segunda-feira, 12 de abril de 2010

"A MINHA PÁSCOA DE...ONTEM"


Nos outros tempos pintávamos os ovos oportunamente esvaziados pela Beatriz, numa profusão de tintas pastel em pequenos recipientes. A mesa da cozinha, comprida e em madeira tosca, era coberta por um plástico grosso, sentavam-se os irmãos, os primos e os amigos que ao saberem-nos de férias na terra faziam, a partir das oito da manhã uma barulheira com o batente ou brincavam, até acordarmos, com as argolas de prender as montadas levantando-as e deixando-as cair em estrondo na pedra da entrada. Lembro-me da idêntica gritaria com que os acolhíamos numa saudade que a separação, desde o Natal passado, já tinha agudizado.

Os ovos pintados eram depois escondidos a coberto da vegetação, dependurados nas oliveiras, ou quase enterrados no sulco da terra que nesta altura ainda está húmida e cheirosa.
Domingo de Páscoa, após a Missa de Graças, as roupas de festa eram rapidamente despidas e arrumadas e em calça de ganga e alpergata partíamos à “caça ao tesouro” na tentativa de sermos o que mais ovos conseguia trazer, enquanto se ultimavam os preparativos para o almoço que reunia, igualmente toda a família.

A família é mais pequena agora.
Tantos são os que já partiram em viagem sem regresso a não ser o que a nossa lembrança permite, que quando olho para trás vejo muitos lugares à mesa postos... mas vazios.

Já não há oliveiras onde dependurar fios invisíveis com ovos coloridos e ninguém suja as unhas de terra num esconde-esconde propositado. Os ovos de caros que são, não se estragam em pinturas que levavam dias a secar. E as gemas e claras já não servem para os ovos moles ou delicias queimadas com que nos deleitávamos. Muito calórico, dizem.

Mas a família continua a gostar de se reunir a propósito de tudo e acima de tudo a propósito de nada. E é a esse ninho que regresso vezes sem conta, ainda que algumas vezes... em imaginação. Hoje, irmãos, irmãs, cunhados e cunhadas, filhos, sobrinhos, primos... uma outra mesa cheia, talvez não tão cheia é certo, mas sem lugares vazios.

Deixo-vos com as minhas memórias e com os votos de uma Santa Páscoa :)

Escrito por Catarina Price Galvão, do blog (Once)

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6 comentários:

  1. Olá Catarina!
    É verdade,uns partem,outros nascem. Mas celebra-se sempre com algumas mudanças e recordando...
    Lembro-me de pintar ovos e andar pelo jardim na sua busca e de chocolates também.Hoje,já não fazemos isso.Mas a tradição modificou-se e também é muito boa: missa,almoço em família e passeio. :)

    Jocas gordas
    Lena

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  2. Lindo, muito lindo seu texto, Catarina !

    Na minha família, moradora de uma grande cidade, não havia a tradição dos ovos pintados. Nem dos ovos de chocolate escondidos no jardim para que as crianças encontrassem.

    Essa brincadeira eu fiz para meus filhos, sobrinhos e neto, muitos anos depois.
    E eles ficavam absolutamente encantados !

    Talvez por ter nascido e vivido em "cidade grande", sempre encantei-me com essas tradições das aldeias, vilas e cidades pequenas.
    Parece que existia magia em tudo, em cada cerimônia, em cada ato repetido por gerações e gerações, desde tempos imemoriais.

    Esse "voltar ao ninho, ainda que muitas vezes em imaginação", soou-me como uma imagem belamente melancólica, e fiquei lembrando das reuniões familiares, quando os avós não éramos nós, e nossos filhos ainda eram crianças que aguardavam essas datas para brincarem junto com os primos na casa de férias dos meus pais.

    Doces lembranças de Páscoa...

    Beijo e parabéns pelo seu texto.

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  3. Olá Catarina!
    Os meus tios costumavam dar-nos os ovos para pintar e depois escondiam-nos no jardim ou penduram nas árvores. Era uma ideia gira e colorida. Um bonito texto que nos recorda tempos coloridos :)

    Beijos
    Liliana Rito

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  4. Olá, Catarina!

    Páscoa é recolhimento, renúncia, reunião das famílias e o renascer da Esperança em dias melhores.
    A criançada "vai a todas" e esta festa não é excepção, embora já não adira muito a essa coisa do recolhimento e da renúncia, levada a sério noutros tempos. Acresce que os adultos também não...

    Memórias de antigamente
    sempre boas de lembrar.
    Hoje, tudo é diferente
    mas é tão bom recordar!

    O ponto alto do momento
    já sem ovos para pintar
    era ver tudo a contento
    em tal reunião familiar

    Por último, uma ideia minha!
    Ideia brilhante, cá para mim!
    Gostava de ter uma galhinha
    que pintasse os ovos assim!

    Abraço,
    João Celorico

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  5. Queridos Amigos, Obrigada pelos Vossos comentários :) tinha outro sabor a Páscoa da minha infância, talvez ;))

    Abraços*

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  6. Parabéns Catarina!
    Continua a defender assim tão bem a "tua" terra, as tuas origens!

    Beijinhos,
    Manuela

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