quinta-feira, 20 de maio de 2010

CASA DA RODA DE CARIA


A Casa da Roda, em Caria, fica situada num local discreto, junto à Rua do Reduto, foi recuperada e musealizada em 2009 e ali se pode reviver o passado e reflectir sobre o presente. Foi edificada em 1784, data que está gravada na pedra por cima da roda, para dar cumprimento a uma Lei de Pina Manique (reinado de D. Maria I), de 30 de Maio de 1783, que exigia a criação de Casas da Roda em todas as vilas e sedes de concelho. O estado terá tomado esta medida porque o aumento da população era bem visto, para combater o infanticídio, uma prática que era então frequente, e também para reduzir a falta de assistência aos abandonados.

Eram casas destinadas a acolher órfãos, crianças recém-nascidas “não desejadas” ou bastardas, cujos pais não pudessem assumir os seus cuidados. As rodas eram uma instituição municipal já que todo o país estava “controlado” por municípios e eram os municípios que sustentavam as Casas da Roda. As Rodas tinham aberturas para o exterior para que o exposto pudesse respirar. Por vezes a Roda tinha duas “prateleiras”, na parte inferior era depositada a criança e na parte superior o enxoval da criança, quando este existia ou outros objectos, nomeadamente cartas, lenços, medalhas para permitir a sua posterior identificação e recuperação, embora se saiba que isso raramente acontecia. A assistência consistia na recolha e criação do exposto, até aos seus 7 anos, e numa segunda fase na sua integração social pelo trabalho dos 8 anos até à maturidade.

O anonimato era muito importante e cultivado até à exaustão e por isso existia uma sineta que alertava a Rodeira, que estaria presente dia e noite, e que girava a Roda recolhendo a criança. Era depois efectuada, pelo escrivão da câmara, uma matrícula muito pormenorizada, que era inscrita no chamado Livro dos Expostos, guardava-se e registava-se tudo o que as crianças traziam quando eram deixadas na Roda.

Na Casa da Roda ou nas suas casas próprias viviam as amas de leite, que amamentavam as crianças. Mais tarde as crianças ficavam à guarda das chamadas amas-secas para quem trabalhavam ou eram entregues como criados a quem pagasse mais. A partir dos finais dos anos 50, do século XIX, a contestação às Rodas levou à sua extinção.

Escrito por Graça Ribeiro, do blog Passado de Pedra

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3 comentários:

  1. Olá, Graça!
    Tudo o que conta sobre a Casa da Roda é muito interessante, completa a ideia que eu tinha. Tive a oportunidade de visitar Belmonte, o seu castelo e os museus. Gostei bastante. Depois, estive em Caria e vi essa roda.Deu para imaginar tempos passados.

    Jocas gordas
    Lena

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  2. Olá, Graça!
    Cumpre-me acrescentar que grande parte do infanticídio era devido ao resultado das sevícias, da parte dos mais abastados, a que eram obrigados os mais pobres. E apesar da conhecida e maliciosa quadra popular:

    Não há fruta como o medronho,
    nem lenha como o azinho,
    nem filhos como o do padre
    que chamam ao pai, padrinho

    os padrinhos eram também muitos outros. Por exemplo, em Monsanto o feitor da Casa do Visconde da Graciosa, em Idanha-a-Velha, António Pádua Marrocos, grande proprietário e na Zebreira era o Regedor. Sem esquecer o tal Abade de Trancoso!
    Talvez também seja uma explicação para alguns apelidos sonantes em indivíduos de fraco porte…
    Acresce ainda que o índice de aproveitamento dos expostos recolhidos na Roda também não era coisa por aí além. A alimentação era fraca e eles não resistiam. Apesar disso, aliviava as consciências de muitos.
    Os tempos não mudam...
    Abraço,
    João Celorico

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  3. Choca-nos esses relatos, mas atualmente eles continuam existindo, talvez de formas diversas.

    Conheci, aqui no Brasil, um Convento onde existia uma roda desse tipo, mas para que as pessoas pudessem comprar os produtos fabricados pelas freiras, que não podem ter contato com os de fora.

    Parabéns pelo texto, apesar de triste, verdadeiro.

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