(Casa da Mãe-Velha - 1953)
Meu pai nasceu no Enxertado, uma aldeia pequenina e tão remota que para chegar nela só em lombo de burro! Passou sua infância entre o Enxertado e Felgueiras, onde também morou. No Inverno a água congelava, e ficava impossível ir à escola com o caminho tão coberto de neve. Mas o rio que por lá passava tinha águas tão cristalinas que dava para se enxergar o fundo! ...E a linda Serra da Estrela ficava perto.
Na foto, a casa da Mãe-Velha, em 1953. Essas e outras histórias, fui ouvindo de meu pai que, homem sensível e saudoso, gostava de relembrar sua infância em terras portuguesas. Quando meu pai tinha 11 anos, meu avô veio com a família tentar a sorte no Brasil. Aos 25 anos meu pai voltou, à passeio, a sua terra e lá encontrou as mesmas emoções que o acompanharam por toda a sua vida. A casa de sua avó – carinhosamente chamada de Mãe Velha - de pedra como tantas outras existentes nas aldeias de Portugal, lá estava, tão pequenina que agora precisava abaixar-se para passar pela porta. Mas ela não era enorme? E a árvore que ele avistava, pertinho da janela do quarto em que dormia, e onde os passarinhos vinham cantar para alegrá-lo? E as frutas maravilhosas, colhidas no pé, saborosas e doces como não existiam em nenhum outro lugar?
Nessa ocasião, já adulto, meu pai pode reconhecer as belezas de sua terra natal, recordando os dias difíceis, porém felizes, vividos naquele cantinho das montanhas. Em 1968, já com 66 anos, meu pai visitou pela última vez sua aldeia, levando minha mãe para conhecer aquele lugar encantado que ele guardava no coração. Agora já não era preciso subir no lombo do burro, pois existiam estradas e carros para chegar até lá!
Nunca visitei a terra do meu pai, mas suas palavras ficaram eternamente marcadas em minha memória. Sinto um carinho imenso por esse lugar que não conheço pessoalmente, mas que também faz parte da minha vida. Meu pai, como consta em seus documentos: António Guedes de Mello, natural de Eirado do Enxertado, Freguesia de Resende, Concelho de Resende, Distrito de Viseu.
É com prazer que participo, pela primeira vez, da Blogagem Coletiva do Aldeia da Minha Vida!
Escrito por Flora Maria, do blog Flora da Serra – Raízes da Mantiqueira
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Olá!
ResponderEliminarA Flora tem raízes do Distrito de Viseu.Que giro :) Vai ver que há mais senhoras da zona nesta blogagem. Bonita a história da Mãe-Velha :)
Jocas gordas
Lena
Olá Flora
ResponderEliminarÉ muito bonito transmitir aquilo que conhece da aldeia de seu pai apenas pelos relatos que ele lhe fez. É bem demonstrativo do amor e saudade que lhe deixou.
Beijinhos
Lourdes
Bom dia,Flora!
ResponderEliminarAi sim,tem de vir conhecer Portugal e o maravilhoso cantinho do seu pai.Viseu é uma cidade fabuloso com recantos lindos.Mas se vier,também terá de passar por Aveiro :)
Beijos
Liliana Rito
Pois saiba, Liliana, que Aveiro é a terra da minha mãe !
ResponderEliminarBeijo
Olá!
ResponderEliminarQue giro.Se não conhece a terra da sua mãe,tem de conhecer.É maravilhosa!
Beijos
Liliana Rito
Minha sensível e amorosa Flora.
ResponderEliminarLer o que escreveu sobre o seu pai, me conduz à figura daquele homem tão rico em idéias e ideais, cujo privilégio de tê-lo conhecido enriquece a minha vida.
Quando ele contava histórias da sua aldeia, era impossível não viajar no tempo e atravessar o oceano, até às distantes terras lusitanas.
Quando li o seu texto, mergulhei no passado e retirei de lá imagens adormecidas da casa de pedra e da Mãe-Velha.
A voz do seu pai, de repente, pareceu-me ainda tão próxima, cheia do habitual entusiasmo,com que contava suas desventuras, quando lá voltou sozinho com mais de 60 anos. "Oh, senhor Antônio, precisas disto,desejas aquilo...", assim ele reproduzia a fala com sotaque do garçon da Pensão Anacleto, onde ficou hospedado.
Falava com um sentimento de admiração pela maneira atenciosa e cerimoniosa com que foi tratado, naquela hospedaria onde passou um frio que congelou a todos nós que o ouvíamos atentos.
O seu pai, Flora, não era só um contador de histórias, era um nostálgico viajante do tempo, que se realizava voltando àquela aldeia dos seus tempos de criança e transportando-a para junto dos que acompanhavam suas narrativas.
Poucos homens conheci tão sensíveis e tão amáveis. Com muitos poucos convivi que fossem tão generosos e puros.
Dele herdei, sem dúvida, o que ele tinha de mais precioso nesta vida, a filha.
Meus parabéns, lindo o seu texto.
Beijos.
Gilberto.
Olá, Flora!
ResponderEliminarChama-se a isto o regresso às origens, coisa que apesar de todas as modificações que se vão operando, não deixam de trazer lembranças e são um lenitivo para o resto da caminhada nesta vida.
Abraço,
João Celorico
Flora,
ResponderEliminarO meu pai diz, que a única coisa que realmente deixamos neste mundo se chama SAUDADE!
Lendo o seu texto tão vivo, sentí saudade de uma terra que nunca ví, de uma casa que nunca entrei, de sons de pássaros que nunca ouví, de frutas que nunca experimentei, de uma vovó que nunca beijei e sofrí a saudade de um tempo que não foi meu!
Seu lindo texto, plantou a semente da saudade alheia em meu coração!
Obrigada.
Kátia Giesen
Flora,
ResponderEliminarJá tive a satisfação de ler esse texto quando você publicou no blog e repito aqui parte do meu comentário.
A história da vida de uma pessoa tem muita importância. São as raízes, que guardam tantas memórias felizes ou nem tanto.
Acompanhei seu relato como quem viaja até a aldeia. Que bucólico!
Parabéns pelo texto excelente e por nos permitir viver essa emoção.
Bjs.
Flora
ResponderEliminarDe todas as coisas,textos,poesias,mensagens que leio na internet,os que mais me chamam atenção são de descendentes de portugueses.São pessoas que falam com o coração,do amor ao próximo,do amor à família,do apêgo pelo país,enfim de tudo ao que se refere ao sentimentalismo.
Vc é uma descendente de portuguêses e eu sou neta.
Pessoas com um sentimento tão puro...seu texto me fez lembrar a aldeia que um dia ao visitar Portugal,minha irmã mais velha nos disse:casinhas simples ,feitas de tijolos iguais aos da foto que vc se referiu.
Imagino a alegria do seu pai ao retornar ao país de sua origem,depois de tanto tempo,emoções vividas tão intensamente..fico imaginando a alegria dele,amiga Flora.
Parabéns por descrever com tanta emoção essa passagem da vida do seu pai,que muito me emocionou...
Bijos carinhosos...
Sonia Novaes
Assim é a minha família: cheia de histórias, doces lembranças e experiências compartilhadas. Cresci sentindo muito orgulho da família em que nasci e ouvia, muito atenta, as histórias do meu avô, sobre uma aldeia distante em Portugal, seu trajeto para a escola, enfrentando a neve, sua vinda para o Brasil e tantas coisas que me pareciam mágicas. Hoje, meu avô não está mais entre nós, mas suas histórias permanecem comigo. E quando vi esta postagem de minha mãe, fiquei muito feliz. Minha mãe está registrando de uma forma muito bonita a história da nossa família.
ResponderEliminarContinue sempre, mãe!:-)
beijos
Aloha, Flora!
ResponderEliminarTeu texto me deixou a impressão que a terra do meu pai, assim como a do teu pai, tornou-se a nossa terra, em nosso corpo, que carrega as lembranças de um lugar e de lugares por onde àqueles que vieram antes de nós passaram, mesmo quando nunca visitados por nós em espaço de viagem, mas apenas em ancestralidade corpórea. Todos nós somos a terra de nossos pais! Essa percepção foi maravilhosa!
Te amo, sou grato!
F.A.
Oi, Lena:
ResponderEliminarBem que eu queria encontrar por aqui alguém da terra do meu pai ou da minha mãe !
Beijos
Oi, M. Lourdes:
ResponderEliminarMeu pai foi uma pessoa especial mesmo. Quieto, tímido, sensível, mas que deixou sua marca nessa vida. Seu amor pela natureza e pela história, ele passou para os filhos na forma dos relatos que fazia.
Obrigada pelo comentário.
Beijo
Meu querido Gilberto:
ResponderEliminarNem preciso dizer o quanto me emocionou seu comentário !
E muito feliz eu fico por ter seu testemunho de tudo que contei sobre meu pai e sua aldeia, pois você também ouviu as mesmas palavras que eu, nas nossas conversas ao redor da mesa.
Muito obrigada por seu carinho e paciência, seu amor e incentivo.
Beijo
Oi, João:
ResponderEliminarEsse regresso às origens é que nos impulsiona para o futuro, norteando nosso caminho com os exemplos do passado.
Obrigada pelo comentário.
Que beleza esse seu comentário, Kátia, tão cheio de emoção e sensibilidade.
ResponderEliminarEntendo o que sente, pois também me sinto assim, envolvida por saudade de um tempo em que não vivi.
E isso é muito bom.
Obrigada, querida amiga, por essas palavras tão lindas.
Oi, Gina:
ResponderEliminarFico muito feliz por poder mostrar para as pessoas o viver de um tempo tão antigo, tempo que também não vivi, mas que conheci pelas palavras dos antepassados.
Agradeço, de coração, seu comentário tão gentil.
Minha querida Sonia:
ResponderEliminarAcho que é isso mesmo: o povo português traz a alma nas palavras, a saudade no coração.
Suas raízes familiares vão se estendendo, atravessando oceanos, penetrando continentes e criando laços indissolúveis através dos tempos.
Tenho muito orgulho de minha origem, de minha família simples e contadora de histórias.
E essas histórias vão passando de geração em geração
preservando o precioso patrimônio familiar.
Muito feliz e emocionada fiquei com suas palavras, e só posso dizer: MUITO OBRIGADA !
Não existe presente melhor nessa vida do que ouvir os filhos repetirem contos e cantos ouvidos dos pais e dos avós !
ResponderEliminarÉ a certeza da perpetuação de idéias, ideais, sonhos e esperanças.
Aquele gosto pelo belo, o jeitinho para o artesanato, o fascínio pelos mistérios, a inquietação produtiva...
Já ganhei meu presente de Páscoa com a sua visita e o seu comentário por aqui !!!
Lindo, Fernando, muito lindo seu olhar sobre o tema.
ResponderEliminarE se todos nós viemos do mesmo fragmento de luz, caminhamos os mesmos caminhos, dividimos o mesmo espaço, em tempos diferentes porém.
Adorei sua visita e comentário, querido genro !
olá, tambem sou natural dessa aldeia, neste momento estou a viver em aveiro, mas visito muitas veses essa aldeia, acredite que e espetacular. um dia se possivel se a visitar vais achar muito bonito
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