ouvem os primeiros acordes da banda, o bombo e os pratos, o trombone e o clarinete... É dia de festa e a aldeia está engalanada, flores espalhadas pelo chão das ruas onde, daqui pouco, há-de passar a procissão. Lá dentro, na igreja, os lugares são cada vez menos. "Olha, a filha de fulana este ano também veio", sussurra-se numa audível conversa. Adeus daqui para acolá, um beijo atirada com enormes dificuldades em voar até duas filas atrás tal o peso da saudade que leva nas asas. E o padre que entra, o bandolim que começa a ecoar pela igreja, o coro, com o seu tão tradicional sotaque beirão, "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo"... Aqui e ali um bichanar um bocado mais alto, um pigarrear a ver a conversa acaba, um "Santo, Santo, Santo" que se canta e uma hóstia que se vai tomar. E o aviso do costume: "pede-se a todos os que queiram colaborar com os andores o favor de chegarem ao altar". "Oh Manel, anda cá que falta um p'ra levar o Santo António"... E começa a disputa do costume. A canalha, implacável, e esperta, luta para levar a sua bandeirinha. Que bandeirinha carregada na procissão é garantia de mimos extra e atenção redobrada dos avós, babados, orgulhosos dos seus meninos. "Já viste o calor que estava e ele portou-se sempre tão direitinho?". Malandros estes petizes...
O almoço, esse, é sempre reforçado. Junta-se a família, os primos e tios com quem se está uma duas vezes por ano, contam-se estórias, discutem-se problemas e, mais cedo ou mais tarde, adoça-se o repasto com as estórias do antigamente, de quando a mãe e o pai e o tio eram pequenos. Estórias que, é garantido, dão direito a gargalhadas bem audíveis!No café já não há espaço para mais ninguém. Está cheio, como de costume. No "domingo da festa" é sempre assim. Parece que toda a gente se junta ali e que não há mais cafés na aldeia. Abraços apertados de amigos de longa data. Alguns já não se viam há mais de dez anos. "Sabes como é, desde que morreram os meus pais a vontade de cá vir é pouca... Mas agora, como arranjamos a casita, é sempre mais fácil..." E as horas passam, velozes, quase sem se dar por elas... E, quando se dá por conta, já é hora de ir embora, voltar a fazer as malas, guardar as recordações e aconchegar as saudades que já se começam a sentir. Uma lágrima no olho, matreira, que se tenta esconder para que ninguém veja... e um adeus difícil. Sempre difícil dizer adeus...
Quando é que é Agosto outra vez?
Ao fundo já se ouvem os primeiros acordes da banda, o bombo e os pratos, o trombone e o clarinete... É dia de festa e a aldeia está engalanada, flores espalhadas pelo chão das ruas onde, daqui pouco, há-de passar a procissão. Lá dentro, na igreja, os lugares são cada vez menos. "Olha, a filha de fulana este ano também veio", sussurra-se numa audível conversa. Adeus daqui para acolá, um beijo atirada com enormes dificuldades em voar até duas filas atrás tal o peso da saudade que leva nas asas. E o padre que entra, o bandolim que começa a ecoar pela igreja, o coro, com o seu tão tradicional sotaque beirão, "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo"... Aqui e ali um bichanar um bocado mais alto, um pigarrear a ver a conversa acaba, um "Santo, Santo, Santo" que se canta e uma hóstia que se vai tomar. E o aviso do costume: "pede-se a todos os que queiram colaborar com os andores o favor de chegarem ao altar". "Oh Manel, anda cá que falta um p'ra levar o Santo António"... E começa a disputa do costume. A canalha, implacável, e esperta, luta para levar a sua bandeirinha. Que bandeirinha carregada na procissão é garantia de mimos extra e atenção redobrada dos avós, babados, orgulhosos dos seus meninos. "Já viste o calor que estava e ele portou-se sempre tão direitinho?". Malandros estes petizes...
O almoço, esse, é sempre reforçado. Junta-se a família, os primos e tios com quem se está uma duas vezes por ano, contam-se estórias, discutem-se problemas e, mais cedo ou mais tarde, adoça-se o repasto com as estórias do antigamente, de quando a mãe e o pai e o tio eram pequenos. Estórias que, é garantido, dão direito a gargalhadas bem audíveis!No café já não há espaço para mais ninguém. Está cheio, como de costume. No "domingo da festa" é sempre assim. Parece que toda a gente se junta ali e que não há mais cafés na aldeia. Abraços apertados de amigos de longa data. Alguns já não se viam há mais de dez anos. "Sabes como é, desde que morreram os meus pais a vontade de cá vir é pouca... Mas agora, como arranjamos a casita, é sempre mais fácil..." E as horas passam, velozes, quase sem se dar por elas... E, quando se dá por conta, já é hora de ir embora, voltar a fazer as malas, guardar as recordações e aconchegar as saudades que já se começam a sentir. Uma lágrima no olho, matreira, que se tenta esconder para que ninguém veja... e um adeus difícil. Sempre difícil dizer adeus...
Quando é que é Agosto outra vez?
Escrito por Helder Robalo
Aldeia da Santa Margarida/ Idanha-a Nova/ Castelo Branco
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Olha que giro, na Soalheira as ruas quando há procissões também são assim enfeitadas e há uma capela numa aldeia muito perto que se chama Louriçal do campo que também é identica a esta :)
ResponderEliminarBonita descrição em originalidade também.
Parabéns.
Beijinho
Eu voto no texto Aldeia de Santa Margarida da autoria de Helder Robalo.
ResponderEliminarCatarina
Mostrar este HTML numa nova janela?
ResponderEliminarBoa tarde Helder,
Não entendo o que terá corrido mal!.
deve ter havido uma falha no Blogger.
De qualquer modo publicarei este voto.
Com melhores cumprimetos.
Citando Helder Robalo
Bom dia,
Recebi isto no meu mail, mas não aparece no site.
Abraço.
----- Mensagem encaminhada de natalia.nuno6@gmail.com -----
Data: Wed, 10 Jun 2009 08:24:30 -0700 (PDT)
De: natalia
Assunto: Aldeia da Minha vida : Aldeia de Santa Margarida
Para: helder
natalia enviou-lhe uma hiperligação para um blogue:
Voto no texto aldeia de santa margarida escrito por Helder Robalo
Blogue: Aldeia da Minha vida
Mensagem: Aldeia de Santa Margarida
Hiperligação: http://aldeiadaminhavida.blogspot.com/2009/06/aldeia-de-santa-margarida.html
--
Suportado pelo Blogger
http://www.blogger.com/
----- Finalizar mensagem encaminhada -----
Caro Helder: Já coloquei o link da sua aldeia, no post da lista das aldeias. Agora vou colocar as restantes.
ResponderEliminarAproveito para o felicitar pela sua interessante participação. Como já disse anteriormente,no seu blogue, o seu texto consegue levar-nos ao tempo de meninice, em que se sguia religisosamnte estas festas e romarias da aldeia.
Obrigada, mais uma vez pela sua participação.
Abraço, Susana
É um prazer participar. Não só pelo prémio, muito interessante, mas sobretudo pela oportunidade de divulgação de Aldeia de Santa Margarida :)
ResponderEliminarComo está claro, o meu voto vai também para "Blogagem Colectiva da Aldeia da Minha Vida" da autoria do Hélder Robalo.
ResponderEliminarDavid Martins,
davidmartins.dm@sapo.pt