segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Rituais de Inverno
Um pouco por todo o nordeste transmontano, o reino maravilhoso de Miguel Torga, sobrevivem ainda algumas tradições seculares. As festas dos rapazes protagonizadas pelos caretos ou mascarados são uma tradição secular, transmitida de geração em geração e que envolve toda a população da aldeia.
Gozando da impunidade e da desordem, os mascarados encarnando a morte e o diabo assumem um papel de críticos, apontando e representando os actos mais reprováveis de alguns dos familiares e membros da comunidade, os quais devem assistir à representação de modo a que esses mesmos actos não voltem a ser praticados. Os caretos impõem a sua autoridade, por vezes, recorrendo à força e fazendo toda a espécie de brincadeiras.
Impõem aos outros o respeito e a ordem, fugindo eles mesmos às normas sociais e toando a liberdade própria de quem está acima de tudo e de todos.
Um dos símbolos dos rituais de inverno são as máscaras, que normalmente adquirem um aspecto diabólico. E que eu, enquanto artesão, insisto em produzir em vários tipos de madeira, para serem usadas no modo tradicional ou mesmo para decoração. A máscara possibilita a violação de fronteiras naturais, a superação de entidades, as transformações e metamorfoses mais profundas. As festas têm lugar entre os dias 25 e 28 de Dezembro e em algumas localidades na altura do Carnaval.
Nesta região as máscaras continuam a ser feitas por curiosos locais, que elaboram para seu uso ou para satisfazer pedidos de pessoas amigas; ou por indivíduos que se especializaram neste tipo de artesanato.
Ao longo dos tempos notasse que a tradição vai perdendo pormenores, no que se refere à confecção dos trajes, mas não perde o conteúdo principal dos seus ritos. Mesmo com as evoluções que o homem tem realizado ao longo dos tempos, esta é uma das poucas tradições que se mantém viva, resistindo a todos os contratempos da história da humanidade.
Escrito por Amável Alves Antão, do blogue Arte e Artesanato nas Máscaras de Amaro Antão
Bragança
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Caro Amável:
ResponderEliminarFantástica essa tradição! Já tinha ouvido falar, mas associava-a mais ao carnaval, por causa do uso das máscaras.
A nossa sociedade, é cheia de regras de conduta, e quando alguém pisa o risco...a boa solução é mesmo expôr perante todos...a vergoha deve se tanta, que será o melhor remédio, para nõ se repetir...
Já agora, dou-lhe os parabéns por contribuir que se mantenha essa tradição, fazendo essas máscaras de tradição secular. Convém também passar esses conhecimentos e o gosto para os mais novos, para que essa tradição não se perca!
Obrigada por aceitar o meu convite para participar aqui na Aldeia da Minha Vida. Esteja à vontade para apreciar os textos de todos os participantes,comentando e votando.
Abraço, Susana Falhas
Está demonstrado que o Amável Antão é um homem que não deixa escapar as boas oportunidades. Fez bem em concorrer, deixando aqui um texto muito completo sobre a tradição dos caretos. O que também nos surpreende é que o amigo Amável seja o próprio escultor dessas fantásticas mascarilhas. Você é um concorrente muito forte.
ResponderEliminarUm abraço.
José Pinto
Que um comentário lhe deixe
ResponderEliminarfoi a tarefa pedida,
por isso, amigo, não se queixe
se não for à sua medida!
Voltas e voltas à cabeça
e melhor coisa não me sai.
Mesmo que, amigo, não mo peça,
o meu comentário, ele cá vai!
Até à força recorrendo,
os caretos brincalhões,
é assim que vão vivendo,
tudo, tudo, aos encontrões!
A ordem e o respeito,
impostas por quem o não tem,
não me parece bem feito
e não fica nada bem!
Parece-me um pouco mal,
apesar de ser no Entrudo,
porque bem visto, afinal,
isto, não pode valer tudo!
É, pois, naquela mascarada
que se divertem os rapazes.
Fazem-no de cara tapada,
às claras não são capazes!
E, é assim que a tradição
lá se vai mantendo viva,
para bem duma profissão,
e ela se mantenha activa!
João Celorico
Este foi o primeiro texto que li e desde logo achei muito interessante.
ResponderEliminarObrigada Amável Alves por nos dar a conhecer tradições tão antigas que me lembram os pregões carnavalescos da minha aldeia, em que havia (não sei se ainda se pratica) o hábito de por a nu todos os "erros" que os habitantes cometiam ao longo do ano, críticas nem sempre bem aceites pelos visados.
Gostei muito de ler este texto.