Sobral Gordo
(Imagem do site do Grupo Etnográfico Raízes de Sobral Gordo em http://sites.google.com/site/raizesdosobralgordo/)
O meu pai é natural duma pequenina povoação chamada Sobral Gordo, pertencente à freguesia de Pomares e ao concelho de Arganil.
Quando o meu pai nasceu, a vida na aldeia era dura. Vivia-se da agricultura em terrenos ganhos às vertentes íngremes da serra do Açor com a construção de socalcos. Transportavam os bens à cabeça ou às costas. Só os mais abastados possuíam uma mula ou um macho para servir de transporte A criação de gado complementava a alimentação e fornecia o estrume para as terras. Muito trabalho era comunitário e em tempo de dificuldade, ajudavam-se uns aos outros.
A aldeia não tinha estrada e, para onde quer que se deslocassem, tinham que o fazer a pé. Não havia saneamento nem electricidade e a água era transportada em cântaros da fonte para casa.
A roupa era lavada na ribeira e a higiene era feita em grandes alguidares com água aquecida em panelas de ferro na lareira. Não havia escola, e uma grande parte da população era analfabeta. Só alguns aprendiam a ler e a escrever, muitas vezes ao serão, com alguém que o soubesse fazer e se dispusesse a ensinar.
Desta forma, muitos dos habitantes da aldeia sentiram-se motivados para partir e uma grande maioria rumou para a região de Lisboa, em busca de trabalho. Alguns tiveram tanto sucesso nos seus empregos que conseguiram o seu próprio negócio.
Durante a primeira metade do século passado, gerou-se em Lisboa um movimento associativo dos naturais das aldeias beirãs, tão abandonadas pelo Poder Central, cujo objectivo era melhorar as condições de vida nas suas povoações. Nasceram Ligas, Uniões, Comissões e Associações de Melhoramentos, que com a sua contribuição, organização de festas e movimentação nos Ministérios em Lisboa, conseguiram iniciar uma nova era. Romperam-se estradas, electrificaram-se as povoações, distribui-se água ao domicílio, construíram-se redes de saneamento, escolas, casas de convívio, ringues desportivos....
A terra do meu pai não foi excepção e hoje possui as infraestruturas básicas das zonas urbanas, com a vantagem de poderem usufruir duma vida pura e saudável.
No entanto a maior parte dos naturais da aldeia acabou por criar raízes também na região metropolitana de Lisboa, mas todas as férias e tempos livres são dedicados à sua aldeia. Para manter mais vivas as tradições criaram um grupo etnográfico e tentam manter na memória os usos e costumes da aldeia que os viu nascer, organizando vários eventos ao longo do ano.
Com a memória do passado podemos, no presente, construir um futuro melhor...
Escrito por Lourdes Martinho, do blog O Açor
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Olá Lourdes
ResponderEliminarTemos a percepção de ver um filme. É uma descrição extraordinária do modo de vida da sua aldeia, no tempo do seu pai. Tudo ao pormenor, com simplicidade e rigor, mas sempre em crescendo. As últimas imagens mostram uma povoação estruturada com muitas valências, mercê do trabalho dum movimento associativo de gente com garra! Impecável!
Um beijo
Quando percebo esses movimentos em prol da cultura, das tradições, do resgate da História, vejo que a Humanidade ainda tem jeito.
ResponderEliminarMas é preciso que se vá longe para valorizar o que está perto.
Assim caminha a humanidade, errando e aprendendo, sempre a procura do ideal.
Parabéns pelo belo trabalho comunitário !
Beijo
Olá Lourdes!
ResponderEliminaré com realidade e conhecimento que descreve a aldeia que serviu de berço ao seu pai. Não esquecendo os difíceis tempos antigos vividos nestas aldeias do interior. Por outro lado prova a força e a vontade desta gente em vencer e melhorar o seu meio de vida. Conseguido muitas vezes através de muito trabalho e persistência, mas isso eram factores que esta gente não desprezava, e com grande arrojo e teimosia e venceram grandes obstáculos para a alcançar um melhor vivência do seu dia a dia
Beijo
Acácio
Todas as aldeias da Serra do Açor são lindíssimas e o expoente máximo(a minha opinião)é o Piodão.
ResponderEliminarToda a descrição está perfeita e o texto lê-se com muito agardo.
Parabéns
Resgatar as tradições, memórias, culturas da Aldeia onde seu pai nasceu é gratificante.
ResponderEliminarParabéns pela beleza de texto, imagens belissímas.
beijooo.
Querida Lourdes,
ResponderEliminarParabéns minha amiga pelo belíssimo texto.
Não conheço ainda o Piodão, fiquei com muita vontade de visitar.
Beijinhos.
Voltarei para dar o meu apoio.
Ná
Olá, Lourdes!
ResponderEliminarComo tenho andado arredio da Aldeia e chego com a Primavera, no Dia Mundial da Poesia, deixo, mesmo aqui, a minha contribuição!
No Dia Mundial da Poesia,
que anualmente se renova,
muito mal me pareceria
não deixar a minha trova.
Não é do vento que passa
a bem dizer, na verdade,
esse calava a desgraça
e esta só traz amizade.
Estes versos que eu faço,
feitos de alma bem cheia,
levam assim o meu abraço
à população desta Aldeia.
E se da cabeça não me sai
uma coisa menos confusa,
foi porque no dia do Pai
gastei toda a minha musa.
Quero pois acabar em bem
todo este meu arrozoado.
Aquele que dá o que tem,
a mais não é obrigado!
Quanto ao seu texto, só tenho a dizer que aqui está mais uma aldeia daquelas que não tinha nada e precisava de tudo, apesar do muito trabalho, e que hoje tem quase tudo mas quase não precisa de nada e os seus filhos e descendentes tudo fazem para a não deixarem morrer. Bem hajam!
Abraço,
João Celorico
Olá Lourdes!
ResponderEliminarMais um maravilhoso local da região da Serra do Açor.É oficial:tenho um roteiro com 3 localidades: Carvalhal do Sapo,Sobral e Cortecega.E claro,não poderá faltar Piódão :) Quando for lá,aviso a Lourdes e os outros bloguistas que pertencem a essa bela zona,para nos juntarmos todos :)
Jocas gordas
Lena