Imagem retirada da Internet
Da Arrábida, à Serra do Buçaco e à nobilíssima Serra da Estrela. Destas majestosas serras guardo recordações que ao longo do tempo foram perdendo alguma da sua nitidez, ainda assim permanecem suficientemente vivazes nos recônditos da minha memória, para delas me ser possível extrair assunto capaz de reverter numa singular e curiosa história. Mas faço questão de não ir por aí… Muito ao meu jeito, e para não trair o meu já reconhecido estilo, antes optei por trilhar um outro caminho e mais uma vez empreender uma viagem ao passado para nele rebuscar uma história, que apesar de velha e poeirenta, não deixa mesmo assim, de representar com denodo e excelência o espírito da presente blogagem.
Era eu uma menina ladina, na irrequieta idade dos joelhos esfolados, quando num belo dia, inspirados pela série televisiva “Os Pequenos Vagabundos”, eu e um grupo de amigos, na busca de aventura e descoberta, decidimos subir a extremidade nordeste do planalto de Santo António, mais precisamente da designada "Costa de Mira", que faz parte do PNSAC (Parque Natural das Serras D’Aire e Candeeiros), na mira de explorarmos as três misteriosas cavernas que adornam os píncaros de tal lugar.
Quando na nossa inexperiência deliberamos intentar tal gesta, esta afigurou-se-nos fácil, mas uma vez encetada a empresa, não havíamos ainda calcorreado meio percurso e já as antes tão felizes expectativas eram goradas, pois depressa nos apercebemos de que os nossos erráticos cálculos, a pedir palmatória, nos iriam valer um verdadeiro cabo das tormentas, pois ficou-nos cara a incúria! Quebrantados, constatámos que subir a costa a pique, não era de forma alguma uma tarefa para crianças, afinal, por algum motivo nos passeios pedestres se utilizam os trilhos, mas estes, se os havia em tão inóspito lugar, não chegámos a dar por eles. Por entre toda aquela infinita extensão por desbravar nada mais se avistava que não fossem pedras e oliveiras! Não fôssemos nós uns miúdos habituados à dureza da vida, como por exemplo, palmilhar o caminho para a escola a pé, durante toda a santa semana, à chuva e ao frio, ou debaixo de um céu de trovoadas e relâmpagos, e teríamos com toda a certeza fracassado na intentona, em vez disso, fizemos da fraqueza força, das “tripas coração”, e quando a costa se encrespava demais, agarrávamo-nos com ímpeto aos viçosos fetos, que para nosso regozijo estavam sempre onde eram precisos, e alavancados pelas providenciais plantas silvestres, impelíamos o moído e devastado corpito em direcção ao céu. Uma vez chegados ao alto, à nossa gloriosa meta, o sentimento de triunfo e satisfação mal cabia dentro de nós! Durante uns instantes, que nos pareceu uma eternidade, mergulhámos num profundo silêncio, num profundo e revelador silêncio, pois havíamos em conjunto acabado de constatar de que tudo nos é possível, desde que haja em nós a vontade férrea de vencer.
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Que formidável aventura, Milu !
ResponderEliminarQual era a idade da ladina menina ?
Como eu sonhava em viver essas experiências, mas morando em cidade grande pouco podia fazer...
Ainda assim, já mocinha, inventei uma caminhada, junto com amigos, por um morro próximo da minha casa.
Lindo texto !
Beijo
È sempre bom termos na mente essas recordações de momentos únicos em nossas vidas! Quando criança também me arriscava em aventuras ...
ResponderEliminarAventuras! Aventuras!
ResponderEliminarO tempo que os pais perdem a dizer, não faças isto, não faças aquilo e, depois é o que se vê!
Mas, se não fosse assim, seria uma pasmaceira e hoje ninguém tinha nada para contar. A descoberta dos segredos da Vida é o que nos faz mexer. E, desde tenra idade!
É assim, tudo está bem quando acaba em bem!
Abraço,
João Celorico
Como sempre, temos uma belíssimo texto da Milu. Esta sua aventura na irrequieta idade dos joelhos esfolados, fez-me recordar alguns trilhos que calcorreei numa certa fase da minha vida. Da Serra dos Candeeiros guardo na memória uma semana de exercícios militares com fogo real, de carros blindados e morteiros, no tempo da tropa. Foi ali que aprendi a orientar-me com cartas militares e a determinar o azimute magnético de um alvo usando uma bússola! Outros tempos! Quando viajo para Lisboa, deito sempre à emblemática serra um olhar cúmplice. E penso: será que eu aceitava, hoje, participar noutra gesta?!
ResponderEliminarFlora
ResponderEliminarNa altura desta aventura que foi subir a costa, eu teria 10 a 11 anos. Naquele tempo as crianças passavam grande parte do dia na rua, pois brinquedos nem todos os tinham, televisão também não, mas, em contrapartida, liberdade tínhamos quanta queríamos! É verdade que a minha infância nada tem a ver com a infância das crianças das grandes cidades, mas também não penso que isso faz delas crianças menos ricas em vivências, porque as coisas que não conhecemos, não nos podem fazer falta, penso!
Ainda que eu pudesse ter vivido numa grande cidade, teria sempre histórias para contar, diferentes destas que tenho, é certo, mas o meu espírito e a minha extrema sensibilidade fariam com que eu registasse as minhas vivências de uma forma peculiar, tendo em conta o factor emocional.
Um beijinho.
Olá, Milu!
ResponderEliminarCá estou, de novo e antes que a blogagem se acabe.
Rapazes e umas meninas
fizeram um dia as “pazes”.
Elas eram mais ladinas
e irrequietos os rapazes.
Fizeram tréguas na “guerra”
e, quais pequenos vagabundos,
pensaram subir àquela serra
e “descobrir” novos mundos!
Se bem, no feito, pensaram,
melhor iniciaram a escalada.
Mas, depressa constataram
ser dura a tarefa começada.
Eram grandes as esperanças
postas na empresa encetada
por isso, aquelas crianças,
temeram que saísse gorada.
Terminado o seu feito,
depois de muito arranhão,
a todos, dentro do peito,
lhes saltava o coração.
Pareceu-lhes uma eternidade
mas, depois do muito sofrer,
esperava-os grande verdade!
Lá estava! “Querer é poder”!
Abraço,
João Celorico