- Cantar as Janeiras? O que é isso?
Assim reagiram os meus alunos quando lhes perguntei se iam cantar as Janeiras. Aqui, no Minho Litoral, as tradições já não são o que eram. Se queremos reviver sensações de tempos que já lá vão, temos de nos meter a caminho e procurar uma aldeia ou vila do interior de Portugal. Por aqui adopta-se tudo o que vem de fora, tudo o que se passa na cidade grande. As tradições das gerações passadas são ignoradas e desprezadas. “Fixe” mesmo, é festejar o Halloween!
- Vamos almoçar um arroz “pica no chão”?
- O quê? Frango caseiro com sangue? Isso nem pensar! Vamos comer uma pizza.
- Vai um cálice de Vinho do Porto?
- Vinho do Porto? Não há whisky ou vodka para fazer um shot?
Eu sei que os meus progenitores também se lamentavam pelas opções que eu e os meus irmãos íamos fazendo. Eu sei disso, e tento lembrar-me disso, quando me transponho para a geração de agora e esta sensação de perda de identidade se abate sobre mim. Porém, penso que a dimensão do afastamento é bem mais alargada.
Por mais que lhes fale da alegria, da festa associada às Janeiras, a mensagem não passa!
Eles não se organizam. Não saltam para a rua.
Que não sabem cantar. Que têm vergonha. Que não tem jeito nenhum, isso de juntar um grupo de amigos e ir cantar para a porta de vizinhos e conhecidos. Assim argumentam!
- Bacalhau cozido?
- Um copo de vinho?
- Uma fatia de bolo-rei?
- Oh professora, pelo amor de Deus. Eu vou ao Mc comer um hambúrguer, beber uma cola e rematar com um Sundae!
- Cantar as Janeiras?
- Está bem, está bem! Só se for de manhãzinha quando regressar da Disco!!!!!!!!!!!!!!!!
Escrito por CarpedieMaria
Se gostou deste texto, vote nele de 28 a 31 de Janeiro. Aproveite e comente. Quem sabe, é seleccionado para Melhor Comentário!
Olá Maria!
ResponderEliminarAdorei esse texto.Mal o li,visionei a sala de aulas e o diálogo.Parece que tinha sido catapultada para uma escola vianense...Ai esses alunos.Mas é bem verdade o que descreve aí.
Mas ainda há alguns jovens em Viseu que as cantam :) Em Viana,é mais acórdeão e concertina...lol
Jocas gordas
Lena
Bomdia!
ResponderEliminarOra,muito bem visto essas Janeiras no Minho Litoral.
Bom,mas ainda há jovens hoje em dia que se interessam pelas tradições,experimentam-nas e até ajudam a mantê-las.Alguns até lhes dão um toque de inovação.E não deixam por isso a rotina de diversão deles,só acrescentam.
Mas é verdade que há outros que são assim shot-vodka-disco e pouco mais de cultura no cerébro.Ai ai..não vamos mal,vamos todos mas é comer um hamburguer.Mas ali ao tasco do Sr. Zé que esses são caseiros,feitos na chapa!
Bom fim-de-semana
Um Abraço
João Pedro Lima
É lamentável observar o caminho que a humanidade está trilhando...
ResponderEliminarHistória, tradição, folclore, ética, moral, "indo para o brejo", como se diz aqui na minha terra.
Mas sou otimista e acredito que nem tudo está perdido. Muitos movimentos tem sido feitos para a preservação das tradições e ainda existem jovens interessados em conhecer e manter a história do seu lugar.
Parabéns pela postagem tão verdadeira.
Olá Maria!
ResponderEliminarFartei-me de rir com o teu texto! Acaba por reflectir a verdadeira realidade que se vive hoje. Por mais desanimador que seja, vale a pena tentar passar as tradições a esta malta nova.
bjs Susana
Não quero ser mais um pessimista. Enquanto for havendo memória, a coisa vai andando. Tenhamos esperança no futuro que sempre nos disseram e dizem ser risonho. A luz ao fundo do túnel ninguém a enxerga, mas vamos acreditar!!!
ResponderEliminarAqui vai a minha "Joaneira", alusiva ao facto!
A professora, diligente
bem os chamava à razão.
Era necessário, urgente,
manter-se tal tradição!
Renitente, a cachopada,
encurtava-se de razões.
Não estava para aí virada
e colocava ela as questões!
“S’tôra”, a Janeira como é?
É isso alguma “cena” fixe?
Se ela não for fixe “bué”,
essa tradição, que se lixe!
Janeiras são uma “seca”!
Vamos é direitos ao bar!
É só beber uma “bojeca”
e pôr o capacete a abanar!
E é esta assim a história.
É o sentimento dos “manos”!
Eu, duvido que haja memória
daqui por alguns anos!
Mas, isto sou só eu a pensar.
Não acreditem, pois, em mim!
Vamos, mas é, todos acreditar
que, um dia, isto terá um fim!
João Celorico
Maria
ResponderEliminarSó hoje, ao dar uma volta pelas crónicas antes de proceder à votação, é que me apercebi que não tinha comentado o seu texto. No entanto, ainda vou a tempo.
Achei-o muito interessante, pois nele descreve uma realidade actual, no que diz respeito aos nossos jóvens.
É pena o que está a acontecer e penso que um pouco da culpa é nossa (os pais) que, se calhar, não lhes soubémos transmitir as tradições de forma a que eles as saibam valorizar.
Gostei muito.
Beijinhos