segunda-feira, 12 de julho de 2010

"Uma barrigada de fruta"


Uma peça de fruta!

Comi uma peça de fruta. É assim que se diz, hoje! Porque fica bem! Porque só comemos fruta de vez em quando! Porque gostamos que nos identifiquem com padrões alimentares equilibrados! Porque não temos fome!

Uma barrigada de fruta!

Era assim que se dizia, antigamente! Porque a fruta ajudava a matar a fome! Porque se comia fruta às cestadas! Porque se metia fruta nos bolsos, na boina, no avental, para roer pelo caminho. Sempre a comer e a andar! Porque sabia bem!

Falemos de pessegueiros, cerejeiras e abrunheiros bravios. São árvores muito populares na minha aldeia porque dão frutos muito saborosos, em grandes quantidades, embora mais pequenos. Não levam qualquer aplicação de pesticidas nem fertilização química! Ah…é fruta biológica!

Os pessegueiros bravios cheiram ligeiramente a pez e sempre me impressionaram por derramarem bastante seiva em forma de cola, mas que eu nunca consegui diluir para utilizar nos meus trabalhos escolares, quando era miúdo. Florescem cedo! Ficam bonitos na terra negra, acabada de cavar. Depois, dão-nos aqueles ricos pêssegos de roer! E os pêssegos de abrir?! Que odor tão intenso! Alguns têm a pele um tudo-nada peluda. Provocam alguma coceira entre os dedos e um ligeiro ardor nos cantos da boca! Mas o paladar… que rico sabor a pêssego!

E as cerejeiras bravias? Dão cerejas pequenas, rijinhas, com um travo delicioso! Quem não gosta das cerejas do Malha-Pão?

E os abrunheiros bravios!? Dão frutos deliciosos, cor de púrpura, aos milhares, em arrancas derreadas sobre os caminhos! Ingeridos em grande quantidade, provocam, às vezes, diarreia. Nada de grave. Olha lá a grande coisa! Que importância é que isso tem, comparativamente às pessoas que, por não comerem fruta, passam o tempo no médico com problemas de obstipação?
                                     

Escrito por  José Pinto do Blogue  Cabeça Web
Diga lá o que pensa a propósito da fruta da sua terra...e ainda habilta-se a ganhar o livro "Aldeias Históricas de Portugal-Guia Turístico"

19 comentários:

  1. Lendo seu texto sobre as frutas da sua terra, lembrei-me das histórias que meus familiares contavam sobre as frutas das aldeias de Portugal.
    Com que felicidade relembravam as cerejas, as uvas, os pêssegos, as peras, as ameixas, de sabor nunca mais experimentados ! Acho que a maior saudade que sentiam da terra pátria era a saudade das frutas saborosas de sua aldeia.

    Até fiquei com vontade de comer frutas às cestadas...

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  2. Caro amigo José:
    Ai as cereijinhas que eu adoro! É um atentado falar delas e não ter nehuma para comer...enquanto leio os textos da blogagem...
    Fez-me lembrar os tempos de miúda em que subia para as árvores apanhar as deliciosas cerejas. passava horas em cima da árvore, assim que acaba as aulas...

    Abraço Susana

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  3. José: e na sua terra não havia também figos? Ah! os figos!!! Mesmo que rebentasse a boca não importava... E são bons de todas as qualidades: de S. João, pingo-mel... sei lá mais!

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  4. Olá José!
    A evolução é uma coisa curiosa! Supostamente devia ser melhor os aspectos negativos, mas manter os positivos, contudo nem tudo é evolução, alguns aspectos são só mudança! Felizmente, nas Aldeias, estas "evoluções negativas" (sim, porque também há as positivas ou não fosse eu uma mulher de tecnologias!) demora mais tempo a chegar, e ainda se consegue passear na rua enquanto simpaticamente se "rouba" fruta ao vizinho, porque ele também nos "rouba" a nós!
    Contudo cada vez mais se esquece, e até a boa fruta é substituída por frascos pequenos, de fruta já triturada só porque é mais rápido de beber e assim perdemos menos tempo na nossa agitada vida!

    Cumprimentos, Tânia Barreira

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  5. Olá Flora
    Comer frutos directamente da árvore dá um prazer enorme ainda hoje. Normalmente, não ficamos saciados com o primeiro e colhemos logo o segundo e o terceiro, e outro, e mais outro! Compreendo a nostalgia que os seus familiares sentiam dos velhos tempos.
    Grato pelo seu comentário.

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  6. Olá Susana
    Trepar às cerejeiras sem escada, segurar-se e comer, não é para qualquer pessoa. Ah, valente Susana! Também fiz isso bastantes vezes, sobretudo quando era miúdo, ao ponto de, uma vez, ter caído duma cerejeira abaixo, facto que que me ia mandando desta para melhor. Nem assim tive emenda!

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  7. Olá Júlia
    Ora aí está outra fruta de que gosto muito, os figos. Atiro-me principalmente aos lampos, que é como quem diz, os mais temporãos, aquela pequena camada que aparece primeiro, completamente desgarrada dos restantes figos da mesma figueira! Quanto aos pingo-de-mel, nem é bom falar. Nem que rebente a boca!
    Na minha aldeia, também era costume, antigamente, comer os figos com pão. Experimente, que é bom!

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  8. Olá Tânia
    Admito que o ritmo da sociedade urbana contemporânea é incompatível com o estilo da vida rural doutros tempos. A revolução industrial foi só o começo. O cenário que está subjacente ao meu texto é, ainda, o duma agricultura artesanal em extinção, de mera subsistência. O mercado põe hoje à nossa disposição produtos enlatados de muita qualidade, apoiado em técnicas que garantem a manutenção das propriedades originais dos alimentos. Mas se perguntarmos aos lavradores, aos que trabalham a terra nos moldes tradicionais, a grande maioria responde invariavelmente que "não é a mesma coisa". Eles lá terão as suas razões e... também aquela paz que contrasta com o ritmo frenético das nossas cidades.
    Obrigado pelo seu comentário tão assertivo!

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  9. Olá José!
    Trepar arvores sem escadas...nem tanto...mas adorarva fazer isso. Tenho saudades destes tempos. e realmente não há nada como comer fruta produzida pelos pequenos produtores. E se for biológica ainda melhor! Mas já é um grande privilégio que nem todos têm acesso.

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  10. José Pinto,
    Na sua terra comem-se figos com pão. Na minha também, mas com um pormenor a mais: queijo, de preferência de Nisa. Aliás, o que é que no Alentejo não se come com pão? Uvas, melão, melancia... tudo serve de acompanhamento.
    Sabe que no Alentejo os figos são um acompanhamento para as sopas de tomate? É das combinações mais perfeitas que conheço. Se quiser mando-lhe a receita.

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  11. Amiga Júlia:

    Pão com queijo e figo?Sopa com figo? Ai a deitazinha que vai por água abaixo! Nunca experimentei tal coisa, mas nunca é tarde para isso!Também gostava de conhecer essa receita!

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  12. Júlia
    Tal como a amiga Susana, também estou curioso de conhecer a tal receita. Sugiro que a publique na "Colher de Pau", quando tiver oportunidade.

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  13. Olá amigo José Pinto
    Com tantas e saborosas frutas em regime quase selvagem, sem qualquer tipo de tratamento, ou adubos. Isso sim são produtos completamente biológicos. Assim era na minha região antigamente. Não era aplicado qualquer tipo de pesticidas ou insecticidas ás frutas, com excessão das uvas para vinho, que eram sempre sulfatadas ou "enxofradas". Bons velhos tempos.
    E sempre bom recordar.
    Abraço
    Acácio Moreira

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  14. REALMENTE FIGOS SÃO UMA DELICIA.
    AINDA BEM QUE TEM POR AQUI. NA CASA DE MEUS PAIS TEM UMA PÉ GRANDE DE FIGO. UMA DELICIA FAZER CALDA E DOCES.

    VOU TE ESPERAR NA INTERAÇÃO PARA PARTICIPAR.
    http://sandrarandrade7.blogspot.com/

    TAMBÉM ESTOU PARTICIPANDO NA ALDEIA.
    VENHA COMENTE E PARTICIPE.
    CARINHOSAMENTE,
    SANDRA

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  15. Amigo Acácio
    Agradeço-lhe o reparo quanto às uvas. A si não lhe escapa nada e ainda bem! Realmente, as uvas eram uma excepção à regra, pois eram tratadas com sulfato de cobre e também com enxofre. Quanto às árvores de fruto, estamos quites, pelo que me parece. É que, além do mais, os pesticidas eram muito caros e nem havia às vezes dinheiro para mandar tocar um cego, quanto mais para tratar as árvores! Para curar as videiras, lá se iam arranjando umas poupanças. É que a pinguita inspirava a alma e aninava o corpo! Não era assim? Um abraço.

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  16. Também me lembro de quando comecei a ouvir dizer a expressão "uma peça de fruta", foi quando comecei a frequentar os restaurantes, já na intrépida idade da adolescência! Causou-me alguma estranheza, porque a palavra "peça", soava-me melhor quando se referia a um objecto, a uma coisa, ou parte de uma coisa, como as peças de um relógio, por exemplo!
    Mas, tal como diz e bem o José Pinto, naquele tempo não se comiam peças de fruta, antes se comiam barrigadas de fruta.
    Pela parte que me toca tive direito a muitas barrigadas de fruta, e não estarei a mentir, se vos disser, que quase todas elas foram de fruta roubada nos quintais deste e daquele. Talvez por isso, oh, que bem que sabiam! Complicações intestinais devido aos desbragamentos tive algumas, pois tive! Beiços rebentados por causa dos figos, também! Contudo, pelo Verão e praticamente todos os anos, lá naquela casa da minha infância, havia lugar para um facto inolvidável: O meu pai, que era assim um tanto agarradito ao dinheito, perdia a cabeça e o amor ao conteúdo da carteira,e vá de comprar a um desses vendedores que percorrem as localidades numa camioneta, uma saca de serapilheira cheiinha de melões. Abençoada fartura. Há hora da refeição senão me apeteciam os feijões com couves, o menu costumeiro, toca a encetar um melão, cujo tamanho escolhia de acordo com a fome que sentia! Comer sim, estragar é que não, dizia o meu pai.

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  17. Olá Milu
    Os seus comentários trazem sempre uma história da vida real, uma prosa invejável, um sentido de humor refinado e um remate final demolidor. Sabe brincar com a escrita, introduzindo termos arcaicos à linguagem corrente duma forma subtil. Não é para todos. É uma sorte, mas também uma barrigada de riso apanhá-la por aqui!
    Para quando o seu regresso às fileiras?
    Grato pelo comentário.

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  18. José Pinto, muito obrigada pelo seu tão simpático e enaltecedor comentário!

    Mas acerca dos melões da minha infância ainda não contei tudo!...
    Pois assim que o meu pai chegava a casa carregando às costas a saca de serapilheira repleta de melões, nós, os três filhos, logo o rodeávamos em intenso alvoroço, felizes, porque naquele momento o nosso pai era como se fosse ainda mais pai. E, como naquele tempo as casas dos pobres eram sempre acanhadas em espaço, para que os melões não estorvassem a família toca de os acomodar debaixo de uma cama, que sempre calhou ser a cama do meu irmão mais novo, facto que tornava ainda mais especial este acontecimento para mim, na medida em que eu amava aquela cama.Daquela cama guardava ainda na minha memória o doce cheirinho que dela se desprendia quando o meu irmão era bebé. Aquele cheirinho tão peculiar perseguiu-me durante anos e anos e inebriava-me de ternura sempre que dele me assomavam as reminiscências, chego até a pensar que o instinto maternal está presente nas meninas desde a mais tenra idade, porque aquele meu irmão foi para mim muito mais do que isso. Ora, por aqui se poderá depreender quão saborosos me eram aqueles melões. Ainda me recordo de quando me espojava no chão e enfiava a cabeça por baixo da cama, lançava-lhes olho medindo-os à medida da minha gula. Quando o melão seleccionado não estava logo ao alcance, socorria-me do recurso de o empurrar com os outros melões de modo a que ficasse a jeito. Parecia que estava eu a jogar bilhar! Depois lá ficava com a tal barrigada, que neste caso me parecia uma barrigada de água, já que toda eu ficava a chocalhar por dentro que nem um odre!

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  19. É esse falar genuino que admiro na sua escrita:
    Quando o pai chegava a casa com a tal saca de serapilheira..."o nosso pai era ainda mais pai".
    Expressões como: eram casas "acanhadas em espaço", "eu amava aquela cama", "dele me assomavam as reminiscências", "daquela cama guardava o doce cheirinho", "quando me espojava no chão e enfiava a cabeça por baixo da cama", "parecia que estava a jogar bilhar" e "ficava a chocalhar por dentro que nem um odre", transportam cheiros, sons e imagens como num filme a três dimensões.
    É essa facilidade com que projecta as imagens dum quotidiano tão recente das nossas vidas, que lhe invejo.
    Afinal os seus "flagrantes" não terminaram. Pelo menos, ainda tenho a sorte de levar com estes estilhaços!
    Grato por mais este brilhante comentário.

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