quarta-feira, 10 de junho de 2009

Carta ao meu amigo António

Brunhoso, 05 de Junho de 2009
Amigo Antóino


Há quase 30 anos que te fuste da nossa terra, mas só houje soube do teu paradeiro e resulbi escreber-te duas letras.Num sei nada da tua bida, mas espero que fiques cuntente por saberes que Brunhoso segue bibo, mas já nada é alegre cumo antes. Lembras-te das nossas brincadeiras da escola? A professora Josefina não era amiga de brincadeiras e num achaba ninhuma graça quando chigábamos atrasados por termos ido espreitar um ninho de marigacho nos lameiros de Cinzas. Habia sempre um bufarinheiro que nos acusaba. Nem quando le trouxemos um bô ramo-de-raposa, nos perdoou. A régua entrou na baila, e, tantas lebei eu, como tu. Num adiantaba espingardar.





Nas tardes de Primabera, quando nos juntábamos no adro da igreja, jogábamos ao fito, ao espiche e à bilharda. Mas rápido binha o Berão, cheio de canseiras. Nunca fui muito co’as segadas, mas lá que habia boas merendas, habia. Logo pela fresca só s’oubiam os carros de bois a chiar, pesados da carreija. Inté sabia quando intrabam no arrouço antes de chigarem às eiras de baixo. Num nos faltaba que fazer mas mal podíamos c’ua benda. Bô era quando nos cabia fazer chigar a cabaça a todos. A ceitoura era pesada p’ra nossa idade mas os garotos d’agora só sabem matraquilhar num tal Magalhães, um cumputador que les deu o goberno.Mas, nos Domingos, era difrente. Ficábamos cheios de nobe horas, todos pimpões, quando nos chigábamos perto das moças. Num bou cusquilhar agora, mas ficábas todo impachado quando chigaba a Elbira do ti Toino Espalha. Num te posso continuar a falar destas coisas senão inda bais fazer caçoada de mim.


Tinhas que ber Brunhoso agora, num parece a mesma terra! Já num há carros nem bois, nem segada, nem carreija, nem malhada. Num há bacas nos lameiros, nem castanheiros na Serra. Nem ó menos há garotos, c’mo nós, a brincar nas ruas. Todos ficam nas suas casas ou bão ó café. Agora há dois cá na terra! Têm cerbeija, bilhares, e telebisão cum centos de programas do mundo todo. As ruas estão limpinhas, com paralelos até à Malhada. Tamém já não há pitas nem canhonas p’rás sujarem.Temos um campo de futebol moderno que le chamam polidesportivo. Cumu já num há munta gente, fizeram um campo piqueno, mas, olha qu’às bezes inté têm de bir cá os de Paradela ou os de Remondes, p’rá haber duas equipas!Tens que cá bir na festa do Berão. Bêem muntos emigrantes da França e da Espanha e há bailarico três noites a eito. D’algum tempo p’ra cá inté têm bindo alguns emigrantes do Brasil, só tu é que nunca cá boltaste! Num acredito qu’aí tamém te façam guisote, ou rascas, ou comas umas mouçós com meia remeia de binho. Essas coisas só sabem bem na nossa terra.Sabes, aqui tamém nem tudo bai bem. Bê lá tu que querem inundar o Cachão! Limbraram-se de fazer uma barraige, lá p’ra baixo, perto do Felgar e querem pôr o nosso rio Sabor mais parado que o mar morto. Inda há pouco tempo que lá fui e ficaram-se-me lá os olhos de pena. Já num há alcaforros no Poio, parece que até os escouparões desapareceram! Querem tirar-nos as olibeiras. Logo agora que temos bôs caminhos e que chigamos à Barca enquanto o dianho esfrega um olho. Sabes, até já fazem passêios ao rio, bê lá tu! Juntam-se ós bandos e bão por aí abaixo, e olha que bêem de fora p´ra conhecer o no Crasto, o Poio e o Canelo! Até fizeram qualquer coisa na Intarnet, até o Chico Zé já me biu na França! Acho que le chamam um Blogue, tu num conheces isso?







Tinha tantas coisas p’ra te diser que salto dumas p’rás outras... deixa de ser somítico e bem mas é até cá. Tenho uma tãlha de azeitonas bem boas curadas cum cinza à tua espera.Ficas a deber-me uma resposta.Um abraço deste teu amigo que nunca te esquece.


Zé Manel da Preta

Escrito por Aníbal Gonçalves
Para saber o significado de algum "palabrão" mais estranho, visitar a recolha de vocabulário feita na Página Web de Brunhoso.

Brunhoso/ Mogadouro, Bragança
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11 comentários:

  1. ehehehe... esta está o máximo na sua descrição e originalidade. Adorei :)
    mas como se chama a aldeia ahahahahaha

    Beijinho

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  2. A aldeia está identificada no início da carta:
    Brunhoso, 05 de Junho de 2009

    Contrariamente ao que consta no final do Post, Brunhoso pertence ao concelho de Mogadouro, no distrito de Bragança.
    Para saber o significado de algum "palabrão" mais estranho, visitar a recolha de vocabulário feita na Página Web de Brunhoso.

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  3. Esta grafia traduz o modo como falamos na nossa terra, em Brunhoso. Este nosso falar está nos arrabaldes da língua mirandesa.
    Parabéns ao autor que trouxe para as nossas casas espalhadas pelo mundo aquilo que é a nossa terra em contraponto com o que foi. E tudo na nossa linguagem.

    Um brunhosense
    António Magalhães

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  4. Eu voto no texto chamado Carta ao meu amigo Antóino da autoria de Aníbal Gonçalves

    António Magalhães
    anmagalhaes53@gmail.com

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  5. A todos os participantes, agradeço os comentários deixados , a favor do Aníbal.

    Para não haver dúvidas, quer relemrar que:
    Atenção!
    Só vou contabilizar os votos deixados nos respectivos espaços de comentário de cada post, se apresentar a seguinte frase:

    Eu voto no texto chamado (...) da autoria de (...). assinado (Identificação do votante: Nome e Blogue(com respectivo link) ou e-mail).

    Obrigada pela compreensão.

    Continuação de Boa blogagem!

    Susana

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  6. Ou eu me ingano munto ou o Antoino é praí do meu tempo.El quando cá bier que bá ter comigo, tamém tenho muntas cousas pra le alembrar cumo quando escundimos a palma à dona Josefina.
    Aix,que sim eram de bôs esses tempos!


    Eu voto no texto chamado Carta ao meu amigo Antoino da autoria de Aníbal Gonçalves
    Francisco Carvalho
    aix.blogspot.com

    francar@netcabo.pt(actual fc32132@gmail.com)

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  7. Gostei do texto! Sinceramente, não vou votar em nenhum em especial pela simples razão de que seria injusta elegendo um em detrimento de outro. Lamento mas deixo para outros essa tarefa. Parabéns!!! Gostei muito

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  8. Eu voto no texto chamado Carta ao meu amigo Antoino da autoria de Aníbal Gonçalves. assinado Filipe Gonçalves, filipesemmaisnada@gmail.com

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  9. Eu voto no texto: " Carta ao meu amigo Antoino", da autoria de Aníbal Gonçalves.
    Esmeralda Lopes
    esmeraldalopes@msn.com

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  10. Sérgio Medas disse:
    Eu voto no texto chamado Carta ao meu amigo Antóino da autoria de Aníbal Gonçalves

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  11. Eu voto no texto chamado "Carta ao meu amigo António" da autoria de Anibal Gonçalves.
    Alexandrina Areias

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