segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

AS JANEIRINHAS


Associo a prática de cantar as janeiras ou "janeirinhas", como se dizia na minha aldeia beirã, a um passado longínquo já quase esfumado na memória, uma vez que em Lisboa onde cheguei, ainda menina, no fim dos anos 60, e morei desde então, não se usava a tradição.
No meio rural, longe da civilização, onde os brinquedos eram raros, o entretenimento passava muito pela imaginação e criatividade das crianças.
Motivava-nos bem mais o prazer de competição entre grupos, ou o simples gozo de ver as críticas e reacções negativas de alguns habitantes do que esperança de sermos recompensados com uma côdea de pão ou um biscoito rijo.
Apesar do frio, saíamos de casa, enrolados no grosso cachecol de lã tricotado pela nossa mãe, mãos aconchegadas nas luvas e gorro enfiado na cabeça ficando apenas o nariz de fora, e calcorreávamos as ruas da aldeia nas frias manhãs de Janeiro, no dia 1 de Janeiro e no dia de Reis, cantarolando os tradicionais versos que iam passando de geração em geração:

Ainda agora aqui cheguei
Já pus o pé na escada
Já o meu coração disse
Aqui mora gente honrada

Levante-se lá Senhora
Do seu banco de cortiça
Venha-nos dar as janeiras
Ou morcela, ou chouriça

Pastores, pastores
Venham todos a Belém
Adorar o Deus menino
Que Nossa Senhora tem

Escrito por Pascoalita,

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10 comentários:

  1. Pascoalita
    Nua passei as Janeiras na aldeia que adoptei, mas os meus pais contavam-me o que faziam nos seus tempos de juventude. Segundo me contaram, estes eram dias de festa, pois as pessoas sempre davam alguma coisa e, aquilo que actualmente nós não damos grande importância, para eles era uma autêntica gulodice.
    Eram tempos difíceis que não deixaram saudades, mas os usos e costumes da época eram bem divertidos e as pessoas valorizavam mais as pequenas coisas da vida.
    Beijinhos

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  2. Olá Pascoalita!
    Acreditas que na zona viseense onde moro,tive a sensação de que ainda existe essa competição? Vi vários grupos de jovens percorrerem as ruas,com violas e pautas com canções.E todos tinham entre os 16-25 anos. Foi giro ver pessoas jovens a manter essa tradição.Bom,tá bem,também com a crise,precisam duns tostões e cantam para fazer crescer o mealheiro e pagar as propinas ;)

    Jocas gordas
    Lena

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  3. Olá, amiga Pascoalita!
    Receba a minha "Joaneira"

    Por não ser a casa mui alta
    é que não me mandaram entrar.
    Decerto, eu não faço cá falta
    mas vou minha Joaneira deixar!

    Em certa aldeia, beirã,
    já a criançada ansiava,
    e em Janeiro, fria manhã,
    as Janeiras cantarolava!

    Podia não ser muito o ganho.
    Biscoito ou só côdea de pão
    mas, já como os de antanho,
    mantinham eles a tradição!

    Abraço,
    João Celorico

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  4. Olá Pascoalita!
    Recordo bem e com grande saudade o tempo em que eu ainda menio percorria as ruas da minha aldeia, em grupo com outras crianças, de sacola na mão íamos batendo de porta em porta,e imitindo sempre a mesma frase òh sr! dê-nos as janeiras se faz favor. Era um pouco assim e lá ia caindo qualquer coisa dentro da sacola. E com um rápido obrigado afastávamo-nos correndo para a próxima porta , repetindo a sena. Porque pedir as janeiras cantadas, isso já era coisa para adultos. Era um dia de festa para crianças e adultos cada um á sua maneira. São tradições que se vão perdendo, culpa da desertificação que se faz sentir nas nossas aldeias.
    Gostei muito do seu texto.
    Lindo contexto entre a prosa e a poesia
    Beijo
    Acacio

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  5. Ora devemos ter as mesmas origens pois temos as mesmas quadras, boa sorte amiga.
    Bj
    Manuela

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  6. Olá, M. Lourdes!

    Já fui dar um giro rápido pelo seu Blogue e gostei do que descobri. Pena que o tempo seja demasiado curto.

    Há muito para descobrir neste nosso lindo Portugal.

    jinhos

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Olá, Lena!

    Pois é muito animador descobrirmos que afinal certas tradições não se perderam. E quando estamos longe de casa e nos cruzamos com algo que nos é familiar, é sempre muito emocionante.

    jinhos

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  9. João Celorico,

    Sempre bem disposto e bem humorado eheheh
    Eram uns figuitos secos, umas castanhas piladas, porque na época até o pão duro escaseava ahahah

    Adorei os versos eheheh

    jinhos

    jinhos

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  10. Acácio,

    Não me lembro de usar sacola, mas o som dos tamancos a bater na calçada de granito, esse ainda está bem vivo na minha memória eheheh

    As crianças contentavam-se com pouco! Só o facto de não irem à escola e poderem desfrutar de tempo para dar largas à imaginação, por si só já era uma festa!

    Não recordo o que recebíamos, mas outros pormenores ficaram gravados na memória.

    jinhos

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