segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Festa Litúrgica em Arrentela


Que raio de nome para porem a uma povoação, dirão aqueles que não estão familiarizados com o seu nome.É verdade, concordo! Também não gosto do nome nem tenho nenhuma simpatia especial com a povoação.

Todavia, não posso perder a oportunidade de confessar que já li nomes muitíssimos pires e que aquela tem encantos muito especiais.
Em 1384 já Arrentela era referida por Fernão Lopes, na crónica de D. João I e o seu aforamento do esteiro de Arrentela a Nuno Alvares Pereira, foi em 1403, que o doou conjuntamente com outras terras, ao Convento do Carmo, um ano depois.
Situa-se na margem sul do estuário do rio Tejo, em local alto e debruçado sobre o esteiro do Judeu, rio que secou segundo parece. Toda a região da margem sul do estuário do Tejo, integra a grande mancha terciária denominada Península de Setúbal.

O estuário do Tejo sofre as influencias das marés do Oceano Atlântico e consequentemente as suas margens sobem e descem duas vezes em cada dia, ocasionando um espectáculo lindíssimo, dado a configuração das ditas, banhando as povoações do Seixal, Cavaquinhas, Arrentela, Torre da Marinha e Amora, esta última agora já Cidade na outra margem. A Baia, é circundado por estrada em toda a sua extensão, com zonas pedonais e iluminação.

A padroeira da terra é Nossa Senhora da Conceição e a sua igreja localizada num dos pontos altos da povoação, têm vistas deslumbrantes para, Amora. Seixal, Moinhos de Maré e finalmente Lisboa. Todavia a sua festa “Maior” é em honra de Nossa Senhora da Soledade, que, segundo as crónicas da época, aquando o terramoto de 1755, as águas do Tejo subiram ocasionando uma das maiores catástrofes naturais no nosso País, tendo povo o crente e não crente acorrido, à Igreja transportando a imagem da Santa, fazendo descer águas.
Em Torre da Marinha, localidade desta freguesia, esteve instalado a primeira fábrica do país, de tratamentos de lãs, que confeccionava as fazendas para apetrechar de fardamento todo o exercito português, das suas fardas. Deixando mais tarde de o fazer, por razões que se prenderam com problemas de falcatruas, danosas para o estado, assunto que foi noticiado e afixado em todos os quarteis.
Em 1872, um grupo de operários da Companhia de Lanifícios de Arrentela, fundou a Sociedade Filarmónica Fabril Arrentelense e pouco anos depois foi criada a Sociedade Filarmónica Honra e Glória Arrentelense. Desentendimentos motivados pela partilha de ambas as bandas do uso do coreto, levou a confronto entre os 2 grupos devidamente fardados se envolvessem numa desordem colossal, acabando muitas cabeças rachadas, fruto dos trombones usados como armas bélicas potentes. A rixa, acabou horas mais tarde, com a presença da Guarda Real. O Coreto aludido já não existe.
No dia 1 de Novembro de cada ano, realiza-se a procissão em honra da Senhora da Soledade, tal como aludi acima, muito concorrida e com a presença de inúmeros fieis que acorrem de todas as povoações vizinhas.
As festas iniciam-se uns dias antes e tem o seu explendor com a realização de missa e Ladinha (já por mim referenciada no conto de 29 de Junho 09 – Pecados Meus) na véspera à noite , culminando com a procissão do dia 1.
O município do Seixal, sede do Concelho, e que dista apenas 2km de Arrentela, dispõe de antigas fragatas do Tejo, à vela, devidamente restauradas, que proporcionam um passeio muito agradável na Baia e no Tejo, bastando para o efeito efectuar a inscrição no seu departamento de turismo.
Escrito por Zé do Cão, do Blogue Zé do Cão
Festa em Arrentela, Seixal, Lisboa
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4 comentários:

  1. ZÉ:

    Também nunca tinha ouvido falar dessa terra, mas pelo que contas, já teve alguns episódios menos bons por essas bandas... O mais curioso é a origem da festa da Soledade, que terá nascido depois de uma tragédia da natureza.

    Fiquei curiosa por conhecer essas antigas fragatas do Tejo. Será que ainda dão para navegar, ou apenas estão em exposição?

    Obrigada pela participação aqui na Aldeia.
    Não te esqueças de postar, também no teu blogue e convidar os teus amigos para votarem sem si!

    Bjs Susana

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  2. Quando era menina cheguei a ir a estas festas com um tio que trabalhava na Arrentela. Não fica longe do Barreiro, onde nasci e vivo.
    Um abraço e boa sorte.

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  3. Que um comentário lhe deixe
    foi a tarefa pedida,
    por isso, amigo, não se queixe
    se não for à sua medida!

    Voltas e voltas à cabeça
    e melhor coisa não me sai.
    Mesmo que, amigo, não mo peça,
    o meu comentário, ele cá vai!



    Até o nome desta terra
    causa grande confusão
    mas isso não emperra
    a escrita ao Zé do Cão!

    Fala do Beato de Santa Maria
    e o tom já sobe um bocado
    pois não vai longe o dia
    em que Nuno foi canonizado!

    E que tal, aquelas bandas?
    Meus senhores, vejam só!
    Puseram tudo em bolandas,
    depois, tocaram sem “Dó”!

    E foi assim, desta maneira,
    que se acabou. Tudo em bem!
    Acabou-se a brincadeira!
    Não há coreto p’ra ninguém!

    E as fragatas do Tejo,
    quando o tempo amaina,
    ainda hoje eu as vejo,
    mas não na sua faina!

    Hoje, são só para passear
    nas doces e calmas águas.
    Não são para transportar
    fragateiros e suas mágoas!

    Bom texto, sim senhor,
    este sobre a Arrentela
    e a minha rima seria melhor
    se feita ao Zé da Cadela!

    João Celorico

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  4. Olá Zé
    actualmente não sou apreciadora destes festejos e romarias, mas já fui, quando era criança, um pouco, também, porque não tinha mais por onde escolher. Mas guardo algumas memórias: Das festas de Natal na localidade onde fui criada. A igreja era engalanada por lindas iluminações eléctricas assim como as ruas circundantes. Haviam barracas que se dedicavam ao comércio dos mais variados artigos, incluindo brinquedos. Em dada altura vi uma boneca pendurada algures no toldo que cobria um dos estaminés. Era uma boneca inteiramente de plástico, até a parte que fazia de cabelo. Estava nua, dentro de um saco de plástico. Assim que a vi logo me perdi de amores por ela e imaginei-me a fazer-lhe amorosos vestidinhos e outras roupinhas, coisa para a qual até tinha algum jeitinho, devido a ter observado imensas vezes duas minhas vizinhas, que eram costureiras. Andei uma tarde inteira a chorar atrás do meu pai, implorando-lhe que me desse a boneca, porém o meu pai mantinha-se imperturbável, parecia até que nem me ouvia. Mas eu, nem por nada me dispunha a desistir dos meus intentos. Chamei-lhe paizinho vezes sem conta, na esperança que o inho o amolecesse, socorri-me de argumentos tais como promessas de fazer os trabalhos de casa sem protestos,e ajudar a mãe na lida da casa. Em dada altura suspeitei que o meu pai jamais me daria a boneca, mas não deixei nunca de lhe infernizar a tarde, agora havia-se tornado uma questão de honra. O orgulho a fazer das suas. Chorei desalmadamente e clamei. De repente, o meu pai virou-se para trás, olhando-me de uma forma que me pareceu divertida deu-me os 17 escudos e 50 centavos e disse-me: - " Toma lá grande raio e vai buscar o estupor da boneca". As lágrimas secaram-se-me como que por encanto, nem vestígios delas ficaram, foi isto que ouvi o meu pai contar à minha mãe. Nunca soube se o convenci com algum argumento porventura mais forte, ou se o terei vencido pelo cansaço. Fosse como fosse. Aquela boneca foi durante uns tempos a minha companheira inseparável.
    Tive de me rir com a cena de pancadaria à trombonada!E também acho que há localidades com nomes bem despropositados! Alguns devem de ser bem embaraçosos de pronunciar!
    Um beijinho.

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