Um dia quando media ainda menos de um metro e meio, sentado horas a fio no banco de trás de um velho automóvel creme, no qual percorri meio Portugal com os meus país, enchi um caderno grosso de linhas (daqueles agrafados de capa creme que já não se fazem) cheio de nomes de aldeias por onde íamos passando. Todas elas podiam ser a aldeia da minha, da sua vida.Há bem menos tempo andava pelo meio do Minho com uns amigos e passamos por uma minúscula aldeia de casas de xisto e ruas estreitas por onde disputamos o direito de circular com duas vacas pouco apressadas. O meu amigo, citadino convicto, perguntou-me se imaginava viver num sítio assim...
Sem nada, longe de tudo.
Sorri, e pensei que sim, claro que sim!
Chama-se Pó, a minha aldeia, e fica algures entre Óbidos e o Bombarral. É igual a tantas outras, e nem sequer é minha. Parei por lá uns tempos.Fui hóspede numa de suas casas, acolhido e acarinhado como um primo que volta do estrangeiro por uns tempos de visita. Deixei saudades, amigos e um gato que me caiu no quintal e agora é dono e senhor da casa da minha (ex) vizinha.Sentei-me na esplanada de cadeiras de plástico com marca de refrigerante à porta do café para apanhar os calores do verão. Comprei tomates e cenouras no mercado de sábado de manhã. Tomei café na pastelaria central e comprei pão acabado de fazer à porta do forno pela madrugada. Subi ao monte para ver a aldeia sob a sombra dos novos moinhos eólicos que plantaram no topo.Acordei com neve um dia de inverno, tremi de frio com a humidade que escorria pelas paredes noutro. Escutei aquele silêncio que não há em mais lado nenhum, um silêncio pesado mas agradável, como se o mundo estivesse longe dali e nós estivéssemos a salvo de tudo.Cheirei a terra húmida depois de uma chuvada e percorri todas as manhãs a caminho do trabalho a estrada ladeada pelos brancos da geada nocturna.Corri pelos campos plantados de couves e ladeados de pomares, causando espanto nos meus conterrâneos de enxada na mão e assustando as ovelhas que pastavam. Descansei exausto sob uma árvore ao fim da tarde.
Sim, esta foi a aldeia da minha vida!
A minha aldeia fica no meio de Portugal, e ninguém de fora lá vai de propósito.Chega-se lá por estradas secundárias e é-se surpreendido por um enorme vale muito verde. Soube que ia viver ali logo que o vi primeira vez depois de uma curva que não vinha no mapa que tirara da internet juntamente com o anúncio de casa para alugar.Há uma avenida, umas quantas travessas e muitas ruas das hortas. O transporte oficial é o tractor.
A minha aldeia fica no meio de Portugal, e ninguém de fora lá vai de propósito.Chega-se lá por estradas secundárias e é-se surpreendido por um enorme vale muito verde. Soube que ia viver ali logo que o vi primeira vez depois de uma curva que não vinha no mapa que tirara da internet juntamente com o anúncio de casa para alugar.Há uma avenida, umas quantas travessas e muitas ruas das hortas. O transporte oficial é o tractor.
Um pequeno riacho corre ao fundo do casario, escondido pela vegetação. Apenas quando nos aproximarmos damos conta da sua presença pelo aumentar do burburinho da água saltando. A noite chega e uma humidade fria cobre os campos ainda há pouco verdes.Do cimo do monte um pequeno trilho de terra conquistada à erva a custo de muitos passos serpenteia até às casas aninhadas junto da estrada.Estas,protegidas pela encosta rochosa largam fios brancos que cortam a noite e enchem o ar do inconfundível cheiro a lenha queimando.Lá em baixo em semi-circulo em frente ao braseiro os corpos cansados de uma jorna nos campos aquecem-se por fora com o lume e por dentro com cervejas. Uma mesa redonda de pedra foi o que se salvou do lagar agora tornado café. Contam-se histórias, saltam as cartas entusiasmadas com biscas e pentes. Atrás, na mesa de snooker, chocam as bolas em ferrenhas competições de talentos. Nos dias de jogo a sala transforma-se num enorme estádio e enche-se de sofrimento e alegria em frente do televisor. A noite acaba cedo, pois o dia começa antes do primeiro galo acordar.Ainda antes do sol aparecer no horizonte, já as crianças caminham em carreira em direcção à escola presas à borda da estrada sob o peso das mochilas coloridas. Juro que vi algumas que caminhavam ainda a dormir.Quem diria que as hortaliças não vêm do Continente nem do Pingo Doce, mas de pequenos pedaços de terra como este, espalhados anónimos por Portugal. Do raiar do sol até este desaparecer lentamente por trás do monte de pedra, deixando tudo na sombra, cultiva-se, planta-se, apanha-se e espera-se que o tempo ajude a preservar. Cada colheita é próximo de um milagre. Não admira pois, que todos os Domingos a aldeia inteira corra em romaria para a igreja, orientada pelas badaladas do sino que se fazem ouvir até aos confins do vale e que eram o meu despertador de Domingo.Viver numa aldeia é como ser pequenino de novo.
É bom, inocente e incrivelmente simples. Ainda bem que há sítios que não querem crescer. Pois algo se perde quando as nossas aldeias se tornam vilas e sonham ser cidades.
É bom, inocente e incrivelmente simples. Ainda bem que há sítios que não querem crescer. Pois algo se perde quando as nossas aldeias se tornam vilas e sonham ser cidades.
Escrito por Mr. Santos
Aldeia do Pó/ Leiria
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Aldeia do Pó? eheheh... anda espalhado por todo o lado rssss
ResponderEliminarmas também gostei desta originalidade pela forma como foi descrita... pelo próprio tem mais encanto :)
Parabéns.
Beijinho
belíssimo este modod de dizer
ResponderEliminarparabén!
Parabén Mr. Santos. Não sei como votar para ti :-)) Gostei do texto.
ResponderEliminarEu voto no texto chamado Adeia do Pó da autoria de Mr. Santos com o blog em http://www.largoshorizontes.blogspot.com/
ResponderEliminarNome Maria de Fátima
Blogue Repensando em http://www.intervalos.blogspot.com
e-mail zamzibar@sapo.pt
Porra isto é mais que rebuscado, mas vamos ver se percebi (íoõõõõõõ~, iõõõõõõõõ, iõõõõõõõ!!!):
ResponderEliminarEu voto no texto chamado Aldeia do Pó da autoria de Mr. Santos. Marques Correia, http://pensarnaodoiaiai.blogspot.com
É assim?
E vai mais um: o modo como rematas o texto sobre a "tua" aldeia é muito, muito bem conseguido!
ResponderEliminarViver numa aldeia é como ser pequenino de novo.
É bom, inocente e incrivelmente simples. Ainda bem que há sítios que não querem crescer. Pois algo se perde quando as nossas aldeias se tornam vilas e sonham ser cidades.
Parabéns, meu!
Eu voto no texto chamado Adeia do Pó da autoria de Mr. Santos com o blog em http://www.largoshorizontes.blogspot.com/
ResponderEliminarO meu nome é wind
O meu Blogue é Webclub com o endereço http://wind9.blogspot.com
O meu e-mail é isabelcru@gmail.com
Eu voto no texto chamado Adeia do Pó da autoria de Mr. Santos com o blog em http://www.largoshorizontes.blogspot.com/
ResponderEliminarNome: mac
Blogue: O Resto da Couve em http://orestodacouve.blogspot.com
e-mail: mariac@netcabo.pt
Ora bem... li, gostei e claro que voto no texto Aldeia do Pó , da autoria de Mr. Santos com o blog em http://www.largoshorizontes.blogspot.com/
ResponderEliminarO meu nome é Carlos Gil, e o meu Blogue é o "on the road again", com o endereço http://nova-voz.blogspot.com
Ah! enho de deixar o meu e-mail? aqui vai ele: carlosgil2006@gmail.com
Mr Santos: Parabéns! o teu texto começa a ter muitos admiradores!
ResponderEliminarAgradeço a todos os participantes pelo entusiasmo, comentários e votos deixados!
Quero apenas relembrar que:
Atenção!
Só vou contabilizar os votos deixados nos respectivos espaços de comentário de cada post, se apresentar a seguinte frase:
Eu voto no texto chamado (...) da autoria de (...). assinado (Identificação do votante: Nome e Blogue(com respectivo link) ou e-mail).
Obrigada pela compreensão.
Continuação de boa blogagem!
Susana
Eu voto no texto chamado Adeia do Pó da autoria de Mr. Santos com o blog em http://www.largoshorizontes.blogspot.com/
ResponderEliminarC. Sanches
Eu voto no texto chamado Aldeia do Pó da Autoria de Mr.Santos com o blog em http://wwww.lagoshorizontes.blogspot.com/
ResponderEliminarO meu nome é José Silvestre
O meu blogue é sissi com o endereço http://sisi-quiron.blogspot.com/
O meu e-mail jassilvestre@gmail.com
Eu voto no texto chamado Adeia do Pó da autoria de Mr. Santos com o blog em http://www.largoshorizontes.blogspot.com/
ResponderEliminarO meu nome é Vieira Calado
O meu Blogue é vieiracalado-poesia.blogspot.com
O meu e-mail vieiracalado@gmail.com
"Aldeia do Pó" ...
ResponderEliminarConheço Óbidos, onde passo com relativa frequência e afinal não deve ser difícil fazer um pequeno desvio e descobrir este cantinho tão português.
Um dia, talvez ...
Obviamente felicito Mr Santos pelo excelente texto
Eu voto no texto chamado Aldeia do Pó da Autoria de Mr.Santos com o blog em http://wwww.lagoshorizontes.blogspot.com/
ResponderEliminarO meu nome é vida de vidro
O meu blogue é Vida de vidro com o endereço http://vidadevidro.blogspot.com/
O meu e-mail vidadevidro@gmail.com
Eu voto no texto chamado Aldeia do Pó da autoria de Mr. Santos com o blog em http://www.lagoshorizontes.blogspot.com/
ResponderEliminarO meu nome é Maria
O meu e.mail é ameijeiraspinola@hotmail.com
Eu voto no texto chamado "Aldeia do Pó" da autoria de Mr. Santos.
ResponderEliminarassinado: sotavento, Lagos
e depois vai agradecer pessoalmente a cada um dos votantes, não é Mr. Santos?! é um geston simpático e deve ser para isso que pedem os mails, não é?! :)
ResponderEliminarEu voto no texto "Aldeia do Pó", da autoria de Mr.Santos com o blog
ResponderEliminarhttp://de-olhar.blogspot.com/
Mena G
mail:filomenarodrigues.m@gmail.com
Fiquei sem palavras. A poesia deste texto emocionou-me, a capacidade descritiva convenceu-me.
ResponderEliminarA escolha foi difícil mas...
Eu voto no texto "Aldeia do Pó", da autoria de Mr.Santos
com o blog oculosdomundo.blogspot.com
Teresa Diniz
mail: mteresadf@hotmail.com